domingo, 27 de dezembro de 2015

Dicas de leitura e uma boa notícia!



Dicas de leitura! Há mais de uma década, a cena de saraus das periferias de São Paulo tem revelado inúmeros poetas, embora muitos ainda desconhecidos do público leitor. Mas isso não impede que estes poetas sejam vistos, ouvidos e muito prestigiados - ou considerados - nas noites de saraus em algum bairro da periferia da Cidade onde cada vez mais circuitos culturais independentes ou com apoio de recursos públicos atraem cada vez mais público. Quem já viu, ouviu e ficou impressionado com o poeta Helber Ladislau recitando - ou disparando -  e performando seus poemas, principalmente nos saraus da zona sul de SP, terá agora a oportunidade de ler seus poemas reunidos no livro "Poesias Negreiras" (Nós por Nós Editora, 2014). O livro reúne poemas longos e curtos e alguns aforismos secos, poéticos e cortantes. A apresentação fica por conta do Movimento Mães de Maio, responsável pela editora - que segue a tradição de publicar livros que traduzam a missão do Movimento que reúne familiares, principalmente mães de vitimas da violência praticada por agentes do Estado, principalmente policiais - , que já nas primeiras páginas diz "Helber é um guerreiro precioso e especial do nosso exército de filhos porretas. Um legado que conquistamos ao longo desses anos na luta por memória, verdade e justiça. Nosso poeta negro!". No prefácio, o também poeta Sérgio Vaz afirma que "Helber não é um poeta, ele é a poesia. Esses poemas impressos ja estavam impressos em nosso ouvidos, em nossas almas, desde quando ele começou a cravar sua poesia em nossos ouvidos". O formato do livro é no tradicional formato de bolso e o inconfundível projeto gráfico e ilustrações é de Silvana Martins, artista gráfica que assina outros projetos gráficos da editora e do Movimento Mães de Maio, além de edições de antologias de saraus. Destaque para o poema "Antonio", já conhecido pelos frequentadores de saraus. Ao ler os poemas publicados no livro, é impossível não ouvir a voz de Helber gravada na memória e ver sua performance, seu corpo inclinado, braços levantados no ar e mãos e dedos apontados para todas as direções. "Poesias Negreiras" é seu primeiro livro autoral. Adquira o livro direto com o autor aqui ou com a editora das Mães de Maio aqui. Recomendo, leitura indispensável!


"América Negra & outros poemas afro-brasileiros" do poeta piauiense Elio Ferreira, edição excepcional da Quilombhoje Literatura (2014). Elio publica desde o início dos anos 1980 e este é seu sétimo livro de poesia. Para a felicidade de quem aprecia a poesia e a poética negro e afro-brasileira, a edição de "América Negra" além do prefácio de Feliciano Bezerra e ensaios sobre o poeta e sua poética por Tania Lima e Derivaldo dos Santos, apresenta um conjunto de poemas inéditos e outros publicados há anos, mas também nos Cadernos Negros, outras edições e dispersos em antologias, revistas, etc. O lançamento de "América Negra", enche de cor, "orikis, cantos e canções, bigornas, martelos e tamores" a poesia feita no Brasil. Adquira direto com o autor: professorelioferreira@yahoo.com.br Leia e dê livros de presente! [Foto Elaine Campos]


"Confraria dos Perdedores & Outras Crônicas de 2ª" (Edições Incendiárias e Na Função Produções Artísticas, 2015), novo livro do escritor paulistano Walner Danziger. O livro reúne 44 crônicas, entre inéditas e publicadas semanalmente no blog  www.nasubidadomorro.wordpress.com, cuja verve é o subúrbio, o futebol, o samba, a memória e o verbo afiado de uma São Paulo crônica. Adquira direto com o autor: walnerdanziger@gmail.com Leia e dê livros de presente!



#SãoPauloCidadeLeitora O ano de 2015 foi importante para o livro, leitura, literatura e biblioteca na cidade de São Paulo. Após intensa mobilização e muita dedicação, o prefeito Fernando Haddad promulgou a Lei 16.333 proposta pelo vereador Antonio Donato​ (PT) e instituiu o Plano Municipal do Livro, Leitura, Literatura e Biblioteca. É a primeira vez que SP conta com um Plano para fortalecer as políticas públicas para o livro, leitura, literatura e biblioteca na Cidade. O PMLLLB contou com a ampla participação num "processo participativo, democrático e popular" com o fim de "assegurar a tod@s o acesso ao livro, à leitura e à literatura" como direito humano. Conheça o Plano publicado sábado (19) no Diário Oficial da Cidade: http://goo.gl/buo8Ex

domingo, 13 de dezembro de 2015

Leiaí "Retratos de um cotidiano adormecido", novo livro de poesia de Hugo Paz



Leiaí! | O poeta Hugo Paz esta de volta com seu mais recente livro "Retratos de um cotidiano adormecido" (Editora Nelpa, 2014). Leiaí o que escrevi por ocasião do lançamento: "Poesia é síntese, poema é enredo e poeta é quem não permite amarras, principalmente na imaginação alheia. É assim que Hugo Paz apresenta seus poemas em 'Retratos de um cotidiano adormecido'. Os ‘retratos’ os quais se refere o poeta são alegorias provocadas por sentimentos contagiantes que sempre tem algo a mais para revelar a quem se entregar a seus poemas. Esse ‘algo a mais para revelar’ é um canal aberto pelo poeta, por onde deve passar toda a força dos seus poemas, para ir buscar em quem o ler o sentido necessário e decisivo para manter viva toda a sua poesia. Certos enredos soam familiares, porém, obrigam tanto o poeta quanto quem o ler a reivindicar para si o seu ‘cotidiano adormecido’. Do escândalo diário sucede também a calmaria. Neste livro, onde poemas curtos, quase pensamentos soltos, se avizinham de poemas mais versados, pés no chão, de asas abertas e preparados para voos altos, nasce mais uma vez o poeta".  Recomendo a leitura!

Livro: "Retratos de um cotidiano adormecido", 148 páginas
Gênero: Poesia
Autor: Hugo Paz
Editora: Editora Nelpa, 2014
Contato: hugopaz11@yahoo.com.br ou sintonizeapoesia@bol.com.br
Facebook: Hugo Paz

domingo, 6 de dezembro de 2015

Legado político e pedagógico das ocupações das escolas de SP

 
 Nas ocupações, alunos valorizam escolas contra um discurso de ataque à coisa pública

Legado político e pedagógico das ocupações das escolas de São Paulo já podem ser projetados, acreditam educadores

"Estudantes e comunidade nunca mais serão os mesmos"

Por Gisele Brito
Menos de 20 dias depois do início da primeira ocupação de uma escola estadual, em Diadema, o movimento de estudantes que tentam impedir o fechamento de 94 unidades de ensino segue forte em várias cidades de São Paulo. A ação obrigou o governo do estado a cancelar o Saresp nas escolas tomadas, mudar locais de provas da Fuvest e enfrentar uma contundente derrota no Judiciário, que entendeu que, de fato, faltou diálogo com estudantes e professores que sofreriam os impactos da medida e, por isso, as reintegrações de posse não seriam adequadas.

