domingo, 25 de janeiro de 2015

Meu "Salve Geral, São Paulo", poema para a minha ÉssePê!


 
                    Minhocão, centro de SP (Foto Elaine Campos, 2011)

Salve geral, São Paulo

Salve, salve os moradores de rua do Minhocão
Salve, salve os vira latas nas esquinas
Salve, salve os meninos da Sé
Salve, salve as meninas da República
Salve, salve as ciganas da Praça Clóvis
Salve, salve as cartomantes do Viaduto do Chá
Salve, salve os cegos do meio fio
Salve, salve os catadores do Brasil
Salve, salve os michês da Vieria
Salve, salve as prostitutas da Luz
Salve, salve as travestis da Jardim
Salve, salve os irmãos e irmãs da Hellvetia
Salve, salve os barracos da Nothmann
Salve, salve os sem teto do Centro
Salve, salve os camelôs da Santa Ifigência
Salve, salve os artesãos da Ipiranga
Salve, salve os bolivianos da Kantuta
Salve, salve os africanos da São João
Salve, salve os haitianos da Glicério
Salve, salve as mulheres e crianças indígenas da Quintino
Salve, salve os cidadãos apressados por todos os lados
Salve, salve os pregadores da XV de Novembro
Salve, salve os franciscanos do Largo
Salve, salve os artistas de rua
Salve, salve os cortiços do Cambuci
Salve, salve os tios nos botecos da Boulevard
Salve, salve os peladeiros da Isabel
Salve, salve os partideiros da Osório
Salve, salve os ritmistas da Santa Cecília
Salve, salve os capoeiras da Mauá
Salve, salve os caboclos da Aldeia
Salve, salve os emboladores da Patriarca
Salve, salve os engraxates na São Jorge
Salve, salve os manos e manas numa relax no Anhangabaú
Salve, salve os poetas do Bixiga
Salve, salve os pichadores nas estrelas
Salve, salve os santos grafiteiros contra o cinza da maldade
Salve, salve os psicóticos da Ladeira da Memória
Salve, salve os enforcados na gravata da Paulista
Salve, salve os manifestantes da polícia
Salve, salve as agentes de saúde, azuis da cor do céu
Salve, salve os guardadores de carros
Salve, salve os curandeiros do Parque Dom Pedro
Salve, salve os ilusionistas da São Bento
Salve, salve as vendedoras de Ocas
Salve, salve os teatros da Roosevelt
Salve, salve os feirantes da Mato Grosso
Salve, salve a vendedora de flores da Consolação
Salve, salve a Igreja dos Homens Pretos
Salve, salve a Mãe Preta do Paissandú
Salve, salve o Luís Gama, imortal no Arouche
Salve, salve o Ilú Obá de Min no Campos Elísios
Salve, salve a Favela do Moinho
Salve, salve a distribuição de sopa da Rio Branco
Salve, salve geral, São Paulo!


Ruivo Lopes (1ª versão não publicada, 2013).