quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

Ruas fez a coisa certa


Ruas fez a coisa certa
 
A prisão dos dois jovens de 21 e 26 anos que espancaram até a morte o ambulante Luiz Carlos Ruas, conhecido como Índio, de 54 anos, dentro da estação de metrô Pedro II, onde trabalhava há 20 anos, na região central de São Paulo, é a primeira parte do rito processual que enfrentarão daqui pra frente. Se condenados, poderão pegar até 20 anos de prisão, ambos darão adeus à juventude e carregarão para sempre a morte covarde que promoveram em pleno feriado de Natal. Não será pouco para ambos e suas famílias. Impagável para Ruas, sua família e amigos. Mortes banais e covardes como a de Ruas devem ser motivo de reflexão sobre o modelo de sociedade que temos e vivemos. Para não cairmos na mais grotesca indiferença em relação ao outro, devemos combater as barbáries cotidianas que marcam nossas cidades. Não permitir que mortes como a Ruas sejam naturalizadas é uma das formas de combater a barbárie.

Foi o que fez Ruas ao defender duas travestis em situação de rua que estavam sendo agredidas por dois jovens. Desesperadas, as duas travestis correram para dentro da estação de metrô. Ruas também tentou se proteger na mesma estação, mas não teve a mesma sorte. Foi perseguido e brutalmente espancado até a morte pelos dois jovens. Ruas foi morto com golpes desferidos seqüencialmente pelas mãos e pés, atingido principalmente na cabeça e rosto, mesmo depois de caído, desmaiado e sem nenhuma chance de defesa.

Certamente a brutalidade com que espancaram Ruas pesará contra os dois jovens no processo que sofrerão. Processos como este passam para a sociedade a sensação de justiça. Mas pouco contribui para que a sociedade reflita as violências cotidianas contra sua própria população, principalmente as mais vulneráveis, como as pessoas em situação de rua, ou aquelas que são alvos preferenciais de ataques de ódio, racismo, machismo e LGBTfobia. Também não contribui para a sociedade compreender e combater o que gera tamanha violência.

A justiça não deve ser limitada apenas as formalidades dos devidos processos judiciais. A justiça, ou seja, o direito de cada pessoa existir com plena dignidade, deve ser um valor compartilhado por toda a sociedade de modo que o ataque a dignidade alheia é um ataque a toda coletividade. Portanto, justiça e solidariedade são os maiores bens a serem preservados por qualquer sociedade que não queira sucumbir à barbárie.

Já dentro da estação de metrô, as câmeras de segurança registraram o espancamento de Ruas. No registro exibido posteriormente nas redes de televisão, enquanto Ruas era espancado até a morte, é possível ver várias pessoas transitando pelo local. Todas passam pelo espaço, até olham para a cena do espancamento, poucos param a distância, mas ninguém intervém. Tampouco havia seguranças de responsabilidade do metrô no local. O socorro chegou uma depois de o espancamento ter acontecido. Ainda assim, chama atenção que ninguém interveio para que os dois jovens parassem de espancar Ruas.

Com a repercussão dada pela televisão, certamente quem passou por ali no instante do espancamento tomou conhecimento do que de fato aconteceu e que aquele senhor caído no chão, desmaiado, sendo espancado, foi morto ali mesmo pelos dois jovens, até então desconhecidos. Como ficam suas consciências quando perguntado se acaso tivessem intervindo?

Ruas interveio. Não ficou indiferente diante do ataque sofrido pelas duas travestis na rua. Assim, não permitiu que fizessem com as outras pessoas aquilo que não queria para si nem ninguém. Pagou com a própria vida. Ruas não pode ser esquecido. Ele nos deixa o legado de que diante da injustiça, não se pode ter dúvidas, é melhor agir para impedir que ela continue acontecendo. Pessoas como Ruas fazem permanente a luta em defesa dos direitos humanos. Com simplicidade, Ruas fez a coisa certa!

quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

Fanzines nas zonas de Sampa

Se ligaí! | Neste sábado (10), às 14h, na Biblioteca Infantojuvenil Monteiro Lobato (Rua General Jardim, nº 485, Vila Buarque, região central de SP), acontece o encontro de finalização do circuito anual Fanzines nas Zonas de Sampa com a participação de Márcio Sno, quadrinista e fanzineiro há mais de 20 anos, editou diversos zines e fez ilustrações para bandas e publicações. Entre 2011 e 2013 lançou três capítulos da série de documentários "Fanzineiros do Século Passado". Participe!

domingo, 13 de novembro de 2016

Trump e Temer & outros escritos e bem ditos


Trump é uma arma apontada para a minha cabeça. [Arte por Seth David Tobocman]

Trump e Temer 

Surpreso ou qualquer coisa que o valha com a vitória de Trump nos EUA? Os mesmos EUA já elegeram um ator para presidente. Procure os melhores discos punks produzidos nos EUA no início dos anos 1980 e terá o melhor retrato crítico do que foi o governo do também republicano Ronald Reagan.

Se a eleição de Trump é ruim para os EUA e o mundo, preste atenção no programa sem voto implementado pelo presidente não eleito Michel Temer no Brasil.

Trump é ruim pelo o que já anunciou. Mas Temer é pior pelo o que já tem feito!

A conveniência do Estado Mínimo

No momento em que o governo Temer pretende aprovar PEC (Projeto de Emenda Constitucional) 55 (antes 241) para congelar investimentos públicos durante 20 anos - equivalente a duas gerações -, eis que leio na Folha de S.Paulo do dia 7 que o mesmo governo prepara medida provisória para salvar da falência a Oi, empresa privada de telecomunicações. Caso aconteça, a medida abrirá precedente para intervenção do governo para salvar da falência qualquer empresa privada que presta serviço público.

No Brasil, desde a década de 1990, durante os governos Collor-FHC, com a abertura incondicional do País para o mercado internacional, o empresariado (cada vez menos) nacional promove um mantra de que Estado bom é Estado mínimo. Balela! 

Desde a crise financeira (porque a econômica é coisa do passado) de 2008, a partir dos EUA, que o mercado recorre, quando convêm, aos cofres públicos para salvá-lo da falência. Na Europa, quem dita as regras austeridade que varreu a economia grega, por exemplo, foi a Alemanha.

Com a PEC 241 e a possível medida para salvar empresas privadas da falência com dinheiro público, fica evidente a opção que o governo Temer faz: salvar o mercado financeiro e congelar investimentos públicos!

Suspeito ou... 

Pelas características com que agiu, atuando coordenada, articulada e espetacularmente com outros estados, suspeito (ou "não tenho provas, mas tenho convicção") que a Polícia Civil tenha tornado pública uma perigosa, arbitrária e belicosa competição por visibilidade e prestigio político com a Polícia Federal, detentora hoje da elite policial brasileira.

Esta ação contra o MST, outra suspeita (ou...) , cheira a Planalto, particularmente Ministério da Justiça, e é típica de mente de alguém como Lex Luthor!



MST é vítima de arbítrio, perseguição política e violência da Policia Civil 

Em notícia veiculada pelo G1 Mogi das Cruzes e Suzano, com texto das jornalistas Fernanda Lourenço e Jamile Santana, com base em informações da TV Diário, [na invasão organizada pela Polícia Civil a Escola Nacional Florestan Fernandes, em Guararema, SP] "Um dos dois detidos, segundo o MST, é RONALDO VALENÇA HERNANDES, 60 ANOS, que TRABALHA NA BIBLIOTECA DA ESCOLA e TEVE UMA FRATURA NA COSTELA. Segundo a polícia, ele É UM DOS AGRESSORES DOS POLICIAIS". Seu Ronaldo foi liberado junto com Glades Antonia de Oliveira, também acusada de agredir os policiais.

Os fatos noticiados escorem o arbítrio policial típico da ditadura servil-militar (da qual a Polícia Civil também é responsável), a perseguição política e violência características das instituições policiais com que a Policia Civil agiu na manhã do dia 4 contra o MST.