O governo ainda resiste em dar aos estudantes o que eles querem e insiste na "reorganização", inclusive gastando R$ 9 milhões para tentar encucá-la na população por meio de publicidade.

Dado o histórico pouco afeito ao diálogo do governador Geraldo Alckmin (PSDB), talvez, as escolas realmente sejam fechadas. Mas para educadores ouvidos pelo Observatório, as lições que ficam do movimento já são perenes.

Nas escolas ocupadas, os estudantes têm manifestado satisfação em aprender novos conteúdos a partir da experiência política, cultural e colaborativa. Eles assumem várias facetas do protagonismo. Além de terem de cuidar da rotina, o que inclui se reunir, deliberar e cuidar da segurança, alimentação, limpeza, programação, comunicação e solução de conflitos internos, ainda assumiram papel político de peso na atual conjuntura.

"É uma mobilização ímpar. Ultrapassa tudo que poderíamos pensar em planos de ensino", avalia a pedagoga e doutoranda em educação Crislei de Oliveira Custódio. "Mais que qualquer proposta construtivista, é uma experiência política de fato. Nas escolas construtivistas, há toda uma programação para o protagonismo, mas que acaba sendo um simulacro do que seria uma experiência democrática em um espaço público. Nesse caso, é mais interessante porque partiu dos alunos, eles estão se organizando nessas coisas cotidianas. Nas escolas construtivistas, ainda é preciso uma permissão do adulto, que decide o que será democratizado", pondera.

Para o educador Ruivo Lopes, da Ação Educativa, o movimento deixa claro que não se deve subestimar nenhuma criança ou adolescente ao se pensar em políticas públicas, especialmente na educação. "A mensagem que fica é que esses estudantes têm projeção de vida, desejos próprios e condições de intervir na sua própria realidade. Eles já venceram todo o aparato de subestimação", argumenta.

Os dois educadores ainda ressaltam como a iniciativa dos secundaristas é carregada de valorização das escolas, em um momento em que há um discurso deliberado contra as coisas públicas. A explicitação de um senso de pertencimento fortalece as unidades mobilizadas como equipamento público, fincado no coração das comunidades, que vão além da sala de aula. São locais de encontro, de troca, de lazer. Educativas em sentido muito mais amplo.

Além disso, o movimento conseguiu realizar um dos grandes objetivos de currículos escolares: trazer a comunidade para dentro da escola. Isso fica explícito na mobilização de pessoas para colaborar com aulas e oficinas, que têm mantido efervescente o ambiente das escolas ocupadas, mesmo nos finais de semana.

"Tanto já se falou em trazer as pessoas para a escola, usando festas, criação de conselhos e outros mecanismos. Sempre foi muito difícil, porque em geral a gente identifica como instituição do Estado e não como coisa pública, nossa. Um milhão de pessoas já escreveram sobre isso. E aí, numa coisa super de uma hora para outra, que não era um projeto do governo, se consegue", ressalta Crislei. "Fico pensando como serão essas escolas depois da ocupação. Certamente é um divisor de águas", aponta a pedagoga.

"Eles não voltam a ser os mesmos. E se as escolas derem espaço, elas serão transformadas para aquilo que sempre desejamos nos processos educativos", acredita Ruivo.

Publicado originalmente em: Observatório da Sociedade CivilRede Brasil Atual

quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Meu amigo, Paulo Freire!



São Paulo, 2 de dezembro de 2015.

Meu amigo, Paulo Freire!

Espero que esta carta o encontre bem!

Na última vez em que eu o ouvi, fiquei muito comovido quando o senhor disse que estava muito cansado, embora estivesse muito feliz em estar vivo e morreria feliz em ver um Brasil em seu tempo histórico cheio de marchas, mas as “marchas dos que não tem escola, marcha dos reprovados, marcha dos que querem amar e não podem, marcha dos que se recusam a uma obediência servil, marcha dos que se rebelam, marchas dos que querem ser e estão proibidos de ser...”. Como o senhor mesmo disse, “as marchas são andarilhagens históricas pelo mundo”. Já se passaram alguns anos desde aquela última vez, de lá pra cá, toda vez que demos um passo o mundo saiu do lugar. 

O senhor, como sempre, me pondo a pensar. Como um homem que conheceu tão bem a nossa gente, que conviveu tanto com a nossa gente, que conversou tanto com a nossa gente, que pensou tanto com a nossa gente, que se dedicou a vida inteira a nossa gente, pudesse estar cansado... cansado e feliz? Afinal, é a tua gente o motivo da tua felicidade, amigo Paulo!

É por isso que os donos do poder atentam contra a tua gente, como se fôssemos uns “desabusados... destruidores da ordem”, quando na verdade afirmamos que “é preciso mesmo brigar para que se obtenha o mínimo de transformação”. O teu desejo, o teu sonho, era o de que as marchas dos “sem” acontecessem para nos afirmarmos como gente e como sociedade querendo democratizar-se.

O senhor que nos agraciou com a mais potente “Pedagogia do Oprimido”, elevou a “Educação como prática da liberdade”, e estimulou a “Ação cultural para a liberdade”, fez da “Pedagogia da autonomia” um norte, no qual “a leitura de mundo precede a leitura da palavra”, sem abrir mão da “Importância do ato de ler”, nutrindo-nos de “Pedagogia da esperança”. Nem a perseguição, nem a prisão, nem a censura, nem o exílio o cansaram. Por que o cansariam agora, quando mais precisamos da vitalidade do senhor?

Meu amigo, Paulo. Preciso contar-lhe algo surpreendente. Há algumas semanas, estudantes secundaristas de escolas públicas de São Paulo mobilizaram-se e ocuparam as escolas estaduais contra a intransigência política e o autoritarismo mais atroz dos mandatários de plantão da Secretaria de Estado da Educação do Governo de São Paulo. Estes mandatários querem a todo custo promover uma desorganização do sistema misto do ensino fundamental e médio na mesma unidade escolar. Além de separar os estudantes, irmãos e irmãs em anos diferentes, estes mandatários anunciaram o fechamento de escolas e irão aumentar ainda mais a quantidade de estudantes por sala de aula, prejudicando ainda mais o processo de aprendizagem da turma de educandos, como também de educadores que ficarão pressionados entre carteiras e lousas nas salas de aula já superlotadas. 

