quinta-feira, 29 de novembro de 2012

A cor dos homicídios no Brasil

 

As taxas de homicídios no Brasil são elevadas e inaceitáveis. Quando os homicídios deixam de ser apenas números e viram representações sociais reais, podemos ter uma visão mais detalhada do problema. Racismo e pobreza - e suas consequências - fazem parte deste universo. Quando o que está em jogo é a vida, buscar soluções é mais que necessário.
 
O estudo Mapa da Violência - A cor dos homicídios (clique) lançado na quinta-feira (29) pela Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir) da Presidência da República, revela que os homicídios no Brasil atingem de forma crescente a população negra.
 
Entre os anos de 2002 e 2010, houve queda do número de homicídios na população branca, mas aumento nos números da população negra, com o assassinato de 272.422 cidadãos negros no país - uma média de 30.269 assassinatos ao ano. Só em 2010, foram 34.983.

 
As mortes de negros tiveram aumento de 29,8%. Já o número de homicídios de brancos caiu de 18.867 em 2002 para 14.047 em 2010, o que representa uma queda de 25,5% nesses oito anos.

A taxa de homicídios de brancos também caiu, de 20,6 para 15,5 homicídios por cada 100 mil habitantes (queda de 24,8%), enquanto a de negros cresceu de 34,1 para 36 (aumento de 5,6%).
 
O estudo destaca que mesmo "com fortes oscilações de um ano para outro, a tendência geral desde 2002 é: queda do número absoluto de homicídios na população branca e de aumento nos números da população negra. E essa tendência se observa tanto no conjunto da população quanto na população jovem", alerta.

O estudo também mede a taxa de vitimização dos negros, ou seja, se existem mais vítimas negras do que brancas. Os números mostram que esse índice aumentou de 65,4 e chega a 132,3 em 2010. Isso significa que, naquele ano, para cada branco vítima de homicídio proporcionalmente morreram 2,3 negros pelo mesmo motivo.
 
Os municípios com maior número absoluto de homicídios de negros são Salvador, Rio de Janeiro, Recife, Manaus, Maceió, São Paulo e Brasília.

O estudo diz também que a maior parte das mortes ocorre na faixa etária entre 20 e 21 anos, mas, entre os negros, aumentou 46 vezes na faixa entre os 12 e 21 anos, entre 2002 e 2010. Nessa mesma faixa etária, a morte de brancos aumentou 29 vezes no mesmo período.
 
“Os níveis atuais de vitimização negra já são intoleráveis, mas se nada for feito de forma imediata e drástica, a vitimização negra no país poderá chegar a patamares inadmissíveis pela humanidade”, conclui o estudo.
 
Seria importante se o estudo, ou um estudo a partir deste, revelasse também a relação dos homicídios que atingem de forma crescente a população negra com as causas estruturais das desigualdades raciais e sociais no Brasil. Assim, além de revelar números alarmantes, ficaria evidente também as responsabilidades e de quem a sociedade brasileira deve exigir soluções urgentes!

domingo, 25 de novembro de 2012

Religião não pode rimar com discriminação



Aderir a alguma religião é um direito individual garantido pela liberdade religiosa. Não sofrer nenhum tipo de discriminação, inclusive por valores religiosos, é um direito inviolável e coletivo o qual devemos preservar em qualquer lugar


Nunca fui ligado a nenhuma religião. Quando criança, fui matriculado num desses cursos de catecismo oferecido pela igreja católica do bairro em que eu morava, na Vila Mathias, na cidade de Santos, no litoral de São Paulo.


Eu já conhecia bem o interior daquela igreja. Umas das brincadeiras da qual eu participava era disputar com os amigos quem apagava mais vela acesa no local. A igreja dava uma velinha para quem não podia trazer a sua para acender. E tinha também um filtro de barro com água benta para quem quisesse beber. Pura caridade. E tinha mais. Difícil mesmo era pegar alguma nota da caixa de doação dos fiéis. Tinha que ser ligeiro. A mão pequena passava pela brecha, mas a caixa tinha um fundo bem maior e só perto do Natal ela ficava um pouco mais cheia e dava para alcançar alguma nota que ficava boiando ali por cima. Quando isso acontecia, o doce estava garantido. Moeda nem pensar, elas eram mais pesadas e ficavam no fundo da caixa quando não ajudavam a empurrar ainda mais as notas para baixo.


O bairro Vila Mathias era um famoso aglomerado de cortiços da cidade. Eram até 10 famílias morando em antigos casarões explorados por intermediários dos proprietários que cobravam aluguéis por cada cômodo habitado. Tinha confusão quase todos os dias, por qualquer coisa. A wez de usar o banheiro, usar o tanque para lavar louça e roupa, usar o varal, o quintal, o corredor, limpar os espaços comum aos moradores, abrir ou fechar a porta, intrigas, fofocas, separar as brigas das crianças, dos adultos. Vire e mexe a polícia baixava num e o caldo entornava. Saia todo mundo para ver o que estava acontecendo. Uma gritasia só e lá se ia resolver tudo na delegacia.