Assista o vídeo que registra o momento da invasão dos policiais civis a Escola Nacional Florestan Fernandes e reflita sobre a desproporcionalidade dos fatos noticiados!


quarta-feira, 2 de novembro de 2016

#OndeEstãoOs5JovensDaZonaLeste? e outros escritos e bem ditos

#OndeEstãoOs5JovensDaZonaLeste? 

A origem das polícias no Brasil é a sistematização, por parte do Estado, da barbárie promovida pelos poderosos que já se praticava desde o período colonial contra os povos indígenas e negros. Ao longo de toda nossa história, a violência policial, portanto do Estado, com a conivência dos poderosos, só foi aprimorada. 

A violência policial no Brasil é uma epidemia! Sendo praticada sistematicamente por agentes do Estado, coloca em questão o Estado Democrático de Direito. 

No Brasil, há anos, investe-se muito mais em efetivos estaduais formados por policiais militares do que em policias investigativas, ouvidorias ou controle externo da atividade policial, sobretudo quando se trata de crimes praticados por policiais como tortura, chacinas, execuções sumárias, ocultação de cadáver e desaparecimento forçado de pessoas. 

Um caso recente deveria perturbar o sono da democracia brasileira. Há mais de 10 dias, familiares de quatro jovens, entre 16 e 19 anos, e de um motorista, vivem a angustia de não terem notícia alguma sobre eles. Desapareceram. 

A última informação que as famílias dizem ter a respeito do desaparecimento é um áudio que Jonathan, um dos jovens, mandou para uma amiga dizendo que havia sido parado pela polícia naquele dia. 

Além de Jonathan, os também amigos Caíque, César e Robson, todos da zona leste de São Paulo e um colega, Jones, motorista do grupo, estão desaparecidos. O carro foi localizado, abandonado e vazio. 

O portal Ponte Jornalismo (clique!), comprometido com os Direitos Humanos, está fazendo reportagens sobre o caso. O MovimentoMães de Maio (clique!), que reúne familiares de vítimas da violência do Estado, está divulgando a campanha #OndeEstãoOs5JovensDaZonaLeste? para dar visibilidade ao caso. 

Nenhuma democracia pode suportar do Estado, seja pela ação ou omissão, tamanho arbítrio. Se queremos uma democracia, o Estado nos deve uma resposta: #OndeEstãoOs5JovensDaZonaLeste? 

Ninguém é uma ilha! 

O Partido dos Trabalhadores foi o maior derrotado nas eleições municipais de 2016. Ponto! Foi derrotado exatamente na instância política que marcou a história do PT, o município. Ao ser derrotado nas urnas, foi derrotada também a esquerda como um todo. Por favor, não façamos da exceção a regra. Sei que esta afirmação é discutível - nem tudo cabe nas urnas e a esquerda é plural, não se resume hoje ao PT, concordo tanto quanto não há esquerda sem o PT. 

A mensagem de ódio ao PT depositada nas urnas nestas eleições municipais de 2016 é também uma mensagem de ódio para qualquer coisa que se pareça ou lembre o PT, ainda que não seja. Da democracia participativa - a direita no Brasil é tão arcaica que precisamos adjetivar a democracia - à constitucionalidade e as políticas públicas setoriais (Igualdade Racial, Mulheres, LGBT, Direitos Humanos). Qualquer pessoa que seja um ponto fora da curva hoje, a princípio, é petista e terá dificuldade para explicar que não é. 

Daqui pra frente só quero saber do que pode ser ponto em comum entre as esquerdas, entre os que são de esquerda mas acham que estão acima das esquerdas, entre autonomistas, anarquistas, socialistas, comunistas, antiautoritári@s, antirracistas, antimachistas, anti-sexistas, anticapitalistas, anti-tudo-que-está-aí, progressistas, democratas, humanistas, ecumênicos, pós-modern@s, malucos beleza, punks, gerações w, y, z, ingovernáveis, gente boa que se recusa a pensar em si - a fazer dos seus problemas o centro dos problemas do mundo - para olhar a sua volta e compreender que seu problema também é (deve ser!) coletivo, irmanar-se e dedicar-se ao bem comum. 

Sou otimistas, apesar de... sigo a utopia!

I have a dream... 

Sonhei que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso havia sido investigado pela privataria tucana iniciada em 1997!

I have a dream... 2 

Depois do ex-presidente FHC, sonhei que outro tucano, dessa vez o senador José Serra, atual Ministro das Relações Exteriores do governo Temer, foi acusado na Lava Jato de ter recebido R$ 23 milhões, por meio de uma conta na Suíça, repassados pela Odebrecht via caixa dois à campanha presidencial de 2010. Sonharei também com outros tucanos, Aécio e Alckmin?

Querido Leonel Brizola!

Espero que esta mensagem o encontre bem e em paz, já que por aqui, a vida não anda nada fácil! A política, nossa razão, inferniza nossas vidas sem nenhum descanso.

Vou direto ao assunto, como o senhor gosta, sem tempo pra esfriar a água para o chimarrão.

Neste domingo, acontecerá no Rio de Janeiro, uma eleição importante.

Marcelo Freixo (PSOL 50), um jovem político de esquerda, democrático, progressista, forjado em novos movimentos sociais e comprometido com os direitos humanos, disputará, representando um igualmente jovem partido socialista, o governo municipal da Cidade, tendo como adversário um conhecido religioso que alçou à política graças aos louvores da Igreja Universal do Reino de Deus.

Taí, o motivo da minha mensagem.

O senhor conhece bem o Rio e suas profundas contradições, preocupado que foi com as coisas da gente, principalmente com a educação no Estado.

O senhor precisa falar para o Senhor daí que a imagem dele não anda muito bem por aqui. Usam o nome dele a torto e à direita.

Peça uma força pra Ele nos ajudar, pois o povo sofrido do Rio, não aguenta mais tanto desmando, descaso, desfaçatez e pegar latinha nos megaeventos que a Cidade recebe.

Experiente como o senhor, peça os votos do outro Senhor para ajudar a eleger Marcelo Freixo.

Da nossa parte, ficaremos atentos e de olho para que ele não nos decepcione, nem aos Senhores (fiquei na dúvida agora se escrevia com maiúscula ou minúscula, já que me referia ao senhor, Leonel, e ao outro Senhor).

Espero vê-lo um dia (mas me perdoe, ainda não em breve)!

Abraço no Jango, no Glauber, no querido Darcy, no Abdias e diga ao Niemeyer que continuo concordando com a Simone, Brasília não tem alma nem coração!

Do reino dos pobres mortais,

Ruivo Lopes
São Paulo, 29 de outubro de 2016.

Obs.: Marcelo Freixo ficou em segundo lugar na disputa pela prefeitura do Rio. 

Mãos sujas de sangue! 

As Jessicas existem, algumas com outros nomes, como Ana Julia, a estudante de escola pública ocupada que retorceu deputados na Assembleia Legislativa do Paraná ao dizer a eles, alto e bom som: "A mão de vocês está suja com sangue"!

O que fizemos para impedir que Dólar fosse eleito em SP? 2 

Há algumas semanas publiquei um comentário neste humilde, mas valioso, espaço a seguinte questão - não pergunta - pra reflexão - não resposta. O que fizemos para impedir que Dólar fosse eleito em SP? 

Dada a nacionalização da eleição municipal considerava importante a manutenção do mandato de Fernando Haddad. E não se tratava de apoio incondicional. 

Pois bem, leite derramado. 

Dólar foi eleito com apoio incondicional da tríade do mal política-empresarial-midiática, selando o golpe na maior, mais populosa e mais rica – e por isso ainda muito desigual - Cidade do País. 

O golpe venceu em SP. 

Percebo um fugaz desconforto diante dos possíveis nomes para apoiar a gerência regressiva de Dólar em SP. 

Mantenho a questão: o que fizemos para impedir que Dólar fosse eleito em SP?

Sabe de nada... 

O presidente do senado Renan Calheiros é um político experiente. Mas, ao reclamar das prisões dos policiais legislativos, comporta-se de forma ingênua. Alexandre de Moraes nunca foi ministro da justiça de Temer no Palácio do Planalto. Moraes obedece apenas ao Palácio dos Bandeirantes em SP!

