domingo, 17 de fevereiro de 2013

Dez faces leais: a luta pelos Direitos Humanos no Brasil

 

A Organização das Nações Unidas (ONU) no Brasil lançou recentemente uma publicação chamada Dez faces da luta pelos Direitos Humanos no Brasil que destaca a luta de homens e mulheres em defesa dos direitos humanos no país. Nela, é possível conferir o perfil de lutadores e lutadoras, as causas que defendem e, por outro lado, o incômodo daqueles que defendem somente interesses próprios.

Sete homens e 3 mulheres com atuação em diferentes estados e causas sociais. São lideranças de comunidades tradicionais de pescadores, indígenas, quilombolas, sem terra e defensores de direitos como a moradia e criança e adolescente. Também faz parte do grupo um juiz. Em comum, a ameaça de morte que o grupo recebeu por defender os direitos humanos em suas comunidades. Ameaça que obrigou o grupo a mudar de vida ao fazer parte do Programa de Proteção aos Defensores dos Direitos Humanos. Alguns deles viram a morte de perto quando amigos e parentes foram assassinados.

Chama atenção que a luta pelo direito a terra e teto seja o principal motivo das ameaças de morte da maioria dos defensores e defensoras dos direitos humanos que estão na publicação. Mostrando que poderosos grupos políticos e econômicos controlam militar ou paramilitarmente os negócios vinculados ao acúmulo de terra no campo e a especulação imobiliária nas cidades.

São apenas 10 histórias, certamente há muito mais espalhadas por todo o país. Porém, são suficientes para mostrar que lutar no Brasil em defesa dos direitos humanos da população historicamente marginalizada pelas elites pode custar a própria vida.

Leia abaixo um resumo das 10 histórias.

Alexandre Anderson de Souza
Alexandre Anderson de Souza“Eu agradeço a vida a cada dia que acordo, porque talvez um dia eu não acorde mais.”

Desde 2003, o pescador Alexandre Anderson de Souza vem travando uma batalha em favor da Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro, e de comunidades de pesca artesanais que vivem do que a baía tem para oferecer, frente à construção de empreendimentos petroquímicos que afetam o meio ambiente local. “Estamos pescando 80% menos em relação ao final dos anos 90”, diz com base em um mapa participativo que ajudou a construir com a Universidade Federal do Rio de Janeiro. Em função das tentativas de reverter esse quadro, fala que já sofreu seis atentados e teve quatro companheiros mortos. Alexandre é fundador e presidente da Associação dos Homens do Mar do Rio de Janeiro (Ahomar), com quase dois mil associados em sete municípios e mais de quatro mil pescadores representados. Montou um sindicato de pesca no estado e sonha em criar a primeira confederação nacional de pescadores artesanais no país.

Eliseu Lopes
Eliseu Lopes“Mesmo com perseguições, com a falta de condições, a luta não está parada, estamos buscando nossos direitos.”

O Guarani-Kaiowá Eliseu Lopes começou a se envolver com as questões indígenas em 2003, quando se tornou professor da aldeia de Taquapiri, no Mato Grosso do Sul. Mais tarde, passou a ser porta-voz do Movimento Aty Guasu, que reúne os Guarani-Kaiowá, e se engajou na luta pela recuperação da terra que historicamente pertencia a seus antepassados e no apoio a lideranças nos outros 35 acampamentos indígenas do estado. “Eu estava vendo muita liderança ser morta, meus parentes e minha família de sangue sofrendo, acampados à beira de uma rodovia federal esperando uma demarcação de terras que nunca acontece (…). Nós não usamos violência, mas continuamos sofrendo violência, atentados, assassinatos.” Atualmente em Brasília, como coordenador de mobilização da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil, o defensor atua com questões indígenas de todo o país. Enquanto estava na base, não podia ficar muito tempo em uma aldeia só. “É uma situação difícil, existe medo, porque não temos para onde correr. Por isso temos que enfrentar essa vida, não tem alternativa, temos que buscar o que é nosso.”

Evane Lopes
Evane Lopes“‘Mãe, eu não queria morrer com 12 anos.’ Isso parte o coração de uma mãe.”

