O urbanista de SP é o capital
A região central de São Paulo não deve ser nem melhor nem
pior do que qualquer outra região da cidade. A histórica concentração política
e econômica na região fez com que o centro se afastasse cada vez mais das
diferentes realidades da cidade. A história é uma velha conhecida e não é muito
diferente de outros grandes centros urbanos do Brasil.
Durante anos, o centro foi se isolando da cidade. O
acelerado processo de urbanização promovido pela elite branca paulistana
privilegiou a região outrora habitada por famílias patrimoniais que detinham o
poder político e econômico e os usavam para favorecer sua confortável
permanência na região.
Os negros e os mais pobres que também moravam na região eram
os que movimentavam o cotidiano e a econômica informal da época (vendedores ambulantes,
engraxates, carregadores, empregadas domésticas, e toda sorte de serviços,
etc.), foram sendo expulsos ao longo do processo de urbanização e sem
alternativa foram habitar e ocupar outras regiões mais afastadas do centro onde
não pagariam ou pagariam pouco para morar. Porém eles ficariam a margem da infra-estrutura
de que já dispunha o centro e em alguns casos a margem até da própria cidade.
Este processo de urbanização também é permeado pelo racismo, discriminação e preconceito
das elites paulistanas em relação à população, denunciado em conhecidos sambas
de negros perseguidos e presos pela repressão policial.
Gente diferenciada: vale + o interesse da elite ou a necessidade do povo?
A situação piorou quando a elite paulistana a partir de meados do século XX não contente com sua concentração política e econômica
A concentração de dinheiro na cidade de São Paulo não
significou oportunidade para os mais pobres daqui e vindos de outras partes do
país, responsáveis pelo trabalho que fez de São Paulo a cidade que ela é hoje.
Acontece que a elite paulistana sempre foi adepta de um egoísmo
descartável e logo foi abandonando alguns bairros da região central e
mudando-se para outros bairros onde moradia e infra-estrutura pudesse ser uma
exclusividade sua, fazendo do espaço da cidade uma porção de mercadoria muito
cara. Exclusividade é marca
característica da elite paulistana.
Com isso, os mais pobres voltaram a morar na porção
abandonada pela elite numa condição de completo abandono e fazendo uso de uma
infra-estrutura já defasada sem nenhuma adequação ou interesse por parte do
poder público. São conhecidos os casarões que neste momento se tornaram abrigo
para muitas famílias, também conhecidos como cortiços, muitos existentes até
hoje.
O comodismo é um mal parasitário
A cartilha mudou, mas a história é a mesma. Hoje a região central é um espaço em disputa permanente onde os mais pobres estão novamente sendo expulsos pela elite paulistana detentora do poder político e econômico que domina a cidade. Essa elite tem novas caras, siglas e logomarcas, mas é a mesma. Ela foi forjada na ideia de que a cidade é partida de forma desigual e assim deve ser tratada. Ela promove uma orgia sem precedentes entre o interesse público e o privado. Embora na região central sempre houvesse desigualdades, pobreza e precariedades entre seus habitantes, foi a elite paulistana que criou a ideia de centro como espaço dotado de exclusividade, deixando a periferia a margem durante anos. Hoje, a elite paulistana quer também a periferia. Como não perdeu o vício, ela pretende descartá-la depois de usá-la. Se isso acontecer, ano que vem nem o centro estará na periferia, nem a periferia estará no centro. A cidade continuará partida e sofrendo graves conseqüências do aprofundamento das desigualdades.
[Fotos: Ruivo Lopes]
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