É pra você... 

De Alexandre de Moraes (justiça), cota do governador tucano Geraldo Alckmin (SP) no ministério de Temer: "Vocês vão ter que me engolir"!

O banquete 

Não, não foi o banquete promovido pela milionária Sarah Light, personagem da classe dominante do livro de Mário de Andrade, numa tarde de domingo no solar de inverno que ficava no subúrbio de Mentira, a simpática cidadinha da Alta Paulista. 

Foi em Brasília, na noite de 24, na casa de Rodrigo Maia, o medíocre presidente da câmara, que as decisões sobre a república foram tomadas. 

Aliás, o Brasil de hoje é governado a base da gula de poder. Troca-se o fórum público dos debates pelo privado dos jantares da casa grande. 

Ao povo, restam os farelos que caem do banquete dos medíocres!

Alugar o Brasil 

O editorial da Folha de S.Paulo do dia 23 manda Temer "apressar o programa de concessões de obras de infraestrutura e de privatizações em geral" (...) "antes do final de 2017". 

Revelo um segredo da República: Temer é um títere! 

Explico: por trás da sanha privatista estão grandes nomes do PSDB com forte experiência adquirida durante os governos FHC. Estes nomões do sudeste integram ou são base de apoio do governo Temer, por pura conveniência. 

No entanto, lembremos, o PSDB é autor de uma ação que pede a cassação da chapa Dilma-Temer - isso mesmo! -, mesmo que tucanos integrem o governo do último. 

Temer é um político experiente feito títere que está fazendo o trabalho sujo e sem nenhuma alternativa. Fará o trabalho sujo e ficará lambuzado, pois tudo indica que o PSDB deixará o governo e sua base até o final de 2017, engrossará uma oposição à direita para se colocar como alternativa na disputa presidencial de 2018. 

Só não se sabe ainda se a ala mineira do PSDB dará espaço para a ala paulista ou vice versa ou ainda se formarão chapa pura, o que é muito improvável. Tucanos juntos se bicam e se machucam. 

Daí, a pressa exigida pelo editorial da Folha, encomendado, certamente, por um tucano quem não dorme à noite!

domingo, 23 de outubro de 2016

Cultura, Educação e Direitos Humanos



Cultura, Educação e Direitos Humanos 

Agradeço a cada participante do Círculo de Cultura, Educação e Direitos Humanos que aconteceu na preguiçosa e gostosa sexta-feira (21), durante o IV Fórum Educação Popular - Você tem fome de quê? (clique!), na UNIFESP Baixada Santista unidade Silva Jardim, Santos.

Nunca imaginei que no bairro em que passei parte da minha meninice, famoso pela concentração decí cortiços, um dia haveria uma Universidade Pública.

Agradeço a cada pessoa dedicada a organização e também por terem escolhido participar destes Círculo, enquanto outros aconteciam, e também pelas valiosas contribuições, diálogo e propostas. 

Era para durar 1h30, e fomos a quase 3h de duração do Círculo. 

Mesmo assim, em tão pouco tempo, terminamos o Círculo com 3 propostas consideradas viáveis de serem realizadas pel@s participantes, em processos da Educação Formal ou da Educação Não-Formal - eu prefiro Popular! 

Torço para que se encontrem novamente, experimentem, reflitam e nunca deixem de realizar o que planejaram e combinaram, pensando sempre na transversalidade da Cultura (cotidiano), Educação (permanente) e Direitos Humanos (ações em defesa/conquistas de direitos). 

O importante é fazer-estar-ficar junt@s. 

Vejo vocês no próximo Fórum!



Acerto de contas 

Acertada - e um tanto surpreendente! - a decisão do juiz Valentino Aparecido de Andrade, da 10ª Vara da Fazenda Pública da capital que condena o Estado de SP a pagar R$ 8 milhões por danos morais sociais pela violência praticada pela Polícia Militar durante a repressão às manifestações de junho de 2013.

A decisão também vai além, determina a elaboração de um plano de atuação policial em protestos que preveja a identificação por nome e posto dos policiais militares em local visível da farda, esclareça as condições de ordem de dispersão de manifestações, proíbe o uso de armas de fogo, balas de borracha e gás lacrimogênio – exceto em situações excepcionais em que os protestos percam "totalmente o caráter pacífico".

Óbvio que o Estado de SP, e o brasileiro, são os maiores responsáveis pelas violações de direitos humanos no país, seja pela ação - como é o caso, em meio a tantos outros - seja pela omissão que permite que violações aconteçam Brasil afora. 

É importante lembrar que a violência policial não começou nem acabou em junho de 2013. A violência é regra da atuação da PM! 

A importância desta condenação - enquanto durar, porque foi em primeira instância, lembremos também a desastrosa decisão do Tribunal de Justiça de SP que recentemente anulou o julgamento e absolveu PMs que participaram do Massacre do Carandiru - está na jurisprudência criada, podendo servir para ocorrências futuras em que a violência policial for denunciada na justiça. 

Há muito o que se fazer, inclusive cumprir a recomendação de maio de 2012 do Conselho de Direitos Humanos da ONU para o Brasil extinguir a PM!

quinta-feira, 20 de outubro de 2016

Em Santos, UNIFESP promove IV Fórum Educação Popular




























Se ligaí! | Nesta sexta, 21, acontece o IV Fórum Educação Popular - Você tem fome de quê? (clique!), na UNIFESP Baixada Santista unidade Silva Jardim, Santos. Participo do Fórum com a abordagem "A transversalidade da Cultura, Educação e Direitos Humanos", com interessados/as na educação formal e não formal. O Fórum é aberto, portanto fique a vontade para participar!

domingo, 16 de outubro de 2016

Não à PEC 241 e outros escritos e bem ditos


Contra a PEC 241, reforma tributária já! 

A burguesia brasileira bancou a eleição dos representantes dos seus interesses no congresso nacional. O congresso nacional, cumprindo o compromisso com a burguesia que bancou sua eleição, mentiu mais uma vez para o povo brasileiro sobre o retrocesso econômico e social que significa a PEC (Projeto de Emenda Constitucional) 241, que pretende modificar a Constituição de 1988 e piorá-la para trabalhador@s assalariad@s, pobres em geral e dependentes de serviços públicos, especialmente saúde e educação.

Os meios de comunicação dominante, porta vozes da burguesia brasileira, amplificaram a mentira por trás da PEC 241. O povo brasileiro cuja maioria formada por trabalhador@s assalariad@s, pobres em geral, parece anestesiado, indiferente e alheio a tragédia anunciada que congelará recursos públicos fundamentais para os próximos 20 anos. Alguém, em sã consciência, consegue sequer imaginar que país será esse daqui a 20 anos de estagnação de investimentos públicos?

É preciso recuperar a história. Temos a triste lembrança dos anos 1990, durante governos Collor e FHC, crise política, sequestro da poupança, estagnação de salários, nenhum investimento público e social, troca de moeda, privatização do rico patrimônio nacional, aposentados chamados de "vagabundos" pelo presidente de plantão, demissões em massa, empobrecimentos das cidades e uma burguesia que ria a toa diante de tudo isso. A década de 1990 foi uma tragédia para trabalhador@s assalariad@s, pobres em geral e dependentes de serviços públicos.

Agora, a história se repete como farsa. Se o povo brasileiro permitir que essa PEC seja aprovada, estará lançando a próxima geração - seus filhos e filhas - na completa incerteza sobre o futuro. Voltará a corrente que manterá agrilhoada gerações. A cobrança pela crise econômica deve ser para os de cima e jamais para os de baixo. Portanto, recuperar a economia significa em primeiro lugar promover a reforma tributária e cobrar dos ricos a devida conta social do país que os enriquece há gerações!

Freire-ando: há 20 anos! 

