quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Monteiro Lobato para além do seu tempo

O livro de Monteiro Lobato "Caçadas de Pedrinho", foi publicado em 1933, e teve origem em "A caçada da onça", de 1924. Portanto, poucas décadas após a abolição da escravatura, que aconteceu sem que houvesse qualquer ação que reabilitasse a figura do negro, que durante séculos havia sido rebaixada para que se justificasse moralmente a escravidão, e sem um processo que incorporasse os novos libertos ao tecido da sociedade brasileira. Os ex-escravos continuaram relegados à condição de cidadãos de segunda classe e o preconceito era aceito com total normalidade. Eles representavam o cisco incômodo grudado à retina, o "corpo imperfeito" dentro de uma sociedade que, a todo custo, buscava maneiras de encobri-lo, desbotá-lo ou eliminá-lo, contando com a colaboração de médicos, políticos, religiosos e outros homens influentes daquela ápoca. Monteiro Lobato não era imune a isso. Leia o artigo completo de Ana Maria Gonçalves aqui.

Agende-se e participe

25, 26 e 27/11, das 9h às 21h - A já tradiconal Festa do Livro da USP, em sua 11º edicação, será realizada no saguão do prédio da Geografia e História (Av. Prof. Lineu Prestes, 338, Cidade Universitária, SP). Todos os livros vendidos durante o evento terão desconto mínimo de 50% em relação ao preço de capa. Participarão cerca de 130 expositores que vão apresentar ao público um volume em torno de 15.000 títulos de seus catálogos, a maioria deles composta de novidades ou obras que foram publicadas recentemente. Por isso, vá com sua lista pronta e prepare seu bolso!

28/11, a partir das 13h - O Bazar de Discos de São Paulo é um ótima opção para quem quer comprar, vender e trocar discos de vinil antigos de todos os gêneros. O bazar é itinerante e ocorre no último domingo de cada mês sempre em espaços diferentes. Comemorando a décima edição, a organização convidou os músicos Marcos Gerez e Cleber Dantas para uma apresentação especial. O Bazar acontecerá no Tapas Bar (R. Augusta, 1.246, Consolação). O Big Papa Records manda avisar: não ande, corre e garanta o seu biscoito fino!

29/11 a 05/12 - 3ª Mostra Cultural da Cooperifa. Dança, literatura, recreação, cinema, música e distribuição de livros infantis fazem parte da programação, que acontecerá em várias escolas públicas na região do Jardim São Luiz, Parque Santo Antônio, Jardim Guarujá, Jardim Vaz de Lima e Jardim Ângela. A Mostra comemorará os 9 anos de atividade da Cooperifa. É só colar! A programaçõ completa está aqui.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Crass: "Dissemos tudo naquele contexto"

A pretenciosa e corportamental Revista Vice, aquela mesma que pode ser encontrada em balcões de bares da Rua Augusta, em São Paulo, dedicou sua edição #7 (agosto de 2010) ao que os responsáveis pela revista classificam como sendo Antimúsica. O editor convidado desta edição foi ninguém menos que Sam McPheeters, que nos anos de 1990 foi vocalista da banda de hardcore norte-americana Born Against a qual lançou alguns discos pela Vermiform Records, pertencente a Sam. A edição não teria a mesma importância se não fosse pelas 14 páginas da entrevista com os ingleses Penny Rimbaud (acima) e Steve Ignorant (abaixo), membros formadores de uma das bandas punk mais politizada, criativa e ao mesmo tempo controversa desde o final dos anos de 1970: Crass! O tema que motivou a entrevista feita por Andy Capper é pequeno assim como a chamada descabida na introdução da entrevista. Ao leitor é importante compreender a banda no contexto que a originou. Abaixo, trechos que selecionei da entrevista.

Por que a banda acabou?
Penny Rimbaud Sempre achamos que 1984 era essa coisa mítica, orwelliana. E acho que a banda acabou porque eu estava me interessando por coisas além do punk. Os nossos interesses estavam se ampliando, e foi também depois que fizemos aquele último show em Aberdare, que foi tão decepcionante e triste, resultado da Inglaterra perversa da Tatcher. E acho que todos nós sentíamos que ficar pulando no palco e gritando “No more war!” era uma piada frente à pobreza e ao desespero que vimos aquela noite.