Amigo, Paulo. O senhor, depois de andarilhar com os oprimidos pela America-Latina, Europa e África, foi Secretario de Educação da cidade de São Paulo, dialogando com todo mundo disposto a falar e também a ouvir. Ninguém mais do que o senhor sabe o valor da fala do oprimido que ao falar denuncia sua opressão e ao fazê-lo conscientiza-se “da tomada de decisão de intervenção no mundo”. O senhor que como Secretário Municipal de Educação acabou com as “delegacias de ensino”, porque delegacias são de polícia e não de ensino, e criou os Núcleos de Ação Educativa, unindo prática e reflexão pedagógica com e entre educadores e educandos. O senhor ficaria feliz se pudesse estar aqui para conferir a vitalidade, a disposição, a coragem e o sorriso que só a meninice consegue nos agraciar. Esses meninos e meninas que ainda estão se fazendo gente têm passado noites em salas e pátios de escolas ocupadas, organizam-se para a limpeza, para alimentarem-se, para promover a própria segurança, realizam assembleias, discutem os feitos do dia e planejam o dia seguinte, e assim “contrariam as estatísticas”, tomando para si a possibilidade de decidirem sobre o próprio futuro. 

O senhor nunca deixou que esquecêssemos que não há possibilidade de educação apartada da cultura e que não há cultura apartada da educação. Sabemos que a truculência e a ideologia da ditadura militar nunca permitiram que a escola fosse um centro cultural de aprendizagem mútua e que anos mais tarde, a truculência política impediu que nossa amiga Marilena Chauí, então Secretária Municipal de Cultura, ao teu lado, fizesse das casas de cultura da Cidade de São Paulo, espaços educativos de modo que escolas e casas de cultura complementar-se-iam tal qual Cultura e Educação devem complementar-se, emaranhar-se, de modo que o sujeito da cultura e da educação seja os educandos. 

Em uma escola ocupada e gerida pelos estudantes, prestigiei uma apresentação de teatro cujo mote era a rebelião dos trabalhadores cansados da opressão dos patrões. Vi amigos dos estudantes promovendo oficinas de estêncil, comunicação alternativa, cartazes, capoeira, música, sarau de poesia e etc. Vi pais e mães ao lado dos filhos e filhas, juntos, e não era nenhuma reunião protocolar de pais e mestres e sim a participação tão desejada da comunidade na vida escolar. Vi professores e professoras dialogando em profunda comunhão, chamando os estudantes pelo primeiro nome e sendo chamados pelo primeiro nome, aprendendo juntos a conviver fraternalmente como sempre desejamos. Vi pessoas doando livros, mantimentos, produtos de limpeza e etc., como demonstração de apoio aos estudantes. Vi pessoas dispostas a dialogar com os estudantes sobre consenso, organização, feminismo, negritude, LGBT, direitos humanos, educação popular e etc. Vi pessoas disposta a ajudar de qualquer forma, a ouvir o que os estudantes têm a dizer e simplesmente estar ali, solidarizando-se. E numa das escolas ocupadas, vi no pátio, bem ao fundo e no alto, o teu retrato mais bonito, como se estivesse olhando a e por todos nós, testemunhando o movimento da história e feliz por estar presente. Posso imaginar o senhor sentado ali, junto com os estudantes, muito a vontade entre a tua gente, trocando histórias com eles como se estivesse ao pé de uma mangueira. 

A cegueira e a surdez política dos mandatários de plantão da Secretaria de Estado da Educação enchem os brutos de orgulho muito mais do que bom senso. É espantoso como um aparato tão poderoso da educação pode ser manipulado por mandatários inescrupulosos e belicosos que, sem nenhuma vergonha, declaram “guerra” ao bem mais precioso da educação que é os estudantes, sujeitos da educação, sem os quais a Secretaria de Estado da Educação não passa de uma ostra moribunda, ensimesmada, destinada a prisão ao próprio casco. O Estado declarou “guerra” aos estudantes por estes recolocarem na ordem do dia a educação pública. Na ausência de dialogo, o Estado responde declarando a mais bestial “guerra” suja!

Amigo, Paulo. Os estudantes estão tomando as ruas da Cidade para buscar dialogo com cidadão e cidadãs ainda penetráveis pela sensibilidade necessária que nos irmana a todos. As polícias agem como os mais ferozes, sedentos e bestializados cães raivosos a serviço dos poderosos. Contra a imposição da desorganização escolar, os estudantes respondem com a afirmação de que “não tem arrego”!

Como o senhor bem disse, “é preciso ir além da passividade com uma postura rebelde e criticamente transformadora do mundo”. Estes estudantes ainda pouco o conhecem, mas o senhor ficará feliz quando o conhecê-los.

Estes estudantes estão escrevendo os novos rumos da educação pública, nem eles, nem a sala de aula, nem as escolas hoje ocupadas serão as mesmas. Como o senhor, eu também estou feliz por testemunhar a vitalidade da história, que não está determinada, mas que ainda está por se fazer. 

Abraço do amigo de sempre,

Ruivo Lopes

P.S.: permita-me, pelo profundo respeito e admiração, que eu o chame nesta carta carinhosamente de “senhor”.

domingo, 29 de novembro de 2015

Em Santos (SP), Fórum discute educação popular, direitos humanos e lutas sociais



Se ligaí, Santos! | Nesta segunda, dia 30, participo do 3º Fórum de Educação Popular da Baixada Santista, na UNIFESP Baixada Santista unidade Silva Jardim, nº 136. Confira a programação: "A cultura como formação em Direitos Humanos" "Café Cultural" e "Educação Popular, Direitos Humanos e Lutas Sociais". Participe!

quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Em SP, encontro mundial literário discute políticas públicas para o livro e a leitura



Se ligaí! | Começa nesta quinta, a 1º EMIL - Encontro Mundial da Invenção Literária, realizado em cerca de 35 locais da cidade de São Paulo, entre 25 livrarias e 10 equipamentos públicos, como centros culturais, bibliotecas públicas e teatros. Na sexta, dia 13, às 9h, na sala Olido (Av. São João, nº 473, região central), divido a mesa com Esmeralda Ribeiro, Olivio Jekupe e Ricardo Queiroz sobre Políticas Públicas para demandas mais que urgentes: subsídios e desafios para a implementação das Leis 10.639 e 11.645, sobre o ensino nacional de História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena, e do Plano Municipal do Livro, Leitura, Literatura e Biblioteca. Confira a programação e participe: http://goo.gl/wj2WrO

quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Em SP, Congresso Escritores da Periferia debate políticas públicas para literatura

Se ligaí! | Neste sábado acontece o 2º Congresso Escritores da Periferia SP (clique!), na Fábrica de Cultura do Jardim São Luís (Rua Antônio Ramos, nº 651, zona sul de SP). Participo do diálogo "A importância de políticas públicas para Literatura" com Cidinha Da Silva, Ricardo Queiroz, Cazulo e Rogerio Gonzaga. Participe!

segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Literatura periférica ganha espaço fora do circuito de saraus


Slam do Grito, realizado no Sacomã, é um dos 15 torneios de poesia do país (Crédito: Cinthia Gomes/CBN)
Slam do Grito, realizado no Sacomã, é um dos 15 torneios de poesia do país
(Crédito: Cinthia Gomes/CBN)

Literatura periférica ganha espaço fora do circuito de saraus

Por Cinthia Gomes/CBN

Livros e autores marginais circulam por todo o Brasil e até outros países, além de começarem a chegar ao sistema de ensino. Novas formas de apresentação, como o slam, uma competição de poesia, têm contribuído para a expansão.