"Não posso aceitar como tática do bom combate a política do quanto pior melhor, mas não posso também aceitar, impassível, a política assistencialista que, anestesiando a consciência oprimida, prorroga, 'sine die' - sem data marcada! -, a necessária mudança da sociedade. Não posso proibir que os oprimidos com quem trabalho numa favela votem em candidatos reacionários, mas tenho o dever de adverti-los do erro que cometem, da contradição em que se emaranham. Votar no político reacionário é ajudar na preservação do 'status quo'. Como posso votar, se sou progressista e coerente com minha opção, num candidato em cujo discurso, faiscamente de desamor, anuncia seus projetos racistas?". Paulo Freire, "Ensinar exige a convicção de que a mudança é possível", em "Pedagogia da Autonomia - saberes necessários à prática educativa", Paz e Terra, 1996.

O que fizemos para impedir que Dólar fosse eleito em SP? 

Nunca pensei que apoiar a gestão Fernando Haddad nesta eleição fosse um dever somente do PT e da coligação partidária.

Dado o contexto desta eleição, considerava também um dever das esquerdas, dos de baixo - trabalhador@s, pobres, das periferias -, dos progressistas e pessoas comprometidas com a democracia - nem tão de esquerda assim!

Portanto, não se tratava de apoio incondicional.

Tinha essa consideração - contraditória, confesso! - exatamente porque imaginava que o golpe que galopa arbitrariamente no país pudesse produzir mais indignação e menos pragmatismo neste diverso campo político - e às vezes nem tão político assim.

Mas não. A eleição de Dólar em SP, com apoio incondicional da tríade do mal política-empresarial-midiática sela o golpe na maior, mais populosa e mais rica – e por isso ainda muito desigual - Cidade do País.

Não há dúvida: o golpe venceu em SP.

Antes de brincar de analista político e atribuir que "o inferno são os outros" precisamos nos perguntar: o que fizemos para impedir que Dólar fosse eleito em SP? [Imagem: "O grito", Edvard Munch, 1893, Noruega]

Ruivo Lopes (SMC/CSMB), Miro Nalles (SMC/CSMB), Sheila Coelho (SME) e Ricardo Queiroz (Câmara Municipal) em diálogo com educadoras/es sobre políticas públicas de livro, leitura, literatura e biblioteca durante a FLICT-Festa Literária de Cidade Tiradentes, na Biblioteca de Direitos Humanos Maria Firmina dos Reis, zona leste de SP.

De manhãzinha, na manhãzinha, na UNICID, zona leste de SP, conversando com estudantes sobre leitura e literatura de dentro e de fora da margem com meu chapa Valmir Souza, a convite da professora do curso de letras Isabel Lagedo Pizzingrilli. Foi um prazer, valeu a atenção, os poemas declamados, cada inquietação... só faltou a sombra de uma mangueira!

Crise de identidade 

O campo da esquerda, de fato, não se preparou para este momento.

Confuso, disputa entre si a narrativa, a estratégia, a vaidade e a liderança de um processo ainda sem rumo.

Na incapacidade de incomodar os verdadeiros adversários, prefere jogar pérolas aos porcos ao invés de lavagem.

Além de confuso, parece ter flexibilizado alguns princípios e com isso esquece também da sua própria história, capítulos de "sangue, suor e barricadas".

O monopólio da violência é do Estado e numa sociedade de classes, violentamente desigual, o Estado representa o poder das elites que dele se apropriam, logo a violência dos agentes de Estado representa a violência das elites que o controlam e cujo objetivo maior ainda é a defesa da propriedade privada. Refiro-me aqui não aos bens básicos da classe trabalhadora, mas, sim, ao capital hereditário, marca da sociedade de classes no Brasil.

Parte da esquerda abandona convenientemente suas cartilhas, por isso, alguns se prestam a fazer papel de "inocentes úteis" ao atender os apelos de editorais da imprensa dominante que clamam pela barbárie em praça pública.

É coerente que as policias se curvem aos clamores da barbárie estimuladas pelos seus mandantes nas elites. O que é inaceitável é que parte da esquerda identifique no seu próprio campo o "inimigo comum".

Quando parte da esquerda e a direita convergem no mesmo ponto, é hora da esquerda deitar no divã!

Desobediência civil 

Consumado o golpe, o povo brasileiro se vê transportado para a incerteza dos próximos anos numa locomotiva comandado por aventureiros inconsequentes dispostos a cortar caminho para chegar ao poder.

A irresponsabilidade das elites políticas acaba de lançar o Brasil na completa imprevisibilidade política, econômica e social.

Este país sempre foi dividido, saiu dividido das urnas em 2014 e permanecerá dividido não só pelo voto, mas pelas profundas desigualdades que ainda marcam o país, nossos males de origem estimulados pelas elites ressentidas de um passado nem tão distante assim.

Neste momento, a locomotiva chamada Brasil está em movimento regressivo.

Uma questão histórica se coloca ante o povo brasileiro.

O povo brasileiro terá a árdua tarefa de livrar-se dos golpistas no poder e dos igualmente golpistas que sustentam os golpistas no poder, e retomar os rumos desta locomotiva.

A locomotiva Brasil foi desviada do seu rumo histórico. Mais do que lembrá-los todos os dias de que são golpistas - nas ruas, nos bairros, nas cidades, Brasil afora e no exterior -, será preciso combater os golpistas todos os dias, de todas as formas necessárias.

A desobediência civil será o princípio da resistência!

Erês | Eu fico com a pureza da resposta das crianças. É a vida, é bonita! [Foto Joao Claudio De Moura Sinto]


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Sucessão de golpes 

O que me preocupa não é o grito dos corruptos, dos violentos, dos desonestos, dos sem caráter, dos sem ética..., como dissera Martin Luther King. O que me preocupa é o silêncio e a passividade dos 54.501.118 votos que confirmaram pela segunda vez Dilma Rousseff presidenta do Brasil!

Aconteceu! 

Na Câmara Municipal de São Paulo, o bate-papo "Implementação do Plano Municipal do Livro, Leitura, Literatura e Biblioteca 'Lei Antonio Candido' - Projetos de incentivo à leitura e Bibliotecas comunitárias", com José Castilho Marques Neto, ex secretário do Plano Nacional do Livro e Leitura, e diversos agentes que atuam na defesa de políticas públicas para a leitura em São Paulo!

sábado, 6 de agosto de 2016

Sarau reúne cena poética das periferias em Itaquera, zona leste de SP


Se ligaí! Acontece hoje (6), a partir das 16h, o Grande Sarau do Coletivo #SomosNós (clique!), reunindo professoras/es, ativistas sociais, militantes de movimento negro, feminista e LGBTs e de cursinhos populares, na Sub-Sede da Apeoesp de Itaquera (R. Colonial das Missões, nº 204, próximo à estação de trem Dom Bosco, zona leste de SP). 
Na programação: o Poeta Sergio Vaz (Cooperifa), lançará seu mais recente livro “Flores de Alvenaria”, com participação das poetizas Luíza Romão e Débora Garcia, Ruivo Lopes e Vinão Alobrasil (Perifatividade), Allan da Rosa, o fotógrafo e ativista Sérgio Silva, Rocha Silva (QI Alforria), os cantores e compositores Aloysio Letra, Tita Reis e Clayton Belchior e o Jongo dos Guaianás e mais... Participe!

domingo, 31 de julho de 2016

Por que os ricos riem à toa?


Cumplicidade 

Em 2015 e no durante o primeiro semestre de 2016, paulistanos ricos e da classe média tradicional se reuniram em frente a sede da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), na avenida Paulista (SP), para dizer "chega de pagar o pato" e pedir "impeachment" e "renúncia já", em referência a presidenta Dilma Rousseff. As concentrações em frente da Fiesp tiveram ampla repercussão na imprensa dominante.

Anos atrás, lembro-me de um promotor de Justiça afirmando falar na tevê que no Brasil, país de profundas desigualdades, ninguém fica rico sem cometer ilegalidades - da sonegação de direitos trabalhistas a impostos, do tráfico de influência ao patrimonialismo. "Feche os olhos, escolha um imposto de renda vultuoso, investigue para constatar ilegalidades que favoreceram o enriquecimento", dizia o promotor do qual não me lembro o nome. O mote do programa era "Por que os ricos riem à toa?". 