Evane Lopes protagonizou uma série de ações em prol da comunidade quilombola de São Domingos e de outras quatro comunidades da região de Paracatu (MG), noroeste de Minas Gerais, onde a mineração e o latifúndio têm papel influente na política de municípios. Conseguiu garantir direitos básicos para a população quilombola, exigir reparação de uma grande empresa que atua no local e levar as cinco comunidades da região para conversar com a Presidência da República. Também ganhou projeção como defensora de direitos: em setembro de 2012, foi selecionada para integrar o Grupo Nacional Assessor da Sociedade Civil da ONU Mulheres. Casada desde os 17 anos e com três filhas, em 2012 Evane se viu ameaçada de morte por causa de sua atuação. Mas não pensa em parar de atuar. “Eu não vou mentir: tive receio pela minha família, que é o meu tesouro. Minha filha chegou a me dizer: “Mãe, eu não queria morrer com 12 anos”. Isso parte o coração de uma mãe. Mas ainda assim eu tenho o apoio da minha família, eu nunca passei para elas que lutar por um ideal é ruim.”

Gleydson Gleber Bento Alves de Lima Pinheiro
Gleydson Gleber Bento Alves de Lima Pinheiro“A vida são princípios, são valores. Você pesa tudo e define o que quer.”

O juiz Gleydson Gleber, da 3ª Vara Criminal de Caruaru, uma cidade de 350 mil habitantes do Agreste pernambucano, foi o principal juiz da primeira grande operação contra o crime organizado de extermínio no país, em 2007. Mesmo sob riscos e ameaças, ajudou a desmantelar um esquema poderoso, que era responsável por um terço dos homicídios na cidade. “De 180 [homicídios por ano], nós passamos para 120 homicídios no ano de 2007, índice que conseguimos segurar até hoje. E neste ano [ de 2012], de abril a final de junho nós não tivemos homicídios na cidade, passaram-se três meses sem homicídio.” Gleydson afirma que sua atuação é a favor da vida e acredita que nos casos referentes a direitos humanos, o papel da justiça é aplicar a lei, e não ir aquém – abrandando penas – ou além –, fazendo justiçamento. E aplica o princípio de que todos têm direito a um bom tratamento durante o julgamento.


João Luís Joventino do Nascimento (João do Cumbe)
                                                 “Estamos vivendo uma recolonização.”
João Luís Joventino do Nascimento (João do Cumbe)A comunidade tradicional do Cumbe, a 12 km do município de Aracati, litoral leste do Ceará, é rica em recursos naturais e em patrimônio cultural. É cercada por dunas, lagoas interdunares, gamboas, rio Jaguaribe, praias, uma extensa área de manguezal e carnaubais. A população é formada basicamente por pescadores e pescadoras que vivem da cata de caranguejo e de mariscos do manguezal. Esse patrimônio vem sendo pressionado por grandes empreendimentos de carcinicultura – criação de camarão em cativeiro. É nessa comunidade que João Luís Joventino do Nascimento, ou João do Cumbe, como é mais conhecido, vem desenvolvendo sua luta para a preservação dos manguezais e da própria comunidade e suas tradições culturais desde 1996. João usou a escola como ponto de partida para sua mobilização. Teceu redes, deu visibilidade aos problemas, colocou as necessidades de uma comunidade pobre e esquecida no mapa. Depois de mais de quinze anos de luta, agora aos 39 anos, decidiu ampliar sua atuação e fazer mestrado em Educação na Universidade Federal do Ceará. Ele garante que continuará disseminando a história e a luta do Cumbe em defesa dos manguezais e das dunas para alertar outras comunidades que venham a passar pelo mesmo problema.

Júlio César Ferraz de Souza
Júlio César Ferraz de Souza“Defensor de direitos também é ser humano.”