No começo de junho, ocorre a Copa do Mundo de poesia, em Paris. O evento terá a participação de competidores de 24 países, entre eles o Brasil. O mineiro João Paiva venceu o torneio nacional Slam BR no fim de 2014 e se classificou para representar o país. Ele aposta na performance para conquistar os jurados franceses.

O slam foi criado nos Estados Unidos na década de 1980 e chegou ao Brasil há sete anos. Atualmente, existem 15 competições em todo o país. Trata-se de uma apresentação de poemas próprios sem a utilização de acompanhamento musical, cenário ou outros elementos. A interpretação é feita apenas com o uso da voz e do corpo. E já existem diversas modalidades, como explica o organizador do Slam do Grito, Lews Barbosa.

A literatura periférica tem circulado cada vez mais também fora da periferia. No ano passado, os saraus de São Paulo foram convidados para a Feira do Livro de Buenos Aires, na Argentina. O poeta Binho, que organiza um sarau com o nome dele em Taboão da Serra, na Região Metropolitana, participou da viagem.

E, por causa da importância da atuação dos saraus no incentivo à leitura em bairros afastados da região central de São Paulo, o segmento foi incluído nas discussões do Plano Municipal do Livro, Leitura, Literatura e Biblioteca. Um dos representantes da literatura periférica na elaboração do plano, o escritor Ruivo Lopes, do coletivo Perifatividade, explica que eles reivindicam maior diversidade de autores e editoras nos livros adquiridos para as bibliotecas públicas.

A expectativa é que o Plano Municipal do Livro, Leitura, Literatura e Biblioteca da capital paulista seja finalizado em julho depois da realização de audiências públicas.

Leia e ouça as reportagens aqui:



segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Escritor e jornalista Oswaldo de Camargo recebe Título de Cidadão Paulistano da Câmara Municipal de SP



Se ligaí! 

Nesta terça-feira, dia 27, às 19h, a Câmara Municipal de São Paulo (Viaduto Jacareí, nº 100, Salão Nobre 8º andar), pelo mandado do vereador Antonio Donato Madormo (PT), realizará Sessão Solene de entrega do Título de Cidadão Paulistano (clique!) ao escritor e jornalista Oswaldo de Camargo

Aos 79 anos, Oswaldo de Camargo, além de um dos mais importantes intelectuais vivos dedicado a literatura produzida por escritores e escritoras negras, também é visto como “elo de gerações”, sobretudo a que apareceu na década de 1970 e que está hoje fortemente atuando nas Letras e na vida social do elemento afro-brasileiro. 

Na ocasião será lançado "Raiz de um Negro Brasileiro: Esboço Autobiográfico", pela Ciclo Contínuo Editorial, e uma coletânea de poemas e textos em prosa do autor e agora "Cidadão Paulistano" Oswaldo de Camargo. 

Participe!

terça-feira, 13 de outubro de 2015

Em SP, curso promove a leitura como política pública e direito de cidadania

Se ligaí! Começa nesta quinta (15), o curso gratuito "A leitura como política pública e direitos de cidadania", promovido pela Escola do Parlamento, no Auditório da Escola Superior de Gestão e Contas Públicas do TCMSP (Av. Prof. Ascendino Reis, nº 1130, Vila Clementino, zona sul de SP, Tel. 5080-1387).

A coordenação é do professor José Castilho Marques Neto (MinC/UNESP). Um dos objetivos do curso é apresentar o panorama do processo de formulação e aprovação do Plano Nacional do Livro e Leitura e do Plano Municipal do Livro, Leitura, Literatura e Biblioteca. 

Na programação: Ruivo Lopes (integrou o Grupo de Trabalho do PMLLLB), Eliana Lucia Madureira Yunes (PUC-RJ), Ricardo Queiroz (CMSP), Rodrigo Ciríaco (escritor e professor), Dolores Prades (Instituto Emília), Vandei Oliveira Zé (Tenda Literária), Nabil Bonduki (Secretário Municipal de Cultura), João Luiz Cardoso Taipas Ceccatini (UNESP), Paulo Gabriel Soledade Nacif (SECADI/MEC), Bel Santos Mayer (IBEAC/SP e LiteraSampa), Alexsandro Santos (CMSP), Dario Ferreira de Sousa Neto (FFLCH/USP), Charlene Kathlen de Lemos (Centro de Formação Cultural da Cidade Tiradentes), Maria Aparecida Arias Fernandez (Centro de Cultura Luiz Freire/PE), Rodrigo Lacerda (Escritor), Ademiro Alves (Escritor). 

Inscrições: de 06/10 a 13/10 (ou até o preenchimento das vagas, o que ocorrer primeiro)  aqui http://goo.gl/KLIsFT

15/outubro
19h – 21h Mesa I – O PNLL e as políticas públicas de livro, leitura, literatura e bibliotecas no Brasil.
  • Eliana Lucia Madureira Yunes (PUC-RJ)
  • Fernando “Ruivo” Lopes (Coletivo Perifatividade)
16/outubro
9h30 – 11h30 Mesa II – O PMLLB em São Paulo: Desafios e Possibilidades da Política Urbana para a Leitura
  • Ricardo Queiroz Pinheiro (CMSP)
  • Rodrigo Ciríaco (escritor – a conf.)
13h30 – 15h30 Mesa III – Democratização do acesso à leitura e o papel da mediação: o que define o acesso, instrumentos e ações contemporâneas.
  • Dolores Prades (Instituto Emília)
  • José Vandei Silva de Oliveira (Tenda Literária – a conf.)
16h – 18h Mesa IV – O valor simbólico da leitura, seu lugar institucional na Política Pública e a Economia Criativa: a história e a contemporaneidade de múltiplas possibilidades.
  • Nabil Bonduki (Secretário Municipal de Cultura)
  • João Luiz Cardoso Taipas Ceccatini (UNESP – a conf.)
19h – 21h Mesa V – Políticas Articuladas de Leitura entre a Educação e a Cultura: história, impasses, desafios, possibilidades.
  • Paulo Gabriel Soledade Nacif (SECADI/MEC)
  • Bel Santos (IBEAC/SP e LiteraSampa – a conf.)
17/outubro
9h30 – 11h30 Mesa VI – Formação de Leitores e as diversidades: A importância da Leitura na afirmação da igualdade nas relações étnico-raciais, nas relações de gênero e das identidades LGBT na metrópole paulistana
  • Alexsandro Santos (CMSP)
  • Dario Ferreira de Sousa Neto (FFLCH/USP)
11h30 – 13h30 Mesa VII – Biblioteca de Acesso Público e Espaços de Leitura: bibliotecas públicas, escolares, comunitárias: missões e espaços múltiplos de leitura, o que permanece no mundo digital?
  • Charlene Kathlen de Lemos (Centro de Formação Cultural da Cidade Tiradentes)
  • Maria Aparecida Arias Fernandez (Centro de Cultura Luiz Freire/PE)
14h30 – 16h30 Mesa VIII – A leitura Literária como principal formadora de leitores plenos: literaturas clássicas e contemporâneas, a literatura periférica das metrópoles, o papel do escritor.
  • Rodrigo Lacerda (Escritor)
  • Aldemiro “Sacolinha” Alves de Souza (Escritor)

