quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Pelo direito ao livro e a leitura




Edição do encontro sobre o Plano Municipal do Livro e Leitura, articulação criada em 2012 por entidades e pessoas interessadas na questão do livro e da leitura. O objetivo do encontro foi de aprofundar e ampliar a discussão sobre a necessidade de um conjunto articulado de políticas públicas especificamente voltadas à promoção do acesso da população ao livro, à leitura, à literatura e às bibliotecas públicas, escolares e comunitárias no município de São Paulo. 

Mais informações: Livro e Leitura para Todos: por um PMLL em São Paulo

domingo, 9 de fevereiro de 2014

Adquira sua antologia literária Perifatividade, volume 2, poesia e música!



É saber chegar, saber sair, saber estar!
Coletivo Perifatividade

Ainda está disponível a antologia literária do Coletivo Perifatividade, volume 2 (2013). A antologia reúne um time literário de 45 autores e autoras que juntos compõe um mosaico de gêneros e estilos próprios de tecer a palavra. O livro vem acompanhado de um cd com 11 faixas, mesclando música e poesia, ritmo a ritmo, verso a verso.

O livro apresenta narrativas cruas e nuas de um mundo tal como ele se apresenta. Mas também narrativas sinceras sobre um mundo inacabado e um profundo desejo de transformá-lo para melhor. O cd não fica atrás nem nas músicas nem nos poemas declamados.

O jornalista Igor Carvalho da Revista Fórum e do sítio SpressoSP, um dos responsáveis pelo documentário Quilombos Culturais, sobre os saraus periféricos, escreve no prefácio do livro que a “arte é possível, e ela é uma amante voraz da militância, que geme de prazer até acordar a vizinhança”.

A antologia traz muita gente já conhecida e outras nem tanto da literatura da periferia e das rodas de saraus poéticos cujos principais espaços estão localizados nas bordas de São Paulo e distantes das programações culturais oficiais. Lado a lado, Akins Kinte, Dexter, Débora Garcia, Emerson Alcalde, Fuzzil, Dinha, Luan Luando, Raquel Almeida, Walner Danziger, Chellmí, Vilma Negra Drama, Ruivo Lopes, etc. Alguns presentes no cd que trás também Vinão Alobrasil, Rinha de Galo, D’Grand Stilo, Michel Cena 7, etc.

No livro, gênero literário, estilo e temas variados revelam um olhar panorâmico protagonizado por quem escreve e a partir do olhar de onde cada um escreve.

Eu vou, invadir os palácios da literatura
e mostrar que os pés de barro
deixam bons rastros no tapete vermelho.
Eu vou, Chellmí

Há uma comunidade ali,
e eu sonhei que ela existia.
Comunidade, Fanti Manumilde

São Paulo adota a repressão intensificada 
e utiliza o aparato policial como personificação 
da democracia que temos no país.
Periferia, nossa faixa de Gaza, Sâmia Gabriela Teixeira

O Coletivo Perifatividade há mais de três anos articula, mobiliza e realiza ações culturais nos bairros que compõem o Fundão do Ipiranga, e reúne várias manifestações e linguagens artísticas sempre pelo fortalecimento das comunidades locais e da prática da solidariedade. Sarau, música, opinião e leitura, são algumas armas que o Coletivo tem pra apresentar.

Se você ainda não conhece o Coletivo Perifatividade e o Sarau Perifatividade aproveite pra conhecer. Mais informações: www.perifatividade.wordpress.com ou no facebook ColetivoPerifatividade e Sarau Perifatividade.

A antologia literária pode ser adquirida nos saraus e outras atividades do Coletivo Perifatividade no e-mail: perifatividade@gmail.com

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Rolezinhos: a juventude grita ‘nós existimos’




“Como posso te identificar na matéria”, perguntei. “Poeta e educador, pode ser?”, me respondeu Ruivo Lopes. Em seu blog ele pede emprestada a música “Apenas um rapaz latino americano”, de Belchior, para se descrever.

Apesar da modéstia, Ruivo atua em várias frentes. É participante do “Coletivo Perifatividade”, que promove sarais na periferia de São Paulo, apresenta programas de rádio em emissoras comunitárias e teve poemas publicados em seis livros lançados por coletivos culturais.

Ruivo é desses que acredita. Acredita na cultura da periferia, nos jovens e no debate sobre a cidade. Nessa entrevista exclusiva ao Brasil de Fato, ele fala sobre os rolezinhos e como ele pode ajudar no debate da ocupação do espaço público da cidade por seus moradores.