Aos 47 anos, Júlio César Ferraz de Souza vem atuando na garantia do direito à moradia em Manaus há quase duas décadas, e ajudou milhares de pessoas a conquistarem sua casa e alcançarem condições mais dignas de vida. Ele acredita e aposta no poder de organização da população sem-teto como forma de resistência às pressões políticas para despejo e desocupação de terras. Atualmente, é integrante e dirigente nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto. Hoje o defensor combate a grilagem de terras públicas. “Os grileiros tomaram conta de 30 milhões de hectares de terras pertencentes ao Governo Federal ou doada a particulares que não reclamaram. É uma terra que poderia estar sendo usada para acomodar parte dos 800 mil sem-teto de Manaus.” Júlio foi militante do Partido dos Trabalhadores na década de 1980 e funcionário do governo do Amazonas. Formado técnico em patologia, Júlio nunca mais conseguiu emprego depois do início da luta. Foi preso, sofreu torturas, foi ameaçado de morte. Com um problema cardíaco descoberto em 2012, tem o sonho de reencontrar o filho que não vê há três anos.

Leonora Brunetto
Leonora Brunetto“Não dá pra abandonar um povo tão sofrido.”

Há mais de três décadas, a gaúcha Leonora Brunetto, 67 anos de idade, atua em defesa de trabalhadores e trabalhadoras rurais sem-terra. Integrante da Congregação das Irmãs do Imaculado Coração de Maria e da Comissão Pastoral da Terra (CPT), irmã Leonora vem organizando lideranças e empoderando jovens para lutar pelo direito à terra e por questões associadas à pequena produção agroecológica. Atuou no Rio Grande do Sul, em Tocantins, no Rio Grande do Norte e no Maranhão. Atualmente, integra a CPT do Norte de Mato Grosso, e vem enfrentando com a voz suave e calma, mas com garra, coragem e fé o agronegócio e as grilagens de terra que dominam a região. Sua aposta é no poder da juventude para garantir que a agricultura familiar se fortaleça e permaneça no local. “Ao mesmo tempo em que você tem medo, você tem uma força divina para dizer: ‘não pare, pode lutar, pode continuar’. (…) No começo, o medo era pavoroso, ficava com vontade de largar. Agora, ele é um sinal para reflexão.”

Maria Joel Dias (Joelma)
Maria Joel Dias (Joelma)“Construímos essa história porque eu não me acovardei.”

A história de Maria Joel Dias, mais conhecida como Joelma, poderia ser apenas mais uma história de milhares de brasileiros que foram para o estado do Pará na década de 1980 em busca de melhores condições de vida e de terras para tirar o seu sustento e encontraram uma situação completamente diferente da esperada. Porém, a partir das ações de seu marido, o sindicalista José Dutra da Costa (Dezinho), morto no ano 2000, ela conseguiu garantir terra, esperança e sustento para parte desses brasileiros que foram parar em Rondon do Pará, município com cerca de 45 mil habitantes no sudeste do estado. Aos 49 anos, Joelma atua a favor dos trabalhadores rurais desde 2002, quando assumiu a presidência do Sindicato dos Trabalhadores da Agricultura do município, cargo antes ocupado pelo seu marido. De acordo com ela, sua luta é a continuidade do sonho de Dezinho. Por tudo o que ele lutava em vida, Joelma não deixou de colocar a cara no mundo denunciando grilagens, exploração madeireira e lutando por melhores condições de vida. Atualmente, é coordenadora regional da Federação dos Trabalhadores em Agricultura do Pará.

Rosivaldo Ferreira Dias (Cacique Babau)
Rosivaldo Ferreira Dias (Cacique Babau)“O lugar sagrado tem que ser preservado.”

Com um riso fácil e um excelente domínio da palavra, o Tupinambá Rosivaldo Ferreira Dias, o Cacique Babau, tem na ponta da língua a história de sua aldeia de Serra do Padeiro, no município de Buerarema, nos arredores de Ilhéus, na Bahia. Aos 38 anos e pai de dois filhos, ele lidera desde o ano 2000 a organização de sua tribo para lutar pela garantia de seus direitos. Seu poder de articulação e espírito empreendedor conseguiram reunir cerca de 900 pessoas de 180 famílias em torno de um modo de produção de agricultura familiar comunitário e sustentável. Coordenou 21 retomadas de terras que já foram reconhecidas como pertencentes ao seu povo. Suas três cicatrizes de tiros recebidos mostram que nem sempre essa luta é feita de forma pacífica. Ele sofre perseguições políticas, processos de criminalização e, em 2010, foi preso. Em virtude disso, foi inserido no Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos, com o propósito de assegurar a continuidade da sua batalha pelo direito à terra e preservação da cultura Tupinambá. Nada parece diminuir a vontade de liderar uma luta que vai além de questões de posse de terra, mas passa também por tradições, questões religiosas e preservação do meio ambiente: de acordo com os Tupinambá da Serra, a Serra do Padeiro é considerada um lugar sagrado e deve ser devolvida em sua totalidade e integridade aos seus habitantes originais.