Pois bem, sabe-se agora pela imprensa que o empresário Laodse de Abreu Duarte, que é diretor da Fiesp, acumula a incrível quantia de R$ 6,9 bilhões em débitos pendentes em tributos públicos, o que lhe garante a alcunha de “maior sonegador do Brasil.” Outros empresários somam dividas públicas de R$ 1 trilhão, suficientes para saldar a dívida e gerar superávit no orçamento da União previsto para este ano. 

Se houvesse alguma coerência nos desfiles que os paulistanos ricos e da classe média tradicional promoveram na frente da Fiesp, eles se sentiriam constrangidos, traídos pelo papel que desempenharam fazendo coro aos empresários ligados a instituição. Se houvesse alguma coerência exigiriam explicações, retratações, punições. Mas não, o silêncio prova cumplicidade. 

Quem paga o pato pela desigualdade no Brasil é a classe trabalhadora, humilhada e ofendida, usurpada em seus direitos básicos por um seleto grupo que enriquece em detrimento da grande maioria. Por isso, é fundamental a taxação sobre a riqueza para devolver ao público, via investimentos em serviços essenciais a população, o que é para o bem comum!

Educação


Não há neutralidade na educação. Neutralidade diante da desumanização é alienação. Portanto também é uma posição, a de indiferença em relação ao outro, à coletividade e à sociedade. É na educação que a cultura da solidariedade se refaz e humaniza a tod@s! [Foto RL, SP, 2016]

Eu apoio! 

[Foto RL, SP, 2016]

E agora, Temer? 

Há menos de um ano, em setembro de 2015, ante o baixo índice de aprovação do governo da presidenta Dilma Rousseff, o então vice-presidente Michel Temer revelou seu instinto pelo golpe.

"Ninguém vai resistir três anos e meio com esse índice baixo", disse Temer na ocasião.

Divulgada no dia 1º, a pesquisa CNI/Ibope aponta que a gestão do presidente interino é aprovada apenas por 13% da população.

E agora, Temer?

[Foto RL, SP, 2016]

domingo, 3 de julho de 2016

Por uma cultura do bem comum

Opinião pública explícita: Fascistas não passarão! 
[Foto: Ruivo Lopes, SP, 2016]

Patrimonialismo cultural 

Na utopia do bem público, tudo aquilo que recebe investimento público, ou seja da coletividade, deveria ser orientado pela gestão e interesse públicos - coletivos! Só que não... 

Há muito tempo, temos visto no Brasil, onde o investimento público em iniciativas da sociedade é enorme, que as organizações privadas são as maiores beneficiárias dos recursos públicos. 

A isenção fiscal é obra do neoliberalismo que apenas suga do Estado. 

Não há Estado neutro. O que sempre se fez em outras áreas, se faz também na área da Cultura. 

Assim operam os cupins do Estado - comem por dentro! -, em particular, o seleto grupo de agenciadores da cultura, avidos por polpudas reservas de recursos públicos. 

Sem nenhum compromisso público - com a coletividade! -, apenas fazem uso utilitário do Estado para, através do lobby, obter recursos públicos para projetos de natureza privada. 

Desprezam tudo o que é público, menos os recursos. 

Assim dilapidam a utopia do bem público, do bem comum, para revertê-la em bens privados. 

É preciso dedetizar o Estado para impedir que ele seja comido por dentro!

Neoliberalismo cultural 

O caso das Fábricas de Cultura, pertencentes a Secretaria de Estado da Cultura e geridas pela organização social Poieses e Catavento, nos da a oportunidade de discutir o modelo de gestão do bem público que a sociedade deseja para o bem comum. 

Demissão repentina de educadores/as (Arte-Educadorxs em GREVE, clique!), diminuição de atividades com aprendizes e redução do atendimento ao público (Aprendizes De Olho, clique!), provocou greves e ocupação em algumas Fábricas. 

O caso da Fábrica de Cultura da Brasilândia, zona norte de SP, é sintomático e nos remete a forma como o governo Alckmin agiu para reprimir estudantes de escolas públicas estaduais ocupadas (O Mal Educado, clique!). 

Na incapacidade de dialogar, a violência policial é a regra. Neste sábado (2), aprendizes - adolescentes! -, e educadores/as foram expulsos e presos por policiais militares. 

Transferir a gestão do Estado para uma organização social - como é o caso das Fábricas de Cultura administradas pela Poiesis e Catavento -, é uma opção política que integra um anunciado projeto político para o Estado. 

Assim, cabe as organizações sociais, sobretudo a Poiesis, responder pelas suas decisões administrativas. Mas cabe também a Secretaria de Estado da Cultura responder pelas suas opções políticas e pelo seu modelo de gestão das Fábricas de Cultura. 

A sociedade, maior interessada nos serviços públicos que lhes são oferecidos, precisa ser consultada quando o assunto é o bem comum. 

Ouvir nunca foi uma prática dos governos PSDBistas. 

Daí a opção pelo uso da força policial!   

 Tortura acontece(u). 
[Foto: Ruivo Lopes. SP, 2016]

Por que? 

Por que a Polícia Militar matou Ítalo Ferreira de Jesus Siqueira, de 10 anos, na Vila Andrade, zona sul de SP? Por que a Guarda Civil Metropolitana matou Waldick Silva Chagas, de 12 anos, em Cidade Tiradentes, zona leste de SP? Por que sempre negros são alvos preferenciais de agentes de segurança pública? Por que sempre nas periferias? Por que as polícias atiram primeiro para matar? Por que as polícias atiram para matar? Por que um GCM usa arma de fogo? Por que a vida não é preservada? Por que o sistema de segurança pública ainda não foi desmilitarizado? Por que depois do Ítalo, agora Waldick? Por que crianças, adolescentes, jovens? Por que isso não tem fim? Por que a letalidade das políticas públicas de segurança alcançam os jovens primeiro do que as políticas públicas que valorizam a dignidade humana? Por que as explicações, quando são dadas, não são convincentes? Por que parte da sociedade se cala, parte é indiferente e outra incentiva (o que dá no mesmo)? Por que ainda contamos mortos? Por que esperamos pelo próximo? Por que?

Opinião pública explícita: Bela, Marginal e da Rua. Fora Temer! 
[Ruivo Lopes, SP, 2016]

sábado, 25 de junho de 2016

Em SP: Perifatividade, Opera Mundi e Rede TVT promovem sarau-aula pública sobre livro e leitura




Se ligaí! | Neste domingo, dia 26, às 15hs, o Coletivo Perifatividade em parceria com o portal Opera Mundi e a Rede TVT promove o Sarau Perifatividade e Gravação do Programa "Aula Pública Ópera Mundi" (clique!) com o tema "Políticas públicas para o livro e a leitura e as novas vozes na literatura contemporânea". 

Na roda José Castilho Marques Neto, secretário nacional do Plano Nacional do Livro e Leitura durante o governo Dilma; e Érica Peçanha, doutora pela USP, autora de "Vozes Marginais na Literatura" (Aeroplano, 2009). 

 O encontro vai acontecer na Escola Municipal Hercilia de Campos Costa (Rua José Pereira Cruz, nº 95, Parque Bristol (ao lado do Telecentro Sacomã), zona sul de SP. 

Participe!

domingo, 19 de junho de 2016

Vencer o medo com imaginação política

A política brasileira vive tempos difíceis. Difíceis porque parece reduzida a capacidade de imaginação política. 

Nossa classe política, irresponsável e inconsequente, lançou o povo brasileiro num mar de incertezas e angustias. Querem nos fazer crer que não há alternativas. 

Se por um lado as elites conservadoras apostam no quanto pior melhor - para elas! -, por outro, os progressistas, contaminados por anos de convivência com os conservadores, tem adotado a estratégia do medo ou a do "não há nada que seja ruim que não possa piorar". Adota-se estratégia conservadora e alheia ao campo progressista. 

De ruim a pior, atrofia-se a capacidade de imaginar alternativas políticas. Esvaziada de imaginação, a política da lugar ao fatalismo e ao autoritarismo conservador e também progressista. 