Por Bruno Pavan, Brasil de Fato

O rolezinho é um fenômeno relativamente novo para São Paulo e pode ser analisado pela ótica da ocupação do espaço na cidade. Como que você analisa esse ponto?
Os rolezinhos estão longe de ser um problema, é uma questão que temos que nos debruçar sobretudo no aspecto da participação dessa juventude. Nesse ponto eles contribuíram muito não só levando esse questionamento para o espaço público, mas também para o espaço, os shoppings centers, que sempre estiveram blindados. Quem vai ao shopping, independente da classe social que está inserida e do que consome, circula num espaço de fato social, está participando da cidade. O que pode ser apontado é que não existe somente essa forma mercadológica de participação, existe a participação política, cultural... O que se tem levado com os rolezinhos é um questionamento da afirmação, sobretudo de uma juventude pobre e negra, que é uma parcela significativa da cidade. Essa ocupação dos shoppings dessa maneira quer passar a mensagem de ‘nós existimos’ mas, como os empresários só conseguem entender essa lógica mercadológica, quem não consome não tem status de cidadão. Eles se mostram surdos e mudos aos desejos dessa juventude. Esse é o embate: dos empresários contra o direito que essa população tem de ocupar esses espaços. A sociedade precisa deste questionamento.

 Policiais revistam jovens que participaram de rolezinho 
em shopping de Itaquera, na zona leste de São Paulo 
[Foto: Robson Ventura/Folhapress]

Os rolezinhos acabaram nascendo como resposta a uma proibição dos bailes funks na periferia da cidade. Como você vê essa cultura proibitiva presente na discussão sobre a cidade?
Não vejo a proibição como caminho pra nada. Essa cultura acaba restringindo direitos fundamentais como acesso a cultura, a convivência e, por fim, o direito a cidade propriamente dita. Atinge em cheio uma parcela da população que está à margem. Essa lógica prioriza a privatização do espaço de forma discriminatória, não só de classe, mas também de cor, e só agravam os problemas da sociedade brasileira. Historicamente ocupar o espaço público sempre foi o conflito, o combate no sentido democrático e engana-se quem pensa que a juventude a periferia não consegue se organizar. Essa iniciativa é tão importante quanto os movimentos sociais organizados. Os jovens escancaram essa luta quando ocupam um espaço que sempre determinou quem pôde entrar e o que vão fazer. Eles estão afirmando que nem tudo nessa cidade é mercadoria, ‘nós também queremos espaços que possamos conviver, nos conhecer, beijar’. Eles querem se mostrar, o que vestem, o que pensam. Quando a cidade e os empresários não acolhem esse juventude, é eles que estão errados e precisam ser questionados, não a juventude. Os rolezinhos mostram que há uma alternativa pra cidade, que são locais para convivência, de aceso ao público, é isso que vai tornar São Paulo melhor pra todo mundo

Como aconteceu nas manifestações do ano passado, você acredita que as liminares que proibiram a entrada dos jovens no JK Iguatemi e a violência da PM em Itaquera deram aos rolezinhos um tamanho maior?
A lógica proibicionista tem mostrado que quanto mais se endurece a repressão, mais se acontece aquilo que se está proibindo. Então quando se restringe um valor, como o de ir e vir, que é muito caro a sociedade brasileira, há uma resposta. O que tem acontecido por parte da justiça e da PM é o avesso do que esses jovens estão buscando como alternativa.  Os protestos contra a tarifa de ônibus tem relação porque é um direito de circulação pela cidade o quê aquelas pessoas pediram. Os participantes dos rolezinhos querem o direito de frequentar um espaço de acesso público de São Paulo. É preciso trazer essa juventude para a gestão política da cidade, esse é o recado. E quem conseguir colher isso vai fazer de São Paulo um lugar muito mais democrático.

 Movimentos sociais promovem rolezinho contra o racismo, 
o preconceito e a discriminação no shopping JK Iguatemi, 
na zona oeste de SP [Foto: Uneafro]

Os donos de shoppings marcaram uma reunião com o governador Geraldo Alckmin pedindo que o governo do estado crie “rolezódromos”, que seriam locais para conter esse avanço dos rolezinhos nos shoppings. Como você vê essa postura de empresários e governo?
Completamente equivocada. O governador deveria entender o processo todo com sua equipe e só depois disso se posicionar como governo. Infelizmente essa postura democrática e aberta não condiz com a postura do governo Alckmin. Ele recebe os empresários com uma pauta já pronta que defende o espaço privado e protege sua mercadoria.  Criar ‘rolezódromos’ chega a ser uma ofensa! Não é isso que esses jovens estão pedindo. Espaços assim querem passar a ideia de que existem locais para manifestações. A população deve decidir o que fazer com a cidade e o governante tem que dialogar com isso. Esses espaços vão segregar ainda mais e já mostram uma incompreensão dessa demanda. Não é trazendo o empresário pra mesa que o governador vai chegar a uma solução, é trazendo essa discussão pras ruas, ele não vai resolver isso de seu gabinete. Não vejo isso como a solução correta.

Publicado originalmente em Brasil de Fato.