Participe e veja como é fácil chegar: https://goo.gl/maps/LZgPMRkyNyD2

domingo, 4 de outubro de 2015

Em SP, Espaço de Leitura promove Fórum temático "Ler é possível" para profissionais da educação



O Espaço de Leitura do Fundo Social de Solidariedade do Estado de São Paulo promove a  terceira edição de seu Fórum orientado pelo tema “Ler é possível - Sobre pedras, percursos e potências na educação”. Voltado para educadores e profissionais de educação, serão dois dias de conversas sobre as possibilidades de leitura de temas difíceis do cotidiano de professores, alunos e escolas. O encontro acontece nos dias 7 e 8 de outubro (quarta e quinta-feira), no Auditório Paulinho Nogueira e no próprio Espaço de Leitura, ambos localizados no Parque da Água Branca (entradas pela Rua Ministro Godói, nº 180 ou pela Avenida Francisco Matarazzo, nº 455, Perdizes, próximo ao metrô da Barra Funda).

Na programação, Ateliês de escrita - Uma leitura possível precede uma escrita possível; Conversa aberta - Não existe um mundo para criança e um mundo para o adulto; Pisoteada, a grama se torna um caminho: sobre a necessidade de dar o primeiro passo, por mais difícil que seja, com exibição de vídeo do escritor italiano Roberto Saviano, leituras de poemas que dialogam com as temáticas suscitadas pelo vídeo;  O chão da escola - conversa aberta sobre temas que circundam o vídeo e livro de Roberto Saviano; Textos silenciados: conversa sobre a existência das minorias; Temas proibidos para crianças; e muito mais!
 
No dia 8, às 15h, o poeta e educador Ruivo Lopes promoverá leitura livre e viva de poemas com quem participou do Fórum.

Clique para conferir a programação completa!
 
A participação nas atividades do Fórum são gratuitas!

Em SP, Seminário promove debate sobre Participação Social em Festival de Curtas de Direitos Humanos


A FESPSP (Faculdade Escola de Sociologia e Política de São Paulo), junto ao seu Núcleo de Diretos Humanos e o Cineclube Dacy Ribeiro, promove, entre os dias 5 e 8 de outubro, o Festival de Curtas de Direitos Humanos Entretodos FESPSP. Na programação (clique!), exibição de filmes acompanhadas dos debates temáticos: "Violência Urbana", "Participação Social" e "Diretos à cidade".  

No dia 6 de outubro, terça-feira, às 17h, o educador e ativista Ruivo Lopes participa da mesa Participação Social com historiadora Isabel Fontana e  Roseli Coelho, professora de sociologia e política da FESPSP. 









Na ocasião serão exibido os curtas "No devagar depressa dos tempos", de Eliza Capa  (25 min.), "Artigo II", de Lê Gozze (4 min.), "O herói da carruagem mágica", de Phillipe Bertrand (15 min.), e "Retrato nº 1, povo acordado e suas 1000 bandeiras", de Edu Yatri Ioschpe (5 min.).

A programação, que faz parte do Festival Entretodos 2015, encerrará com a exibição de um filme da mostra competitiva desta edição.

O evento é gratuito e compõe a programação do Seminário São Paulo: A cidade e seus Desafios e acontecerá na sala 33 da FESPSP, na Rua General Jardim, nº 522, na Vila Buarque, região central de São Paulo.

quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Leiaí, "O vendedor de travesseiros", o novo livro de poesia de Emerson Alcalde

 Leiaí! | Emerson Alcalde está de volta com "O vendedor de travesseiros" (Edições Maloqueirista, 2015), seu mais recente livro de poesias. Alcalde é conhecido dos circuito de saraus de São Paulo, principalmente dos slams (competição de poesia falada), sendo ele próprio um slammaster do Slam da Guilhermina, que acontece mensalmente na zona leste da Cidade. Na poesia, Alcalde estreou com "(A) Massa" (2011), cuja última edição foi bilíngue português/espanhol, tendo participado também de antologias poéticas da cena de saraus de São Paulo. 

Em "O vendedor de travesseiros", Alcalde apresenta o que parece suas novas incursões poéticas sem perder laços com a poesia ora falada ora ritmada, mas também "hermética", próximas de uma "exposição contemporânea que só tem riscos". A performance, que marca as apresentações da poesia falada de Alcalde, são difíceis de serem captadas na versão escrita, daí a surpresa ao ouvir o poeta ao vivo. 

O livro reúne poemas inéditos, e outros feitos para espetáculos teatrais e para o disco "Entre" do rapper paulistano Kamau, responsável pela texto da orelha do livro. "O jeito como ele joga com as palavras se assimila a malabares", diz o rapper paulistano. A atriz-MC Roberta Estrela D'alva, slammaster do ZAP! Slam, assina o prefácio no qual afirma sobre a poética de Alcalde: "As palavras perfomam, clamam pela cena e os devaneios pousam em nossas mentes ao penetrarmos no seu universo, que neste novo trabalho vem carregado de imagens oníricas e surrealistas (...)". 

O livro tem o formato de bolso, tradicional das Edições Maloqueiristas

Recomendo a leitura!