O que aconteceu?
PR Era um show beneficente para os mineradores demitidos de Aberdare. Fomos com a van, como sempre, lotada de latas de comida, porque as pessoas estavam literalmente morrendo de fome naqueles vilarejos. Como sempre, naqueles vales estava chovendo, e tudo tinha um aspecto muito triste, uma sensação de destruição e desespero. Muitos homens não sabiam mais o que fariam da vida. Muitos nem sabiam o que tinha acontecido. Era horrível. E o show foi ótimo e todo mundo gostou, mas mesmo assim foi muito triste. Na manhã seguinte o Andy me disse, “Estou saindo da banda, Pen”, e eu não reagi porque pensei, “Beleza, eu entendo perfeitamente”. De certa forma ele deu início ao que acho que teria acontecido de qualquer jeito. Era 1984 e nós tínhamos combinado que terminaríamos naquele ano, e foi por isso que os números do nosso catálogo eram uma contagem regressiva. Dissemos tudo que tinha para ser dito naquele contexto. O fato de que isso ainda seja pertinente hoje é sinal de que nada mudou. Não se pode dizer mais do que falamos, sério, com exceção talvez de tentar oferecer algumas respostas. Mas, sabe, ainda estou procurando pelas respostas. E certamente não são do tipo que podem ser encontradas no contexto do punk rock. Acho que, no contexto do punk rock, fizemos tudo que podíamos ter feito.
Steve Ignorant Estávamos fazendo aquilo desde 1977. Todos aqueles anos, sem intervalo. Morávamos na Dial House, as portas estavam sempre abertas, e no palco éramos as mesmas pessoas que éramos no dia a dia. Não dava pra tirar uma semana de férias depois de uma turnê. Tomávamos conta de tudo pessoalmente e ainda tocávamos o outro selo, Corpus Christi. O Pen estava sempre no estúdio, eu estava gravando vocais no Conflict ou alguma coisa do tipo e compondo músicas para outras pessoas. Não era como um emprego, das 9 às 5 da tarde. Não acabava nunca. Quando a Margaret Tatcher assumiu, tudo ficou mais intenso. Sem fim. Imagens terríveis, tempos horríveis, tendo que lidar com coisas como a guerra das Malvinas, a greve dos mineradores, o desemprego. Foram tempos horríveis. Tinha muita violência nos shows, eu só me vestia de preto. Fiquei de saco cheio. Se eu saía pra beber sentia sempre uma responsabilidade implícita, de que, se ficasse bêbado, ninguém podia perceber. Se eu caísse na sarjeta, não era só eu caindo na sarjeta, era o Crass. Então tinha essa responsabilidade de não foder com tudo.
O que te fez mudar de ideia? [Com o fim do Crass, alguns de seus membros partiram para trabalhos autorais ou revisitaram as músicas da banda. Steve Ignorant apresentou ao vivo o disco Feeding Of The 5000. No início, Penny Rimbaud ficou contrariado]
PR A Eve Libertine me disse, “Você deixaria qualquer outra pessoa fazer isso, então por que não o Steve?”. E era verdade. Qualquer outra pessoa poderia tocar as músicas, mas não o Steve, e isso realmente soava injusto. Então eu liguei pra ele e disse, “Olha, desculpe, Steve. Faça o que você quiser, só não posso oferecer o meu apoio, e se me perguntarem, vou dizer que sou contra. Boa sorte. Divirta-se”. Ele ficou muito agradecido por isso, e sempre foi assim com o Steve, sempre com honestidade. Ele acha que sou maluco e que faço coisas bizarras, completamente incompreensíveis, e eu acho que as coisas dele são um pouco pueris e fúteis, mas são ótimas. Eu também me culpo. Eu era um homem de 35 anos de idade quando um garoto de 17 anos apareceu querendo formar uma banda, e a banda que eu e ele formamos juntos negou a ele tudo que ele deveria ter tido. Ele devia ter comido as groupies, cheirado pó e se divertido. Ele nunca se divertiu: nunca teve adolescência. O nosso esquema linha-dura não permitia. Hoje eu percebo isso, mas não percebia na época. Achei que estivéssemos nos divertindo, mas, meu Deus, que tipo de diversão era aquela? Quer dizer, acho que eu me divertia mais com aquilo porque a minha diversão sempre foi mais cerebral e intelectual, então para mim alguns dos conflitos que criamos com o Estado e esse tipo de coisa era diversão. Mas o Steve queria se divertir de verdade, e hoje eu entendo. E também não acredito que não deem valor ao trabalho dele. Acho que o cara era brilhante, estava entre os melhores do punk.