Pois bem, falo aos progressistas, já que não tenho interlocutores nas elites conservadoras. 

Já disse e insisto, não há mobilização que se sustente apenas com denúncia. A denúncia serve apenas para pintar o atual cenário político do país. Confunde-se o contexto com a dinâmica no contexto. Ao contrário do que alguns possam pensar, não é a denúncia que garante um campo ou unidade de forças, mas sim o anúncio. 

Neste momento, o campo progressista carece de anuncio convincente e alternativo não só ao que está, mas também ao que já estava aí. 

O anúncio esta contido na potência da vontade popular. Portanto, é hora de falar menos ao povo brasileiro e ouvi-lo mais. 

A vida política brasileira está na sua capacidade de reinvenção. Reinventar a política significa experimentar e só experimenta quem não tem medo. 

O pragmatismo alienante da política brasileira nos levou a beira de um precipício. Voltar pode até ser uma saída segura, mas não menos conservadora. 

Alinho-me aos que preferem pensar, experimentar e construir, sem medo, um caminho possível para o outro lado!


Opinião pública explícita:
 
 [Foto: Ruivo Lopes, SP, 2016]


Quem paga o bando escolhe a música

Bens x bem | Faz sentido empresas capitalistas doar dinheiro para políticos de direita comprometidos com os bens privados. O que não consigo entender é o que faz empresas capitalistas doar dinheiro - legalmente ou não, pouco importa - para políticos de esquerda comprometidos com o bem comum!

Bem x bens | Faz sentido políticos de esquerda comprometidos com o bem comum negar doações de empresas capitalistas comprometidas com políticos de direita defensores dos bens privados. O que não consigo entender é o que faz empresas capitalistas comprometidas com políticos de direita defensores dos bens privados querer doar dinheiro para políticos de esquerda comprometidos com o bem comum!


África no Brasil

O escritor nigeriano Wole Soyinka, autor de "O leão e a jóia", durante conferência no II Festival Afreaka, na sala Olido, centro de SP!


Livreir@s & Leitor@s

A Passagem Literária da Consolação com a avenida Paulista, região central de SP, é um lugar muito especial para livreir@s e leitor@s. Faça uma visita, ouça boa música, aprecie exposições, selecione um bom livro e bata um papo com a Odete, livreira há muitos anos na Passagem! [Foto: Ruivo Lopes, SP, 2016]

domingo, 5 de junho de 2016

Para ler o mundo: políticas públicas para o livro, leitura, literatura e biblioteca


Para ler o mundo

Plano de Leitura se junta a iniciativas que buscam levar o universo da leitura, do livro e da biblioteca a um número maior de paulistanos


Por Fausto Salvadori | fausto@camara.sp.gov.br

ESTREIA - Thayaneddy Alves no lançamento do seu primeiro livro, Entre reticências Foto: Peter SchranerPara uma personagem como Thayaneddy Alves, 23 anos, negra, mulher e moradora da periferia, tornar-se escritora parecia um enredo improvável no cenário do Brasil, onde 94% dos autores são homens e 73% são brancos (conforme pesquisa da professora Regina Dalcastagnè, da Universidade de Brasília, divulgada em 2012). Mas Thayaneddy deu um jeito de escrever a própria trama. 



ESTREIA – Thayaneddy Alves no 
lançamento do seu primeiro livro,  
Em reticências  
Foto: Peter Schraner

Não só se inventou poeta e organizou um evento literário, o Sarau da Ponte para Cá, em Campo Limpo, zona sul, como publicou no final do ano passado seu primeiro livro, a coletânea de poemas Em reticências, por um selo que criou com os amigos e batizou de Academia Periférica de Letras. “Venci as estatísticas”, comemora na contracapa.

Sem interesse pelos autores que conheceu na escola (“Drummond não me representa”, diz), Thayaneddy bebe nas palavras das poetas das quebradas: nomes como Débora Garcia, Jenyffer Nascimento ou Elizandra Souza. “Se uma delas escreve sobre o sangue que jorrou de uma situação, desde um parto, a menstruação ou uma agressão, dá para sentir o cheiro no livro”, comenta Thayaneddy numa noite de fevereiro, enquanto autografa um exemplar do seu livro em uma funilaria do Socorro, na periferia sul de São Paulo.
 INICIATIVA - Casulo comanda um sarau literário em sua funilaria, na zona sul de SP Foto: Fausto Salvadori/CMSP
INICIATIVA – Casulo comanda um sarau literário em sua funilaria, na zona sul de SP
Foto: Fausto Salvadori/CMSP

Funilaria? Isso mesmo. Uma funilaria que também é biblioteca comunitária, com 600 livros colocados à disposição de quem quiser no bairro, e que uma vez por mês também vira palco para o Clamarte, um sarau de música e poesia. O dono da oficina, Gilmar Ribeiro Santos, 41 anos, o Casulo, desembestou a escrever aos 15 anos, após descobrir Machado de Assis na escola. Mas só se convenceu de que poderia virar um escritor quando conheceu o Sarau da Cooperifa, organizado pelo poeta Sérgio Vaz, um dos primeiros representantes do movimento de saraus que tomou conta da periferia paulistana a partir da virada do milênio.

Casulo escolheu fazer uma poesia com “um cunho social e político muito forte”, porque acha “muito egoísmo um autor falar só do próprio umbigo”. “O escritor tem que descer do pedestal”, diz. Seu primeiro livro, Dos olhos pra fora mora a liberdade, saiu publicado pela FiloCzar, uma editora-biblioteca-livraria que funciona na casa do seu proprietário, César Mendes da Costa, 36 anos, no Parque Santo Antônio, também na zona sul.

PIONEIRO - Cesar Mendes criou a FiloCzar, uma das poucas livrarias da periferia de São Paulo Foto: Marcelo Ximenez/CMSP
PIONEIRO – Cesar Mendes criou a FiloCzar, uma das poucas livrarias 
da periferia de São Paulo
Foto: Marcelo Ximenez/CMSP
A FiloCzar é uma raridade: uma livraria localizada na periferia paulistana. Em meio à paisagem dominada por bares e igrejas evangélicas, as estantes apinhadas com 3 mil livros chamam a atenção de quem passa pela rua. “Tem gente que entra aqui e conta que nunca tinha visto uma livraria na vida”, diz César. No bairro, os livros ainda são objetos raros, e a leitura uma atividade exótica. “A biblioteca pública mais próxima fica a 40 minutos de ônibus”, conta. Sem livros à mão, ele encontrou as primeiras leituras nos jornais amassados que a família usava para embrulhar compras. Não parou mais – apesar dos conselhos das pessoas à sua volta, que diziam: “não leia tanto, senão vai ficar doido”.

“O livro não é uma experiência de massa. Ainda somos basicamente uma sociedade oral”, avalia César. Há quatro anos, ele abandonou o emprego de professor de filosofia na rede pública e decidiu fazer sua parte para mudar o que puder dessa realidade, criando a FiloCzar. A livraria, explica, serve para financiar uma escola livre, que inclui cursos, seminários, cafés filosóficos, cineclube, uma biblioteca comunitária e a editora, que já publicou 13 livros. A única funcionária do empreendimento é sua irmã. Contratada com carteira assinada, ele ressalta. “Uma coisa que [o filósofo alemão] Karl Marx ensina é que não devemos explorar”, afirma, destacando um dos aprendizados que ganhou com a leitura.

DIREITO ESSENCIAL

AUTOR - Donato criou o projeto de lei que deu origem ao Plano Municipal Foto: Gute Garbelotto/CMSPTanto Casulo (o poeta-funileiro-artista-plástico do Socorro) como César (o livreiro-filósofo-editor do Parque Santo Antônio) participaram dos debates realizados pela Câmara Municipal de São Paulo (CMSP), no ano passado, que desembocaram na criação do Plano Municipal do Livro, Leitura, Literatura e Biblioteca (PMLLLB) do Município de São Paulo, nascido de um projeto de lei do vereador Antonio Donato (PT), presidente da CMSP. Para César, é um plano que deveria ter sido criado há muito tempo. “O mérito dessa lei é colocar em xeque um modelo de sociedade em que o livro não é contemplado”, afirma.