Livro: “O vendedor de travesseiors", 71 páginas
Gênero: Poesia
Autor: Emerson Alcalde
Editora: Edições Maloqueiristas, 2015
Contato: emersonalcalde@hotmail.com
Facebook: Emerson Alcalde de Jesus
Blog: www.emersonalcalde.blogspot.com.br

domingo, 20 de setembro de 2015

Em Santo André, Coletivos e Pontos de Cultura debatem Livro, Leitura e Movimentos Culturais



Se ligaí! | Nesta segunda, dia 21, às 20h, os Coletivos e Pontos de Cultura convidam para o Debate sobre Livro e Leitura e Movimentos Culturais no Gambalaia Espaço de Artes, na Rua das Monções, nº 1018, Santo André (SP) - veja como é fácil chegar: https://goo.gl/maps/PNKoE3eGQAR2. Na roda, a experiência paulistana na elaboração do Plano Municipal do Livro, Leitura, Literatura e Biblioteca e a emergência dos movimentos culturais na conjuntura social e política brasileira. Compartilhe e participe!

sexta-feira, 18 de setembro de 2015

São Paulo tem inédita Feira Literária na Zona Sul



Se ligaí! | É um momento muito propício para a vida literária na cidade de São Paulo. Exemplo disso é a inédita Felizs - Feira Literária da Zona Sul, iniciativa do Sarau do Binho & parceiros. A programação está espalhada em diversos espaços do Campo Limpo e região e tem lançamento de livro, apresentações musicais, conversas literárias, saraus, exposição, oficinas, etc. 


No dia 19, a partir das 13h, na Praça do Campo Limpo, participo da conversa literária "Mercado editorial, mídias alternativas e o Plano Municipal do Livro e Leitura de São Paulo" com Daniel Minchoni (Selo Burro), Berimba Jesus (Edições Maloqueirista), Elizandra Souza (Selo Mjiba), Haroldo Ceravolo (Opera Mundi) e Ricardo Queiroz (ECA/USP e assessor parlamentar para o livro e leitura). Confira a programação completa e participe: www.felizs.com.br

quarta-feira, 16 de setembro de 2015

"Líquido estranho", um poema amargo




Líquido estranho

Nas ruas mais pobres da cidade
escorre um líquido estranho
na calçada, sarjeta e terra batida
Se no vento da noite, coagula... Se no calor do dia, resseca
O líquido que jorra de orifícios negros
deixa sua mancha vermelha por onde passa.

Cena débil nas ruas mais pobres da cidade
corpos caídos, olhos semi-abertos e bocas secas
O cheiro de pólvora perfuma o ar
e o odor de carne atingida a queima roupa
sufoca a garganta.

O líquido vermelho mata a sede dos carrascos
e banha em lágrimas o pranto dos aflitos.

Eis um líquido para que o vento coagule
Pra que os urubus observem, pra que a chuva apague
Pra que o sol resseque, pra que o chão suporte

Eis um estranho e amargo líquido.

Ruivo Lopes

domingo, 13 de setembro de 2015

O incentivo à leitura como política pública em SP



Distribuição de livros no Terminal Campo Limpo, zona sul de SP (Foto: Sarau do Binho)

O incentivo à leitura como política pública

Por Cristiane Gomes

Aprovado em 2011, o Plano Nacional do Livro e Leitura prevê que estados e municípios elaborem suas próprias políticas para a área; capital paulista está prestes a aprovar o seu.

A importância do conhecimento para a construção de uma sociedade verdadeiramente democrática e justa é algo que ninguém pode questionar. E nesta tarefa, o livro tem papel de protagonista. Por isso, se faz fundamental a existência de políticas públicas de incentivo à leitura e à manutenção de bibliotecas que, aliadas à educação e a cultura, possam fazer a diferença. Neste sentido, o Plano Nacional do Livro e Leitura (PNLL) foi instituído em 2011 pela presidenta Dilma Rousseff, como uma política de Estado cujo objetivo é nortear, de forma orgânica, políticas, programas, projetos e ações continuadas desen­volvidos no âmbito de ministérios – em particu­lar os da Cultura e da Educação – governos esta­duais e municipais, empresas públicas e privadas, organizações da sociedade e, em especial, todos os setores interessados no tema. O PNLL foi fruto de um amplo debate realizado em todo o país, envolvendo representantes de toda a rede produtiva do livro.

Como desdobramento do PNLL, os municípios e estados brasileiros tem a responsabilidade de produzir seus próprios planos. No que se refere ao estado de São Paulo, governado há 20 anos por um partido inimigo da educação (basta constatarmos a precária condição da rede estadual de ensino que teve como desdobramento a mais longa greve realizada pelos professores no começo de 2015), a questão está complicada. Diversos cortes do orçamento para a compra de livros para escolas do estado foram realizadas recentemente. “O Estado de São Paulo é refém de uma política cultural e educacional atrelada a objetivos pouco transparentes. Sabemos que revistas periódicas de baixíssima qualidade recebem dinheiro num volume espantoso, por meio de milhares de assinaturas, mas os recursos para aquisição de livros são baixos e, digamos, pouco democráticos pois priorizam apenas algumas editoras”, afirma Rogério Chaves, Secretário de Comunicação e Formação do SEEL, que destaca que o setor editorial de livros no Brasil tem ainda muito campo para desenvolvimento, mas que o fato dos Estados participarem com pouca intensidade é ruim para todos.

Mas a situação na cidade de São Paulo traz certo respiro e esperança na valorização do livro e da leitura como um dos instrumentos mais eficientes para concentração e difusão do conhecimento. A capital paulista está prestes a aprovar seu Plano Municipal do Livro Leitura Literatura e Bibliotecas, o PMLLLB.

Desde 2012, pessoas atuantes nas áreas da leitura, da literatura e do livro vêm discutindo uma política para o setor e a consequente necessidade de um plano municipal. Em abril de 2014, uma portaria intersecretarial publicada no Diário Oficial do Município constituiu o Grupo de Trabalho (GT) para elaborar o PMLLLB. Este GT foi composto por representantes do Executivo Municipal (Secretarias de Governo, Cultura, Educação e Direitos Humanos), da Câmara Municipal e da Sociedade Civil (ONGs, entidades de classe e militantes da leitura). Desde então, já foram realizados mais de 30 debates setoriais e muitas demandas, como reivindicações, propostas e sugestões para a composição do Plano,  vieram desses debates. Em abril deste ano, foram realizadas plenárias públicas com consultas à comunidade das seis regiões da cidade. O processo contou com uma ampla participação de representantes do movimento de literatura periférica da cidade, que conta com um movimento intenso de leitura nos saraus espalhados pelas quebradas paulistanas.

O educador e ativista cultural, Ruivo Lopes, lembra que, desde as iniciativas inovadoras no campo da cultura e educação promovidas pelo escritor Mário de Andrade, no começo do século 20, a cidade de São Paulo é pioneira em ações de acesso da população ao livro. Como a maior herança disso, ele destaca o pioneirismo dos ônibus-bibliotecas que, já na origem, disponibilizavam um acervo móvel mínimo para a população trabalhadora residente nos bairros mais distantes do centro da cidade. “Como tudo no Brasil, essas ações sofreram reveses, algumas acabaram e outras surgiram ao longo dos anos, como a discussão de políticas públicas de incentivo à leitura”, afirma o educador que representou no Grupo de Trabalho sobre a elaboração do PMLLLB, o segmento dos saraus literários espalhados pela cidade.

