Reunidos
no quintal da Escola de Samba Unidos Venceremos, velhos bambas formaram em roda
a tradicional assembléia geral do Partido Alto. Instrumentos na mão, os
partideiros, como sempre, não estavam indiferentes ao que acontecia nos últimas
dias. Eles guardavam a sabedoria dos mais velhos e o entusiasmo dos mais
jovens. Previam que daqueles dias poderia sair samba e prestaram atenção. Antes
do ziriguidum comer no tamborim, os puxadores começaram a analisar parte das
alegorias e enredos que tomaram as
principais avenidas dos país. Eles perceberam que as alas vermelhas e pretas
foram sendo aos poucos engolidas por uma onda esquisita na qual se destacava o
tradicional verde, amarelo, os azuis e muito branco.
Bons
da cabeça, na cadência do samba e com a experiência de quem nunca adoeceu do
pé, os partideiros logo chegaram a um consenso.
- Não
se pode levar o bloco pra avenida sem apresentar nenhuma surpresa, tampouco
improvisar o enredo no meio do caminho. Lembra daquela escola que apareceu na
televisão antes da hora e já comemorava a vitória? Pois é. Já pensou se alguém
rouba nossas alegorias e o nosso enredo... comé que fica? Questionou o
primeiro.
- Pra
brilhar na avenida tem que ter surpresa. O povo tem que conquistar a avenida de
surpresa. Nos outros anos foi assim. Não levamos, mas também não nos levaram de
lá. Fizemos bonito e nos convencemos de que aquele era o caminho certo. E é. De
lá pra cá fizemos ainda melhor. Mas na miúda. Disse o outro, enquanto afinava o
tom do cavaquinho.
- A
boa Escola é aquela que aparece primeiro no seu quintal. Tem que ganhar primeiro
no chão de terra batida e arrastar o bloco nas ruas acidentadas. O coro do
samba enredo tem que começar aqui. Ganha na avenida quem primeiro ganhar na
rua. Tem que experimentar tem que ensaiar. Assim, no sapatinho. O resto é
entregar os pontos pros adversários de graça. Concluiu o terceiro.
Pra
fechar o encaminhamento e indicar que o consenso ali era geral, cada partideiro
levantou seu copo e em seguida viraram ligeiramente um gole pro santo e numa
tagalada só lavaram a garganta e a alma. Partideiro véio não se engana nem se
deixa enganar. A cara torcida e o desabafo quente eram sinais de que a água
ardente era de rara qualidade. E quem é louco de servir cachaça batizada pra
bamba. Santo nenhum aceita. Copo batido na mesa, o tamborim começou a soar. Só
parou de tocar quando o galo cantou. Já era manhã de um novo dia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário