domingo, 21 de fevereiro de 2010

Sim, eu posso

Para ensinar pescadores a ler e escrever, o governo brasileiro decidiu adotar uma iniciativa de combate ao alfabetismo utilizada por Cuba. Criado no final da década de 1990, o programa cubano Sim, eu posso (ou Yo, sí puedo), promete alfabetizar uma pessoa com 65 aulas em vídeo que nas regiões brasileiras são adequadas ao tempo disponível dos alunos. As aulas acontecem no período de defeso, em que a pesca é proibida e que dura em média três meses. Depois, seguem com os Círculos de Cultura, com objetivo de consolidar o aprendizado. Para implantar o método, já utilizado pelo MST (Movimento dos Trabalhadores Sem Terra), técnicos cubanos foram enviados aos cinco Estados onde o projeto está sendo implementado - Santa Catarina, Bahia, Mato Grosso, Pará e Rio - com o nome de Pescando Letras, pelo Ministério da Pesca e Aquicultura. Em 2005, uma versão piloto do projeto foi realizada no Piauí pelo Ministério da Educação.
A saída do aluno do estágio mais primário do analfabetismo é importante e pode levá-lo a leitura, escrita e interpretação de textos se continuado o processo de alfabetização.
Moacir Gadotti, professor da Faculdade de Educação da USP e diretor do Instituto Paulo Freire, defende que as políticas de combate ao analfabetismo devem ser articuladas no marco da aprendizagem ao longo de toda a vida. Sem políticas estruturantes de longo prazo, intersetoriais e integrais, não conseguiremos eliminar o analfabetismo. Além disso, destaca, o método cubano se utiliza de cartilhas e é marcadamente instrucionista.
O professor da FEUSP considera que como um instrumento inicial de promoção da alfabetização, ele pode ter efeitos positivos. Contudo, sem uma continuidade, esse método, a médio prazo, perde a eficácia inicial. As campanhas gerais tendem a desconsiderar os diferentes contextos regionais e a diversidade cultural dos aprendizes. A utilização de novas tecnologias não deve quebrar a relação pedagógica. E completa: nada substitui o alfabetizador!
Gadotti lembra ainda que a alfabetização é multifacetada. Existem várias alfabetizações: digital, cívica, ecológica, política... O combate ao analfabetismo não se reduz à política de escolha de um método. A educação de adultos, a começar pela alfabetização, é um direito que deve ser garantido a todos e com qualidade.
[Foto: Ruivo Lopes | Salvador (BA), janeiro de 2010]

domingo, 7 de fevereiro de 2010

São Paulo de Kassab e Serra: alagada e mais cara

O prefeito de São Paulo Gilberto Kassab (DEM) não brinca em serviço, muito menos nos negócios. Super inflacionou a tarifa do ônibus na cidade que passou dos injustificáveis R$ 2,30 para os abusivos R$ 2,70, sem choro nem vela! Contrários ao aumento, manifestantes concentrados na porta da Prefeitura, na última quinta-feira (4), distribuíram panfletos denunciando o reajuste: o aumento abusivo da tarifa garante apenas os lucros dos empresários dos transportes, ferindo o bolso do trabalhador. Como se não bastasse o aumento da tarifa, aqui se paga para ficar parado horas nos ônibus, assistindo o triste espetáculo das águas subirem. Até agora o governador do Estado José Serra (PSDB) não explicou por que fechar as comportas de água da Zona Leste da cidade para preservar as obras das marginais é mais importante do que atender as famílias que ainda estão nas áreas alagadas por causa da medida. Em ano eleitoral a palavra de ordem dos mandatários paulistas é somar: os empresários dos transportes, das empreiteiras e das construtoras, ávidos para investir em campanhas rentáveis.
Os manifestantes prometem voltar a protestar na porta da Prefeitura contra o aumento da tarifa e o descaso com as famílias nas áreas alagadas nos dias 11 e 25 de fevereiro, quintas-feiras. Concentração às 16h30 no Teatro Municipal (Praça Ramos). Saída em passeata para a Prefeitura de São Paulo às 17h30. Mais informações: www.barraroaumento.org