Naquela época- era um sacrifício deixar passar uma tarde de sábado na rua para ficar numa antiga sala sem graça no fundo da igreja onde aconteciam as aulas de catecismo. Sacrifício compensado só pela paixão que eu nutria pela professora. Eu uma pobre criança branca e ela uma jovem negra que ia toda arrumada para ministrar a aula de catecismo e depois caia no baile que acontecia num dos clubes da cidade. Ela mesma avisava. Nunca fui bom de dança, mas sempre tive muita curiosidade para entrar nesses clubes para ver como é que era. Do lado de fora eu ouvia o som batendo nos falantes e ficava imaginando outro mundo lá dentro. Não deu. Quando tive idade permitida para entrar, a música que tocava - a minha e a dos clubes - eram outras. Os clubes fecharam, não fui mais as aulas e nunca mais vi a professora de catecismo. Lembro-me dela, mas não das aulas. Nunca mais quis saber de catecismo ou qualquer coisa parecida.


Eu não ligava para religião alguma, me preocupava mesmo era a discriminação que corria solta. Tudo que uma criança não!quer é ser discriminada, muito menos na escola. Pode ser o fim para ela. Lembro de ter ouvido a expressão “macaco branco” usada por alguns adultos e reproduzidas por algumas crianças. Na época, eu sabia que era uma provocação, mas não entedia o seu peso discriminatório. E se podia eu partia para cima de quem a dissesse ou devolvia um!palavrão. “Macaco branco” era uma expressão discriminatória racista para apontas as crianças pobres brancas que moravam nos cortiços. Os mesmos adultos e crianças usavam também a expressão racista “macaco” para apontar crianças negras que também moravam ou não nos cortiços.


No bairro que eu morava não me lembro da presença de nenhuma igreja evangélica, pelo menos não como é hoje nos bairros. Mas lembro de algumas mães sempre de saia e cabelos bem compridos e alguns homens com a bíblia velha de capa preta na mão, lembrando muito os ewangélicos que vejo hoje. Eram conhecidos no bairro os centros espíritas, principalmente por seus programas assistenciais. Perto da casa que eu morava tinha centros de umbanda e candomblé. Estes faziam a alegria da criançada da rua porque sempre saíamos de lá com doces nas mãos. Nenhuma mãe nunca reclamou de ver seus filhos com balas, pipocas e pirulitos. Pelo contrário. Também não reclamavam porque ficávamos até tarde na rua indo de praça em praça a procura de doces oferecidos a Cosme e Damião. Também não me lembro de ninguém ter sido impedido de distribuir doces na rua ou qualquer problema parecido.  Tinha também as casas das velhas benzedeiras, às vezes esperava horas por um passe ou preparo de uma garrafada. Enfim, se havia problemas de crenças religiosas, estes problemas eram dos adultos, e não das crianças. Embora a responsabilidade dos adultos sempre influenciasse as crianças. Problema meu é que não era certamente!
 
Os tempos mudaram – e continuam mudando, inevitavelmente. Os problemas das crianças são cada vez mais parecidos com os problemas dos adultos. Um deles é a discriminação baseada em valores professados por crenças religiosas com hegemonia no país. A história já está cheia de capítulos que contam tristes conseqüências para povos inteiros por conta de questionáveis valores religiosos universais. O Brasil certamente contribuiu com alguns destes capítulos. Aderir a alguma religião é um direito individual garantido pela liberdade religiosa. Agora, não sofrer nenhum tipo de discriminação, inclusive por valores religiosos, é um direito inviolável e coletivo o qual devemos preservar em qualquer lugar. Assim, faremos um bem à comunidade e principalmente às crianças que poderão crescer sem levar consigo as marcas perversas da discriminação. 

terça-feira, 20 de novembro de 2012

Marcha da Consciência Negra: cotas sim, genocídio não!

 
A Marcha da Consciência Negra chega a sua 9ª edição em 2012. Além de render homenagem a Zumbi dos Palmares, a Marcha leva todo ano para as ruas de São Paulo temas de caráter reivindicatório. Neste ano não poderia ser diferente, o tema é Cotas Sim, Genocídio Não! Por um lado, existe a exigência de maior participação da população afro-descendente em todas as esferas que compõe a sociedade brasileira, com ênfase no acesso ao ensino superior e com o objetivo de reduzir desigualdades históricas herdadas do sistema escravagista e da permanência do racismo no país.  Por outro, diante das chacinas e execuções sumárias diárias que vitimizam na sua maioria jovens, negros e pobres, a Marcha vai pras ruas pedir também o fim deste genocídio.
 
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domingo, 11 de novembro de 2012

São Paulo: pinga-fogo


Conta...
O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), disse na manhã da última quinta-feira, 8, que o momento violento pelo qual o Estado passa está  perto de acabar. "As mortes já estão em processo de queda. Eu tenho feito um acompanhamento diário, elas já estão caindo, estão acontecendo em um ritmo bem menor", respondeu sobre as mortes que continuam acontecendo na capital.
 