AUTOR – Donato criou o projeto de 
lei que deu origem ao Plano Municipal 
Foto: Gute Garbelotto/CMSP

Os números dão razão a ele. Pesquisa da Escola do Parlamento da CMSP realizada neste ano aponta que 52,4% dos paulistanos nunca leram ou pouco leem livros. E tem mais. 

O Indicador de Alfabetismo Funcional (Inaf), elaborado pelo Instituto Paulo Montenegro e pela ONG Ação Educativa, mostra que 27% das pessoas entre 15 e 64 anos são analfabetas funcionais, incapazes de interpretar textos simples ou entender um gráfico.

E o ambiente escolar ainda está longe de conseguir transformar seus alunos em leitores. Prova disso são os 53 mil estudantes que, em 2015, tiraram nota zero na prova de redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). São milhares de jovens que passaram boa parte da vida entre os muros da escola e mesmo assim não aprenderam algo tão básico como pegar uma caneta e discorrer sobre um tema numa folha de papel. Simplesmente porque a leitura não faz parte do seu mundo.

Foi com o objetivo de promover esse hábito e combater os altos índices de analfabetismo funcional que o governo federal criou, em 2006, o Plano Nacional do Livro e Leitura. “O direito à leitura é imprescindível, pois é a chave para o acesso a todos os outros direitos”, afirma José Castilho Marques Neto, secretário-executivo do Plano Nacional. Os estudantes reprovados na redação do Enem são um bom exemplo, segundo ele. “São jovens que não conseguiram acesso ao ensino superior por deficiência na leitura”, explica.

O Plano Nacional está equilibrado em quatro eixos. O primeiro é a democratização do acesso, baseada principalmente na valorização e expansão das bibliotecas públicas. A seguir vem o fomento à leitura e à formação de mediadores (pessoas que apresentam a leitura a quem não lê), desde bibliotecários e professores até pais ou vizinhos (os saraus também são um bom exemplo de mediação de leitura). O terceiro eixo leva o nome de “valorização institucional da leitura e incremento de seu valor simbólico” e significa transformar o incentivo à leitura em política de Estado e criar ações para conscientizar a população sobre a importância do ato de ler. O quarto eixo é o desenvolvimento da economia do livro, por meio de ferramentas que incentivem a produção, a distribuição e a circulação de títulos.

Hoje, dez anos após a aprovação, o Plano Nacional conseguiu provocar mudanças importantes, segundo o secretário-executivo. “Em 2005, o Brasil tinha mais de 1.700 cidades sem biblioteca. No final de 2010, já eram mais ou menos 30”, compara. O número de municípios sem biblioteca só não vai a zero, segundo ele, porque é um dos primeiros serviços que as pequenas prefeituras costumam cortar assim que ficam sem dinheiro.

Por isso, Marques Neto acredita que o Plano Nacional do Livro e Leitura só vai se realizar para valer quando todas as cidades do Brasil tiverem o seu próprio. “Com a aprovação dos planos municipais, os programas de leitura deixam de depender da vontade dos prefeitos e se tornam uma política de Estado”, diz. Nesse sentido, ele afirma que o PMLLLB paulistano seguiu o caminho correto: “o de São Paulo é um texto feito rigorosamente a muitas mãos”.

A VÁRIAS MÃOS

De fato, as primeiras articulações que levaram à criação do plano paulistano vieram de baixo para cima. Começaram em 2012, a partir de encontros que reuniam pessoas interessadas em pensar políticas públicas para a leitura e o livro na cidade. Entre eles, estavam a ONG Literasampa, o centro de pesquisa Biblioteca e Centro de Pesquisa América do Sul – Países Árabes (BibliASPA), os integrantes do Sistema S (Senai, Sesc e Sesi) e o Fórum Mudar São Paulo, que naquele ano lançou um manifesto chamado Por uma política do livro e do incentivo à leitura para o Município de São Paulo.

A partir daí, o debate iniciado na sociedade avançou por Executivo e Legislativo adentro. Em 2014, o prefeito Fernando Haddad (PT) publicou uma portaria intersecretarial criando um Grupo de Trabalho (GT) encarregado de criar a versão paulistana do Plano Nacional do Livro e Leitura. Ao grupo, além das entidades da sociedade civil que já vinham conversando sobre as propostas, juntaram-se representantes da Prefeitura e da Câmara Municipal. O plano paulistano manteve os quatro eixos do nacional e acrescentou um, a literatura.

O Grupo de Trabalho realizou dezenas de encontros públicos, além de plenárias temáticas e regionais. “Existe em São Paulo uma cena muito forte da sociedade civil na área de livro e leitura e isso foi determinante para a construção do Plano Municipal do Livro”, avalia o bibliotecário Ricardo Queiroz Pinheiro, assessor parlamentar do vereador Donato, que atuou no GT como representante do Legislativo.

Donato levou o texto redigido pelo grupo diretamente ao Plenário da CMSP, na forma de um substitutivo para o projeto de lei (PL) 168/2010, que já havia sido aprovado em primeira votação no ano de 2010, antes de Donato deixar a vereança para atuar como secretário de governo da Prefeitura, cargo em que permaneceu até 2013. “Com isso, conseguimos dar agilidade à tramitação do Plano, que só precisou de mais uma votação para ser aprovado”, explica Pinheiro. Após passar em Plenário sem modificações, o Plano Municipal foi sancionado pelo Executivo em 18 de dezembro, tornando-se a Lei 16.333/2015.

A diversidade dos participantes das discussões, que incluía a presença de coletivos de leitura, pequenas editoras e movimentos periféricos, chamou a atenção. “Os debates no processo de elaboração do Plano Municipal mostraram que o livro no Brasil deixou de ser um objeto restrito à elite”, afirma o editor Haroldo Ceravolo, presidente da Liga Brasileira de Editores (Libre) e um dos membros do GT que redigiu o Plano.

As novas vozes da literatura brasileira, contudo, ainda precisam brigar para conquistar seu espaço. “A produção literária das pequenas editoras, dos saraus de periferia, das mulheres e dos negros não tem espaço nos jornais, não chega às livrarias e ainda é pouco representada nas bibliotecas públicas”, aponta Haroldo. Numa (nova) palavra, o que falta é bibliodiversidade – que Haroldo define como “o conceito de que devemos ter o máximo possível de editoras representando o maior número possível de vozes da nossa sociedade”.

O termo aparece no texto aprovado do Plano Municipal, que propõe “o estímulo à bibliodiversidade em todas as suas formas”, inclusive na compra de obras para as bibliotecas públicas e escolares. Por essas e outras medidas da lei, Haroldo acredita que o impacto pode ser revolucionário. “Se o roteiro previsto no Plano Municipal for implementado, pode mudar o panorama do livro na cidade de São Paulo”, afirma o editor.

LETRA, GALHO E PASSARINHO

Numa conferência em que contou sobre suas primeiras leituras, Paulo Freire, um dos maiores educadores do Brasil, demorou a falar de letras e palavras. Em vez disso, falou de passarinho, árvore, cachorro. Relembrou o quintal da casa onde engatinhou pela primeira vez, os galhos dóceis à sua altura onde conseguia subir, o canto do sanhaçu e do bem-te-vi, o verde da manga-espada verde, o verde da manga-espada inchada, o amarelo esverdeado da mesma manga amadurecendo. Tudo era leitura. É que, antes de conhecer as letras, o menino já lia a realidade ao seu redor. “A leitura do mundo precede a leitura da palavra, daí que a posterior leitura desta não possa prescindir da continuidade da leitura daquele”, afirma Freire, no livro A importância do ato de ler, que transcreve uma conferência de 1981. Segundo o educador, a leitura da palavra escrita só ganha sentido quando vem carregada das significações da experiência de vida de quem a lê.

