terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Bravo Povo Brasileiro

 
 
 
Foi um fim de semana tenso no antigo Museu do Índio, ao lado das obras do Maracanã, na zona norte do Rio de Janeiro, em reforma para receber a Copa do Mundo e as Olimpíadas.
 
No sábado (12), o Batalhão de Choque da Polícia Militar cercou o prédio para fazer o despejo dos cerca de 60 indígenas que há 6 anos passaram a viver no local que passou a se chamar Aldeia Maracanã (veja fotos aqui). O Museu está desativado desde 1978. A demolição do prédio, orçada em R$ 586 mil, está numa disputa judicial. No lugar, governo e iniciativa privada pretendem construir um estacionamento, um centro comercial e áreas para saída do público.
 
Porém, a PM não contava com a resistência dos indígenas e com a solidariedade dos apoiadores contra o despejo e a demolição do prédio. Dentre eles, os carpinteiros José Antônio dos Santos Cezar, de 47 anos, e Francisco de Souza Batista, de 33, que pularam o muro que separa o canteiro de obras da reforma do Maracanã e o antigo museu, para se juntar aos índios no caso de a polícia invadir o local.
 
“Isso aqui é um patrimônio histórico. Reforma a gente aceita e entende, mas destruir não. Eles não estão reformando o Maracanã? Por que não podem fazer a mesma coisa com o museu?”, questionou o José Antônio.
 
Quando pularam o muro para retornar ao canteiro de obras, o chefe dos operários pediu o crachá de ambos e mandou que eles fossem para casa. Eles tentaram retornar ao trabalho, mas foram avisados sobre as consequências.
 
“Fui ajudar uma questão que acho justa”, disse Francisco.
 
Os indigenas querem que o lugar seja uma referência dos povos indigenas. “Qual vai ser nosso destino se nos tirarem daqui? Vai ser mais uma memória apagada? Não estamos brigando pelo prédio, estamos brigando pela nossa história. Isso aqui é um ponto de cultura”, afirmou Kamayura Pataxó.
 
Para o contador de histórias Tauá Puri o despejo significa a invisibilidade dos indígenas. “O que estão querendo fazer é um processo de invisibilidade da cultura indígena".
 
"Não fiz nada que considere errado”, disse José Antonia.

 
Nesta segunda (14), os dois operários foram homenageados pelos indígenas por se solidarizarem a luta pela preservação do espaço, colocando em risco seus própios empregos.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

A chacina de cada dia

 

A tradição autoritária do Brasil vem de longe. Atravessou séculos. Conviveu em diferentes períodos e regimes, sempre conforme as conveniências dos donos do poder.

Ora dissimulada, ora explícita, o autoritarismo soube muito bem viver à sombra e ao sol, não necessariamente nessa ordem. Impregnou as instituições do país, onde se acomodou sem dificuldade. E assim fez escola.

A democracia brasileira já passou da sua maioridade e se não quiser ficar presa à tradição autoritária precisa assumir sua responsabilidade e agir como uma democracia, garantindo a sua população historicamente marginalizada o direito a vida com dignidade. É bom que seja aqui e agora.

No Brasil, os donos do poder sempre impuseram o cinismo da conciliação e comemoraram rompimentos consentidos. Qualquer um que ousasse sair da regra era abatido pela exceção.

Há anos a Polícia Militar é denunciada pelos seus desvios, excessos e principalmente pelo seu alto grau de violência e letalidade. O Estado brasileiro, várias vezes e em diferentes governos, teve que dar explicações a organismos internacionais de defesa dos direitos humanos sobre casos de violência cometidos por PMs nos vários estados do país. O Conselho de Defesa dos Direitos Humanos da ONU chegou a pedir a extinção da PM. Violência policial, portanto, não é nenhuma novidade por aqui.

No ano passado, os meios de comunicação de massa propagaram uma matemática perversa: a contagem de corpos baleados em ações envolvendo PMs. Esperava-se cada manhã para saber quantos haviam sido assassinados na noite anterior. Enquanto organizações sociais e populares cobravam investigação e ações efetivas contra o genocídio, o governo do estado queria apenas a queda dos números de mortos quando não referendava a ação letal da PM através de pronunciamentos belicosos como "Quem não reagiu está vivo", do próprio governador Geraldo Alckmin.

A chacina cometida no último dia 4, que matou sete pessoas e deixou dois feridos, num bar, no bairro Jardim Rosana, na região do Campo Limpo, zona sul de São Paulo, é chocante (ao menos para mim que não me acostumo com a banalidade do mal!).

A descrição até o momento da chacina chama atenção e pelo histórico levanta óbvia suspeita. Fala-se em pelo menos quatorze homens encapuzados dirigindo carros não identificados e mais de cinqüenta disparos de tiros.

Além disso, a rua onde aconteceu a chacina é a mesma onde em novembro uma pessoa registrou cinco PMs tirando de casa um servente de pedreiro já dominado e matando ele a tiros na rua. As imagens foram exibidas na televisão. Qualquer semelhança não é mera coincidência, já que este fato foi levantado logo que ocorreu a chacina, chegando até a se pensar que o autor das imagens pudesse estar entre os mortos. Nenhuma coincidência também no perfil das vitimas e no contexto onde a chacina ocorreu.

Das 24 chacinas registradas só no ano passado, apenas uma foi solucionada, levando seis PMs para a prisão.

Está aí o alimento do autoritarismo que ainda faz tanta gente chorar.