Saverio Paolillo (Padre Xavier)
Saverio Paolillo (Padre Xavier)“Nosso trabalho é incompreendido.”

Natural da Itália, o Padre Saverio Paolillo, mais conhecido no Brasil como Padre Xavier, vem atuando em favor dos direitos da criança e do adolescente brasileiros desde 1985. Abrigos, casas-lares, centros de defesa, programas de liberdade assistida, projetos profissionalizantes e assistência às famílias de meninos e meninas abrigados ou em conflito com a lei estão entre as suas realizações. Como integrante e coordenador da Pastoral do Menor, denunciou inúmeras situações de violação de direitos humanos nas unidades de internação de adolescentes. Conseguiu dar visibilidade internacional ao problema ao levar a situação para a Corte Interamericana de Direitos Humanos. Também participou como mediador de incontáveis conflitos e rebeliões. Padre Xavier integra o Conselho Estadual de Direitos Humanos e o Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente do Espírito Santo. Ele acredita que há uma visão equivocada a respeito do trabalho que realiza e sofre cotidianamente pressões por defender os direitos de uma parcela da população que, em sua opinião, precisa, acima de tudo, de políticas públicas que efetivem os direitos humanos. 

Clique aqui para acessar a publicação.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Coletivo Perifatividade apresenta antologias literárias inéditas em sarau

 
 
O Sarau Perifatividade vai acontecer neste sábado, dia 16 de fevereiro, às 19h, no tradicional Bar do Boné, localizado na Rua Nossa Senhora da Saúde, nº 100, na Vila das Mercês. Nesta edição, serão lançados o segundo volume da antologia literária do Coletivo Perifatividade e o livro Perifatividade nas Escolas. A antologia reúne um time literário que compõe um mosaico de gêneros e estilos de tecer a palavra. Em comum, a narrativa crua e nua de um mundo tal como ele é. Mas também a narrativa sincera sobre um mundo inacabado e um profundo desejo de transformá-lo. O livro Perifatividade nas Escolas é resultado de uma maratona de encontros e saraus realizados em escolas da região de atuação do Coletivo Perifatividade, os bairros do Fundão do Ipiranga, e envolveu a comunidade escolar, agentes de educação e principalmente alunos e alunas que aceitaram o convite pra mergulhar de cabeça na literatura e na poesia pra encontrar, falar e escrever versos sobre si, sua escola, sua rua, seu bairro, sua cidade e o mundo. A antologia traz muita gente já conhecida e outras nem tanto da literatura periférica e das rodas de saraus poéticos cujos principais espaços encontram-se nas bordas de São Paulo e distantes das programações culturais oficiais. O livro produzido nas escolas traz um time estreante na literatura e pela primeira vez publicado. Em ambos os casos, gênero literário, estilo e temas variados revelam um olhar panorâmico protagonizado por quem escreve e a partir da onde se está escrevendo.

O Sarau Perifatividade, assim como os livros que serão lançados, é desenvolvido pelo Coletivo Perifatividade que há mais de dois anos articula, mobiliza e realiza ações culturais no Fundão do Ipiranga, e que reúme várias linguagens artísticas sempre pelo fortalecimento das comunidades locais e da prática da solidariedade contra todas as formas de opressão. Sarau, música, opinião e leitura, são algumas armas que o Coletivo Perifatividade tem pra trocá... e elas estão com os tambores cheios até a boca!

Se você ainda não conhece o Sarau Perifatividade aproveite pra conhecer. Se já conhece sabe que é só chegar pra ser bem recebido.