Daí que um dos obstáculos para a expansão da leitura é a distância que muitos brasileiros sentem em relação aos livros, vistos como objetos exóticos, que não fazem parte das suas vidas. Na CMSP, há dois PLs que buscam aproximar os livros do dia a dia da população aproveitando a estrutura do transporte público. Um deles é o 266/2014, de David Soares (Democratas), que propõe a criação de bibliotecas nos pontos de ônibus, num espaço batizado de Parada Cultural. Já o 547/2014, de Alfredinho (PT), cria o Programa Leitura nos Ônibus e prevê a instalação das bibliotecas dentro dos próprios veículos.

MUDANÇA - Para o educador Ruivo Lopes, leitura é ferramenta pra transformar realidades Foto: Ricardo Rocha/CMSPUma prática semelhante ao dos projetos já é feita pelo coletivo Perifatividade, que instala pequenas bibliotecas em locais como bares, salões de cabeleireiros ou ocupações de sem-teto. “O objetivo é fazer com que os livros se tornem mais familiares, corriqueiros. Aumenta a chance de que sejam lidos”, explica Ruivo Lopes, membro do coletivo e educador da ONG Ação Educativa.




MUDANÇA – Para o educador 
Ruivo Lopes, leitura é ferramenta 
pra transformar realidades 
Foto: Ricardo Rocha/CMSP

Ruivo, que atuou nos debates do Plano Municipal do Livro como representante dos saraus de periferia, define-se como um “leitor tardio”, por só ter descoberto os livros durante a adolescência.  

Em casa, na periferia da Baixada Santista, só havia uma Bíblia e um livro de receitas. Sua escola possuía biblioteca, mas não era um ambiente acolhedor. “Uma vez tentei entrar ali com um grupo de amigos, mas a bibliotecária não deixou, porque disse que a gente iria ‘mexer no acervo’”, lembra.

Superar a cultura das bibliotecas de portas fechadas, que se preocupam mais com os livros nas estantes do que com as pessoas que poderiam usá-los, é outro dos desafios para chegar a um país de leitores. “Lembra das salas trancadas com livros sem uso que os estudantes da rede estadual descobriram quando ocuparam as escolas, no final do ano passado? Isso ainda é muito comum em algumas bibliotecas. É o pensamento patrimonialista, de que a função mais importante de uma biblioteca é preservar os livros”, afirma Ricardo Queiroz, assessor do vereador Donato.

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Os profissionais da área nunca foram muito de se misturar. “O bibliotecário sempre teve resistência a participar de fóruns de debates”, reconhece Waltemir Nalles, coordenador do Sistema Municipal de Bibliotecas de São Paulo, formado por 54 bibliotecas, 14 pontos de leitura, 13 bosques de leitura e 12 ônibus-biblioteca, além das 46 unidades dos Centros Educacionais Unificados (CEUs). Prova disso é o fato de o movimento dos saraus de literatura periférica ter surgido em locais como bares, praças ou até funilarias. “Nossas portas não estavam abertas para essas pessoas”, reconhece Nalles. Mas ele também afirma que as coisas estão mudando. Hoje, muitos saraus já realizam edições dentro de bibliotecas.

Para prosseguir no processo de aproximação entre esses locais e a comunidade, o Plano Municipal da Leitura prevê a criação de “horários alternativos de funcionamento” – o único jeito de garantir o acesso à maioria dos trabalhadores, que não tem como frequentá-los em horário comercial.

Outra medida do Plano paulistano para as bibliotecas busca ampliar a variedade dos títulos presentes nas estantes, que hoje ignoram os autores independentes e as pequenas editoras. Segundo Nalles, a seleção de livros é quase toda baseada nas resenhas dos jornais e das revistas de grande circulação, que geralmente só têm olhos para as grandes editoras. Para ampliar o leque das escolhas, foi criada uma comissão, formada por representantes da sociedade civil e das secretarias da Educação e Cultura, que vai definir uma política para o desenvolvimento das coleções de livros das bibliotecas públicas da cidade. A novidade é uma das consequências do Plano Municipal do Livro.

Para mostrar como a aproximação com as comunidades pode fazer bem para as próprias bibliotecas, Nalles conta o caso da Menotti del Picchia, no Limão, zona norte, que volta e meia era vítima de invasores que praticavam furtos e quebra-quebra no local. “Depois que a instituição se abriu para receber os saraus e outros eventos, acabou a depredação. Hoje podem deixar a porta aberta que não tem problema. A aproximação com a comunidade muda tudo”, aponta o coordenador.

E mudanças têm tudo a ver com a leitura. Lembra Ruivo Lopes: “A vivência do mundo nos ensina a ler a realidade apenas como ela é. A capacidade de imaginar outras realidades depende da cultura e das artes”. Ou, como escreveu o inglês Neil Gaiman (um dos escritores que despertou no autor desta reportagem a paixão pela escrita que o levou a se tornar jornalista), “a ficção pode levar você a um lugar onde nunca esteve e, uma vez que tenha visitado outros mundos, nunca mais ficará inteiramente satisfeito com o mundo onde cresceu”. Essa insatisfação, ensina Gaiman, é boa: “Pessoas insatisfeitas podem modificar e aprimorar os seus mundos”.

Semana incentiva leitura nas escolas

EVENTO - Eliseu Gabriel criou a Semana de Incentivo à Leitura Foto: Ricardo Rocha/CMSP“O estudo e, especialmente, a leitura são necessidades permanentes. São ‘causas’ de todos: governo e povo”, afirma o professor e vereador Eliseu Gabriel (PSB) na justificativa do projeto que deu origem à lei 14.999/ 2009, que criou a Semana de Incentivo e Orientação ao Estudo e à Leitura.

Organizado pelas secretarias municipais da Cultura, da Educação e da Assistência Social, em parceria com a Câmara Municipal, o evento ocorre na segunda semana de abril e está em sua quinta edição. A ideia é apresentar palestras, simpósios, shows, concursos, gincanas e outras vivências que estimulem a leitura. No ano passado, reuniu cerca de mil pessoas. 

EVENTO – Eliseu Gabriel criou a 
Semana de Incentivo à Leitura 
Foto: Ricardo Rocha/CMSP


APRENDIZADO - Alunos participam da Semana de Incentivo à Leitura Foto: DivulgaçãoEscritores de destaque já passaram pela Semana de Incentivo e Orientação ao Estudo e à Leitura, entre eles Heloisa Prieto, Rodrigo Lacerda, Victor Scatolin, Lúcia Hiratsuka e o multipremiado Milton Hatoum.
APRENDIZADO – Alunos 
participam da Semana de Incentivo 
à Leitura  
Foto: Divulgação

Projetos e leis que tratam da leitura
LEIS
  • 16.333/2015 | Antonio Donato (PT)
    Institui o Plano Municipal do Livro, Leitura, Literatura e Biblioteca (PMLLLB)
  • 14.999/2009 | Eliseu Gabriel (PSB)
    Institui a Semana de Incentivo e Orientação ao Estudo e à Leitura
  • 14.477/2007 | Noemi Nonato (PR)
    Cria a Semana da Leitura
PROJETOS DE LEI (*)
  • 547/2014 | Alfredinho (PT)
    Cria o programa Leitura nos Ônibus, com espaço para livros dentro dos veículos
  • 266/2014 | David Soares (Democratas)
    Cria a Parada Cultural, com bibliotecas nos pontos de ônibus
  • 179/2014 | Claudinho de Souza (PSDB), Edir Sales (PSD), Eliseu Gabriel (PSB), Jean Madeira (PRB), Ota (PSB), Reis (PT), Toninho Vespoli (PSOL)
    Amplia as atribuições da Biblioteca Mário de Andrade
  • 517/2013 | Paulo Fiorilo (PT)
    Institui o Programa Vale-Leitura aos profissionais de educação do Município de São Paulo
(*) Da atual Legislatura

SAIBA MAIS

Livros

A importância do ato de ler. Paulo Freire. Cortez, 1989.
O direito à literatura. Artigo do livro Vários Escritos. Antonio Candido. Ouro Sobre Azul, 2004.

Leiaí a reportagem original Para ler o mundo, na seção de Cultura da Revista Apartes, nº 19, março/abril de 2016!