Quando o Crass acabou e os discos continuaram sendo vendidos, o logo virou uma marca, não virou? As pessoas começaram a piratear. O que você achou disso?
PR Acho que isso prova a força do design, em primeiro lugar. Apesar dos pastiches e das outras bandas tentando fazer coisas parecidas, ninguém conseguiu fazer um logo tão poderoso. Acho que foi por isso que a Naomi Klein falou dele. Fomos o primeiro caso de sucesso com logo. Fomos sim, você sabe disso. Era um design fenomenal. Foi o Dave King que criou o logo. Ele é um puta gênio. Ele fez isso enquanto ainda estudava arte com a Gee e comigo. Quer dizer, ele era absolutamente brilhante nesse domínio. As pessoas perderam a noção do que seja design, mesmo, ainda mais na era digital. Levou meses e meses até que ele chegasse àquele desenho. Na verdade, não foi feito para o Crass, mas para o livro Reality Asylum. Era a arte da capa. E representava a destruição do Estado, da família e da Igreja. Já estive em muitos lugares no mundo inteiro e sempre cruzei com o logo. É legal. Talvez algumas pessoas tenham a curiosidade de saber o que aquilo significa e se envolver com o significado. Acho isso bom. A transformação em mercadoria que me incomoda. Nunca gostei e nunca gosto quando as grandes marcas de moda de Nova York roubam trabalhos da Gee, fazem uma colagem e transformam em estampas de vestidos. Não me incomodei quando o Wal-Mart nos pirateou. Prefiro que as pessoas comprem camisetas do Crass no Wal-Mart do que camisetas da Coca-Cola porque prefiro que elas andem por aí com alguma coisa que tenha algum significado. Acho que sou meio ambíguo com isso. Não quero nada com o Wal-Mart, mas, sabe, por outro lado, é demais! Coloca na rua!
Por que vocês resolveram incluir arte nova e fotos antigas da banda?
PR Pensamos que, em primeiro lugar, tinha muita gente conhecendo a banda que não conhecia nossa história, e nem o que estava acontecendo na sociedade da época. Então decidi assumir a tarefa de escrever um ensaio para cada lançamento. Achamos que seria bom incluir fotos, pela primeira vez, porque as pessoas não têm mais a oportunidade de ir aos nossos shows, e portanto não sabem como somos, e tínhamos fotos muitas boas da banda, então resolvemos incluí-las. A Gee adaptou parte da arte original do Crass e acrescentou imagens novas onde achou que cabia. Eu sugeri o nome meio de mau gosto The Crassical Collection e queria que tivesse um ar de música clássica porque pensei: “Somos clássicos agora, não somos mais um bando de garotos zoando com um mimeógrafo, estamos fazendo de um jeito classudo, pra valer”. É necessário um senso estético peculiar para gostar das coisas antigas do Crass. Tem o seu charme, mas só isso... é irrelevante. Queria que tivesse uma aparência bacana, que fizesse as pessoas dizer, “Porra, que design é muito bom!”. A Gee é capaz de fazer isso, e fez, preservando os elementos originais, mas acrescentando elementos novos impactantes. Parece que o que ela fez com a arte foi exatamente o que fiz com o som. Fomos capazes de pegar algo que parecia ter saído de uma porra de um museu e fazê-lo parecer moderno. Algo como Yes Sir, I Will soa como se pudesse ter sido gravado no ano que vem, de tão poderoso.

A entrevista completa recheada de fotos de arquivo de Penny Rimbaud e Gee Vaucher, também membro formadora do Crass e responsável pela identidade visual da banda, pode ser lida aqui.

Acesse e conheça

A Editora Faísca, que agora também é uma Cooperativa formada por militantes dos movimentos sociais e que se organiza de forma horizontal, acaba de inaugurar sua loja virtual e com promoções imperdíveis. A Cooperativa assegura não vender apenas livros, mas sobretudo distribuir idéias! Por isso, ao comprar da Cooperativa, você também está apoiando uma experiência de economia solidária e autogestão! Veja os títulos disponíveis aqui.

Já está em funcionamento mais um blog no portal Anarcopunk.org. O blog Mumia Livre Já! surgiu da necessidade de divulgar e ampliar as discussões e apoio em torno do caso do preso político afro-americano Mumia Abu-Jamal e é ainda uma extensão da Jornada que ocorrerá em dezembro em São Paulo em solidariedade a ele. Para ler mais sobre o caso, ver a programação das Jornadas clique aqui.