... outra
Somente entre sexta-feira, 9, e sábado, 10, foram registradas 15 mortes em apenas 17 horas!
 
Será...
O governador anunciou que vai dobrar a indenização para os familiares de policiais mortos. Para cada policial civil, militar ou agente penitenciário será pago R$ 200 mil. "E não será apenas para o policial no seu trabalho, e sim na sua condição de policial. Aquele caso em que a pessoa estava de folga, mas o óbito foi decorrente da condição policial, o seguro vai cobrir", disse.
 
... que o seguro vai cobrir?
Por enquanto, nenhuma palavra oficial sobre qualquer indenização ou assistência para as famílias de civis assassinados por policiais.
 
1 + 1...
Jornalistas da imprensa dominante em São Paulo abriram mão da investigação e detalhes das ocorrências de assassinatos, como a biografia das vítimas,  e passaram a contar os corpos e compor gráficos num jogo matemático desequilibrado e perverso.
 
Lavando as mãos
Paraisópolis foi vitrine da campanha do candidato José Serra na última eleição para a Prefeitura de São Paulo. Durante a campanha, Serra mostrava Paraisópolis como modelo de urbanização na cidade. Serra perdeu a eleição. Logo em seguida, a Secretaria de Segurança Pública deu início a Operação Saturação que contou com a participação de mais de 600 policiais para cercar Paraisópolis por tempo indeterminado.
 
Pacto...
Mas é o jornalista Bob Fernandes que cutuca a ferida. Diz ele que por trás da guerra nas ruas de São Paulo teriam sido rompidos "códigos de conduta" entre PM e PCC.

... de sangue
Segue o jornalista: "Há quem negue a existência de tais códigos, mas eles existem: a polícia tem seus códigos não escritos e os criminosos também têm. E ambos têm um código em comum. Pela quantidade de mortos, é evidente que algum tipo de código, ou de acordo - ou de acordos - foi rompido", opina.
 
Enquanto isso...
Nas periferias de São Paulo, fala-se cada vez mais da imposição do toque de recolher que obriga moradores a não saírem nas ruas a partir de determinados horários, fechar o comércio, suspender aulas e limitar a circulação de ônibus. O secretário de segurança nega, mas é um comerciante quem diz: "Não vou esperar para ver".

sábado, 3 de novembro de 2012

3ª FEIRA ANARQUISTA DE SÃO PAULO

 
A Biblioteca Terra Livre e o Ativismo ABC organizam a 3ª Feira Anarquista de São Paulo, dando continuidade as feiras anarquistas que vem ocorrendo em várias cidades do mundo.
Acontecerá, como na 2ª Feira Anarquista de São Paulo, uma mostra editorial e venda de livros, jornais, revistas, fanzines e outros materiais libertários. A Feira de São Paulo pretende reunir as editoras libertárias do país e do exterior.
Paralelamente à mostra editorial haverá palestras e debates, assim como diversas atividades culturais, como exposições, poesias, apresentações teatrais, musicais e outras atividades.
 
Data: Domingo04 de novembro de 2012
Horário: das 10h às 20h
Local: Auditório Paulinho Nogueira no Parque da Água Branca
Próximo ao metro Barra Funda.
Entrada Gratuita.
 
Programação:
 
10h – Leitura Dramática: Os Parasitas (Neno Vasco) com participação do Coral Filhos do Povo
10h30 - Debate: Editoras Anarquistas
11h – Palestra: Atualidade Teórica do Anarquismo na América Latina (Federação Libertária Argentina / Argentina)
12h - Oficina de Stencil com Coletivo Artficina
13h - Ateneo Heber Nieto, Taller Anarquista e Revista Alter (Montevidéu/ Uruguai)
14h – Sarau: Sangue, Suor e Poesia Libertária
14h - Palestra: Movimento Anarquista no Chile: história e atualidade (Grupo de Estudios José Domingo Gómez Rojas / Chile)
15h - Debate: Anarquismo e Feminismo
16h – Lançamento de Livros
16h30 - 100 anos da Escola Moderna de São Paulo (Biblioteca Terra Livre)
17h – Show: Tuna (acústico)
18h – Palestra: A Experiência de Organização da Federação Anarquista Francófona (Federation Anarchiste / França)
 
Ao longo do dia ocorrerão diversas atividades:
 
Exposições
Cartazes da III Feira Anarquista de São Paulo
Manifestações Estudantis no Chile (FotoArteRevolución/Chile)
Varal de Artistas Libertários
 
Rifa
Durante a Feira será vendida a rifa de um cartaz da CNT por R$2,00 e o vencedor será anunciado as 18h.
 
Comida
Ao longo do dia haverá comidas e bebidas à venda. (Ativismo ABC)
 
Dádiva
Um um espaço da dádiva e material anticonsumo (Fenikso Nigra e Barricada Libertária).
 
Organização:
 
Biblioteca Terra Livre
http://bibliotecaterralivre.noblogs.org
Caixa Postal 195
CEP: 01031-970 São Paulo, SP – Brasil