O PMLLLB da capital paulista inova ao incluir os saraus na elaboração de uma política pública específica que também leve em consideração o papel de formação literária que estes coletivos promovem, principalmente nas periferias da cidade. “É a primeira vez que São Paulo terá uma política pública exclusiva para o livro e a leitura, que promova a bibliodiversidade, reunindo todas as iniciativas já existentes, ampliando e melhorando o acesso, a produção, a mediação, equipamentos e a formação de público leitor. São Paulo não pode desperdiçar essa oportunidade de se tornar uma cidade leitora!”, conta Ruivo Lopes com entusiasmo.

“Nunca se erra quando se investe em ampliar o acesso ao conhecimento. O povo lê, sim, diferente do que o senso comum costuma repercutir. Tanto lê que a experiência dos jornais impressos gratuitos superam barbaramente as tiragens dos jornais convencionais. A experiência das bibliotecas comunitárias populares e do ônibus-biblioteca revelam êxito na ampliação do alcance”, acredita Rogério Chaves, Secretário de Comunicação e Formação do SEEL. A expectativa é que o PMLLLB seja discutido e votado pelos vereadores da Câmara Municipal em setembro.

Para nossa categoria, cerca de oito mil trabalhadores e trabalhadoras em todo o estado de São Paulo, a existência de uma política como o PMLLLB, além de trazer a alegria de contribuir com o cumprimento da função social do livro, se traduz também em melhores salários e condições de trabalho: mais livros produzidos, mais livros lidos. Claro que muitos desafios se apresentam, porém, eles existem justamente para serem superados. O Secretário de Comunicação e Formação do SEEL, Rogério Chaves destaca entre as prioridades de um plano como este, o aumento de tiragens e do investimento na distribuição nacional, valorização da bibliodiversidade e seus autores nativos, e a consequente redução do preço final do livro, para incentivar a leitura dos brasileiros. “Sabemos que em relação ao livro, a economia da cultura se faz com a associação de muitos elementos, entre autores, casas publicadoras, gráficas, papeleiros, distribuidoras, livrarias, bibliotecas, escolas, entre outros, mas fundamentalmente, com a relação primária do capital e da força de trabalho. E esta, a força-de-trabalho, quando mais qualificada e valorizada, só faz ampliar os horizontes de toda a sociedade”, afirma o secretário de comunicação e formação do SEEL.

Publicado originalmente em SEEL.

quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Festa Literária acontece em Cidade Tiradentes


Se ligaí! | Começa nesta sexta, dia 11, a 1ª Festa Literária de Cidade Tiradentes. No domingo, 13, às 16h, compartilho um diálogo com o meu amigo escritor Ademiro Alves (Sacolinha) sobre "Literatura Periférica ou Marginal?", no Centro de Formação Cultural Cidade Tiradentes (Rua Inácio Monteiro, n° 6.900, zona leste de SP). Confira a participação completa http://goo.gl/Rwk93d e participe!

"À deriva", um poema náufrago


Barco lotado de pessoas naufraga no Mar Mediterrâneo  


À deriva

Só tenho minha roupa,
crianças e mulher...
escombros em minhas costas
e a terra sob meus pés

Minha família eu entreguei
para um barqueiro oferecido
Meu dinheiro eu deixei
nas mãos de desconhecidos

A bordo de um bote inflável
foi lançado o meu destino
nas águas frias do Mediterrâneo
eis um novo clandestino

Se o mar for generoso
e a chuva cair amena
e ninguém se desesperar
com o choro das crianças,
sedentas e famintas,
e o bote não virar,
quem sabe
nossas vidas
não fique
no Gibraltar

Em meu país
já fui clandestino
Corri de belgas, franceses,
ingleses, espanhóis,
portugueses, estadunidenses

Corri de todos eles

Em minha cidade
já me iludi
com missões de paz,
liberdade e prosperidade
que fomentaram mais guerra

Me iludi com todas elas

Em minha vila
fui impedido de falar
Minha língua foi proibida
por outra ultramar

E agora não querem me escutar

Desejei a Primavera
renovada em Damasco
e amargurei um porvir
que nunca se realizou

Papel nenhum tem valor
quando se esta em alto mar
A lei num bote inflável é sobreviver
e chegar em paz em algum lugar

A noite turva o horizonte
A manhã lembra que ainda estamos vivos
O mar deixa o corpo salgado
e o sol deixa a pele queimada
A maresia é companheira de travessia

- Vão nos resgatar.
Alguém exclama baixinho
Talvez seja uma mãe
abraçada a seu filho,
talvez seja alguém
delirando nalgum canto

Se tivermos sorte
seremos resgatados com vida
já que a dignidade foi perdida
durante a noite... ou era dia?

O que devo dizer
se eu for resgatado?
Ajude-me... Aiutatemi
Eu sou como você... Yo soy como tú
Não sou terrorista... Ich bin kein Terrorist
Amigo... Ami

Um dia corri deles
e agora eles correm de mim
Me pegam com luvas nas mãos
Me tiram do inferno do mar
e me colocam no inferno da terra

Me chamam de clandestino,
sem papel, imigrante,
refugiado, sem destino
Nunca pelo meu nome

Acaso não tenho direito a um nome,
a uma genealogia, a memória
e lugar?

Todas as histórias que ouvi
de guerras e campos de concentração,
tudo o que me contaram os viajantes
sobre vagões lotados, frio e fome
tudo o que aprendi na escola
sobre liberdade, igualdade e fraternidade,
morreram na praia
como Aylan Kurdi

Terei forças para escalar o muro,
fugir dos cães e dos policiais?
Minha pele resistirá ao arame farpado?
Minha família terá a mesma sorte?

Nas estradas, trilhos e montanhas,
se meus pés aguentarem,
para onde me levarão?

Ouvi dizer que alguns foram abandonados
mortos trancados num baú de caminhão
faltou ar num ambiente sufocante
Mesmo mortos nos abandonam

Somos garrafas lançadas ao mar
Somos a mensagem em carne e osso
Somos fantasmas vagando na terra
Náufragos da civilização
Perdidos num túnel sem saída
Suplicando na porta da fortaleza

Enquanto levamos uma vida proibida
Turistas cruzam o Gibraltar

Os corações estão salgados
e nossa humanidade
está à deriva
em algum bote inflável
em alto mar


Ruivo Lopes


domingo, 6 de setembro de 2015

A universalidade dos versos em "Rua de Trás", da escritora Sonia Regina Bischain



Escrevi o texto a seguir exclusivamente para o Prefácio da 2ª edição do livro "Rua de Trás", da escritora Sonia Regina Bischain. O texto é fruto da leitura e audição da diversidade de vozes ainda silenciadas na literatura brasileira. Boa leitura!