Mais informações: www.perifatividade.wordpress.com ou no facebook sarau perifatividade


Participe, porque afinal a cultura é nossa!

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Perifeminas: antologia literária inédita reúne 60 mulheres que registram sua relação com o Hip Hop

 

 
Há mais do que MCs, Bgirls e grafiteiras neste PERIFEMINAS, todas as autoras do livro “criaram-se” no Hip Hop. Foi ali que muitas passaram a entender-se e afirmar-se como negras. Outras, não-negras, constituíram uma irmandade estética, de classe e gênero, passando a praticar a solidariedade racial - Cidinha da Silva.
 
O lançamento da antologia literária PERIFEMINAS vai acontecer nesta quarta-feira, dia 6, às 19h30, na Ação Educativa.

A iniciativa, inédita no país, é da Frente Nacional de Mulheres no Hip Hop. O livro é resultado do Projeto PERIFEMINAS, realizado com apoio do VAI, que depois de oficinas sobre a história do hip-hop, a mulher e a sociedade, redação e edição de texto, diferenciação de conteúdo, linguagem, gíria, gramática, ilustrações, marketing e publicação, selecionou 60 mulheres para participar da antologia literária com textos inéditos que vão de contos a poesias e desabafos.

Quebrando o silêncio! O livro é uma contribuição das mulheres não só para o Hip Hop, mas também para a literatura. Muitas delas são conhecidas pelo que já faziam pelo Hip Hip como Mcs, Djs, Grafiteiras ou Bgirls. Outras, já eram letristas e poetisas e são conhecidas pelas participações e apresentações em saraus. Independente da particularidade de cada uma delas, todas agora encontram-se na literatura. O livro pode ser lido por qualquer pessoa interessada no que essas mulheres tão diversas que tem a síntese no Hip Hop tem a dizer sobre elas mesmas.
 
 
A escritora Cidinha da Silva, que também participa da antologia literária, disse o seguinte sobre o livro PERIFEMINAS:

PERIFEMINAS: uma história do Hip Hop narrada por mulheres! Assim eu chamaria esta obra de vozes e olhares múltiplos. Algumas autoras apresentam o currículo, listam os feitos no movimento Hip Hop e isso também é significativo, dada a pouca consideração pública à participação transformadora e estruturante das mulheres na cena. Outra...s refletem de maneira mais ampliada e filosófica sobre o movimento e sua própria trajetória. Outras, ainda, ensaiam bons textos de ficção como “Banquete de reis.”

As autoras fazem elegia a elas mesmas, são plenas de orgulho e amor para contar histórias de mulheres que estiveram na base da projeção de vários homens, escondidas, carregando o piano. Contam também histórias de mulheres que ousaram lançar CDs, sozinhas, sem qualquer tipo de apoio. Há tímidos suspiros de crítica interna à presença e ação das manas na cena.

Mulheres cristãs, rastafáris, católicas, candomblecistas e umbandistas, umas tantas sem crença religiosa, professam dois lemas fundamentais: o primeiro, “O Hip Hop salva” e o segundo, “Lugar de mulher é onde quer que ela queira estar.”

Embora possa parecer expressão messiânica, ter tido a vida salva pelo Hip Hop foi realidade para muitos manos e manas que ouviram uma frase de promoção do amor próprio, um verso de solidariedade, uma palavra de respeito ao que se é, pelas ondas do rádio, quando estavam tristes e depressivos, sem perspectiva pessoal e político-social na quebrada.

Há mais do que MCs, Bgirls e grafiteiras neste PERIFEMINAS, todas as autoras do livro “criaram-se” no Hip Hop. Foi ali que muitas passaram a entender-se e afirmar-se como negras. Outras, não-negras, constituíram uma irmandade estética, de classe e gênero, passando a praticar a solidariedade racial.

PERIFEMINAS nos conta muito de nós, do que sabemos e do que estamos por descobrir. Que a leitura nos apresente mais de nós mesmas.
 
Não fique de fora, pois uma nova página no Hip Hop e na Literatura estão sendo escritas neste momento pelas mãos das mulheres!

Põe na agenda e participe!