Agende-se e participe

18, 19 e 20/11, a partir das 9h - A Fundação Tide Setubal realizará pelo quinto ano consecutivo o Festival do Livro e da Literatura de São Miguel Paulista. Milhares de pessoas participaram das edições anteriores. A novidade, em 2010, é que o Festival não se restringirá à sede Fundação, mas também estará nas ruas, praças, paradas de ônibus, biblioteca, mercado municipal e estação de trem do bairro. Serão os Corredores de Livros, conceito inspirado nos corredores de ônibus que seguem itinerários mais livres para se livrar do tormento dos engarrafamentos urbanos. Acontecerão, em diferentes locais, intervenções artísticas, contação de histórias, conversa com o autor, workshop e lançamento de livros, oficinas de criação literária, intervenções teatrais, recitais poéticos, apresentações de dança, ônibus biblioteca, sarau literário, feira de livros, doação e troca de livros, exposições e exibição de curtas/filmes, ônibus Itinerante para escolas da rede pública, entre outras atrações. Os livros doados serão distribuídos, gratuitamente, na feira de troca de exemplares do CDC. Para convidar os moradores à leitura, exemplares também serão pendurados em árvores. Confira a programação completa aqui.

19/11, 21h - O Memorial da América Latina, Auditório Simón Bolívar (Av. Auro Soares de Moura Andrade, 664, Barra Funda, São Paulo) recebe o compositor, intérprete e guitarrista Hyldon para comemorar os 35 anos do seu primeiro álbum “Na rua, na Chuva, na Fazenda”, acompanhado da banda Brasil Samba Soul e com a participação especial do “guitarreiro” Luis Vagner e do MC Du Bronk’s (Racionais MC’s). A apresentação integra a programação pelo Dia da Consciência Negra. A entrada, como não poderia dexar de ser, é gratuita!

20/11, a partir das 11h - A Casa das Rosas - Espaço Haroldo de Campos de Poesia e Literatura, está com uma programação imperdível no Dia da Consciência Negra. Dança Afro, Canto Lírico de Orixás, Palestra e apresentação da sambista da cidade de São Francisco do Conde (BA) Ducineia Cardoso, a Nega Duda, e seus sambas do Recôncavo Baiano. Veja a programação completa e os horários aqui.

20/11, a partir das 14h30 - O Museu da Casa Brasileira abrirá suas portas para um evento especial pelo Dia da Consciência Negra. Na programação exposição da herança africana na casa brasileira, documentário sobre o panorama musical de Burkina Faso, apresentação musical de Carlinhos Antunes, Orquestra Munda e participação da cantora Fanta Konatê e do grupo Djembedon e seus ritmos e molodias africanas. Mais informações aqui.

20 e 21/11, a partir das 13h - O Museu Afro Brasil sediará o Encontro dos Maracatus de Baque Virado de São Paulo com diversas apresentações e debates. Estão confirmadas as presenças dos grupos Cangarussu, Rochedo de Ouro, Bloco de Pedra, Ilê Alafia, Baque Sinhá, Mucambos de Raiz Nagô, Baque do Vale, Arrastão do Beco e Caracaxá. O evento faz parte do Dia da Consciência Negra. Na ocasião, será relançado o Livro “A Mão Afro Brasileira – Significado da Contribuição Artística e Histórica” organizado pelo artista plástico Emanoel Araújo, com edição da Imprensa Oficial. Maiores informações aqui.

20 e 21/11, a partir das 8h - A 1ª Mostra Urbana de Cultura será realizada no bairro União de Vila Nova, em São Miguel Paulista, Zona Leste da capital. A Mostra conta com uma intervenção principal, que é a ação de grafitagem em 2.500 metros de muro da CPTM-Companhia Paulista de Trens Metropolitanos, que atravessa a comunidade de União de Vila Nova. Intervenções artísticas e culturais como o Hip Hop, Skate, Artes Circenses, além de atividades de Ação Educativa também estão contempladas na Mostra. Veja a programação completa aqui.

21/11, às 12h – O SESC Ipiranga seguindo com a programação dos shows Africanidades Brasileiras apresenta Fanta Konatê e Troupe Djembedon.

23/11, às 13h e 19h30 – O Centro Cultural Banco do Brasil receberá em duas sessões o músico Jards Macalé e a banda carioca Brasov para juntos interpretarem canções de Noel Rosa.

24/11, a partir das 10h - O Centro de Referência do Auditório do Ibirapuera abrirá suas portas para o UnConvention São Paulo, evento sobre tendências musicais contemporâneas. O painel de encerramento do evento, intitulado “Punk Rock e Música Alternativa 1977-2011”, terá como expositores nada mais nada menos que Pete Shelley (Buzzcocks), Viv Albertine (The Slits) e Redson (Cólera). Para participar inscreva-se aqui.