Sonia Regina Bischain, Rua de Trás, 2ª Edição, São Paulo, Maio, 2015.

Prefácio por Ruivo Lopes

A literatura brasileira tem uma dívida com as mulheres. No campo literário, quando são autoras, as mulheres são invisibilizadas pela presença preponderante de autores homens. Nas obras escritas por autoras, as personagens mulheres além de protagonistas são também construídas sem os estereótipos que lhes são atribuídos frequentemente pelos autores homens. Quando são escritoras conscientes da ação cultural desempenhada pela literatura, as mulheres têm seu papel subvertido como quem deseja pela ficção transformar a realidade, assim, afirmam sua existência na busca pela visibilidade negada e o protagonismo na construção da sua própria dignidade. Visibilidade e protagonismo são elementos fundamentais para uma escrita libertadora.

O ato de escrever é também o de anunciar um mundo não só tal como ele é mas também como ele poderia ser. É o que faz a escritora Sonia Regina Bischain, em Rua de Trás, primeiro livro de poemas da autora publicado em 2009, em coautoria com a escritora Bárbara Lopes, e que agora tem a 2ª edição, além de autoral, revisitada e acrescida de poemas inéditos que revelam a maturidade de uma escritora que faz da literatura a extensão da própria vida.

Quero falar um pouco das pessoas
que conheci, que admirei
que me ensinaram a ser quem sou.
Não falo de coincidências ou mero acaso.
Mas sim, de fatos de fato.
Quero, portanto e apenas,
contar algumas histórias,
antes que se apague
toda a memória. (pág. 13)

Quando foi lançado em 2009, em tiragem modesta, no contexto dos saraus Poesia na Brasa e Elo da Corrente, localizados respectivamente nos bairros de Brasilândia e Pirituba, periferias das zonas Norte e Oeste de São Paulo, Rua de Trás revelava uma escritora sensivelmente humana, partícipe dos fatos, dedicada a vida e a sua gente. A humanidade é o fio condutor da poesia comprometida de Sônia Regina Bischain.

“procura-se: esperança, solidariedade,
bondade, confiança, generosidade”. (pág. 27)

Na primeira edição, a autora, além dos poemas, assina também o projeto gráfico, e nele imprime sua visão de mundo em fotomontagem que compõem a capa do livro. Nela, a cidade assume camadas sociais diferentes, sendo a base a estrutura típica dos centros urbanos representadas pelos edifícios verticalizados cujo colorido destaca esculturas de arte a céu aberto, ao fundo e se sobrepondo em maior escala aparece a típica paisagem das periferias cujas construções modestas beiram o córrego ao centro da imagem, sem colorido, só o contrates do preto e branco, assumindo o tom cinza e melancólico das margens da cidade. Coerente com a poética presente em cada um dos seus verso, Sonia Regina Bischain reserva a terceira e última camada da fotomontagem para um horizonte amarelado, sugerindo um entardecer de mais um dia suado, sucedido pelas esperanças cotidianas “do lado de cá do Tietê”, o rio que divide o Centro da Zona Norte paulistana. É no horizonte que está a redenção de quem encontrou morada na Rua de Trás.

Que acendam todas as luzes
da cultura, da educação, da saúde,
de todos os direitos elementares
de todos os homens.
Que seja dia!
Que venha o dia! (pág. 24)

Há algo incomum e também em comum na apresentação da primeira edição que permeia todo o livro. O incomum é o livro trazer duas apresentações, uma do poeta Vagner Souza, e outra da poeta Raquel Almeida, ambos integrantes dos  saraus já mencionados nesta nova apresentação. Em comum, estão os referenciais usados por ambos para situar o leitor e a leitora no livro. O lugar de fala da autora, a persistência dos sonhos ainda a se realizarem, a reivindicação da memória como condição de existência, a urgência dos tempos, a esperança de um futuro inevitável, as duras lições da história que unem e também separam gerações, são enunciados para a poética de Sonia Regina Bischain.

A 2ª edição de Rua de Trás vem de novo a lume após a autora ter publicado dois romances “Nem tudo é silêncio” (2010) e “Vale dos Atalhos” (2013). Os poemas acrescidos a esta nova edição foram escritos entre a publicação dos dois romances e apesar da diferença no gênero, é possível encontrar diálogo entre a prosa e a poesia da autora.

Como se já não bastasse a sensibilidade poética da autora na precisão do conteúdo e da forma dos seus versos, o que garante a ela uma estética própria, Sonia Regina Bischain provoca no leitor e na leitora a sensibilidade imagética das fotografias autorais, isso quando não promove o casamento do texto com a imagem, imprimindo seu olhar poético que enriquece o livro. Assim, as imagens parecem acolher o verso sobreposto e potencializado na leitura conjunta, um apelo à memória e ao não esquecimento.

De sorte algumas palavras
semeadas em campo fértil deram frutos, me
saciaram de beleza, me mataram a fome e a sede
de conhecimento, me encheram de esperança e
coragem. Passo adiante, a qualquer tempo:
palavras. Para quem quiser: palavras que
alimentam, fazem sonhar, e distraem o tempo. (pág. 14)

Na poesia de Sonia Regina Bischain os ninguéns da história são chamados pelos nomes “Carlos”, o jovem negro, órfão, pobre e lindo que morreu de meningite e “Leandro”, vitima do preconceito da nossa sociedade. A autora também rende sua femenagens a duas mulheres igualmente humanas, a cantora argentina Mercedes Sosa, a voz da latinoamerica, morta em 2009, e a médica brasileira Zilda Arns, fundadora da Pastoral da Criança, morta em 2010, no terremoto que devastou Porto Príncipe, capital do Haiti. Há também odes a “Família”, iniciada com a trajetória de “Duas mulheres”, passa pela despedida de “Djalma”, até chegar no “Autoretrato” da autora.

O lugar também ocupa espaço basilar na poesia de Sonia Regina Bischain, misturando-se organicamente a autora. Ora ela remonta o espaço vivido como se fosse um quebra-cabeça em “Como era bela a rua de trás” (pág. 46) seguido de “A rua da frente e a rua de trás” (pág. 119). Ora é o lugar que localiza e, assim, remonta a vida da autora.

Firmei minhas raízes
planto palavras
Aqui, neste meu lugar  (pág. 87).

Enfim, eis a poesia de Sonia Regina Bischain, ancorada nos sonhos e esperanças que nasceram no breve e intenso século XX - alguns poemas datados ainda da conturbada e dura década de 70, outros das décadas seguintes, lembrando um tempo que continua hostil a utopia e ao novo -, permanecem vivos e pulsantes neste limiar do século XXI, ainda fértil de possibilidades no horizonte.

Ao versar a Rua de Trás, Sonia Regina Bischain é universal!

Adquirira seu exemplar diretamente com a autora: soniabischain@hotmail.com