Se a tarifa não baixar, a cidade vai parar!
Os grandes atos organizados contra o aumento das passagens em São Paulo têm marcado pontos
importantes dos quais ligeiramente destaco: 1) A capacidade crescente de
mobilização social entorno de uma pauta comum; 2) O ensaio de um xeque-mate em
quem aprecia a democracia nos limites e conforto dos salões; e, 3) Desafia a hegemonia da imprensa dominante, quando
manifestantes cobrem e apresentam pontos até então invisíveis de dentro dos
fatos.
Não é novidade o aumento da passagem dos transportes
coletivos em SP. Nos
últimos anos, o período em que ocorre os reajustes da tarifa tem sido marcado
por manifestações contrárias ao aumento e junto vem a exigência por melhorias significativas
no sistema de transporte coletivo para a população. A tarifa zero, que parecia impossível,
entrou na pauta e já começa ser discutida, agora no campo da sua viabilidade ou
não. Parece pouco, mas não é. As pessoas na rua consideram caro a tarifa e
avaliam como sendo péssimo o serviço prestado pelas empresas de transportes coletivos.
Todos os dias, milhares de pessoas perdem horas em trânsito, saem muito cedo e
voltam muito tarde para casa, esperam muito e ainda vão espremidas nos transportes
coletivos. As empresas dos transportes lucram muito e quem sofre é a população.
É justamente essa insatisfação que alimenta as manifestações que tem tomado as
ruas de SP. Mas não só. Há também um desejo real e compartilhado de participação
no processo político no qual nenhuma cidade pode abrir mão. Um desejo de ser
visto e ouvido no espaço público da cidade. Aliás, a salvação das cidades está
na participação política da sua população, sobretudo, substituindo a paisagem
do trânsito e seus veículos nas ruas por pessoas. As exigências que emergem das
ruas é para acordar os poderosos acomodados no poder.
Para alguns políticos de plantão, lotados em gabinetes e
redações, a democracia parece ser boa quando ela faz barulho apenas no quintal
do vizinho. Prefeito e governador, cada um do seu modo, demonstram insatisfação
com a cobrança feita nas ruas. Enquanto Haddad desqualifica a legitimidade e o caráter
democrático do ato, Alckmin criminaliza e autoriza a violência policial, que,
aliás, lhe é muito característica. Os
dois vêem nos atos a inconveniência de milhares de pessoas cobrarem nas ruas da
cidade a revogação de uma decisão política tomada por eles em gabinetes. Se levar
para as ruas o debate sobre uma questão que afeta a grande maioria da população
de SP não for democrático, então, prefeito e governador devem avaliar seus
conceitos.
A imprensa dominante massificou uma impressão dos atos que não
é verdadeira. As manchetes dos principais jornais impressos inverteram a ordem
dos fatos. É a Polícia Militar que sempre entra em confronto com quem participa
dos atos, ferindo até quem passa perto da manifestação, e não o contrário. É a velha
e conhecida estratégia de instaurar o consenso fabricado. As emissoras de tevê
seguiram a mesma lógica e exibiram apenas aquilo que está alinhado ao poder dos
editoriais. Nem a rádio escapou. Os donos da verdade queriam as suas versões
dos fatos nas ruas. Graças à tecnologia digital, portátil e redes virtuais,
centenas de pessoas que participaram dos atos relataram em textos e imagens o
que aconteceu de dentro da manifestação. Através delas, é possível identificar
a violência praticada por policiais militares fortemente armados contra uma
multidão de manifestantes desarmadas. Comparar um batalhão armado portando espingardas
de balas de borracha, bombas, gás de pimenta, cassetetes de borracha e de
madeira com indivíduos que eventualmente revidam a violência policial com uma pedra
ou ateiam fogo em um saco de lixo é um exercício de convencia que quando repetido
mil vezes, infelizmente, pode pegar. Contudo,
a regra desta comparação é que as vitimas é sempre da violência policial.
Os grandes atos organizados contra o aumento das passagens
em SP têm marcado pontos importantes porque tem gerado um incontrolável - isso
sim! -, protagonismo social nas ruas. São Paulo deveria acolher melhor essa
multidão.
Assista como a PM reprimiu o 3º Grande Ato
Contra o Aumento das Passagens em SP,
realizado no dia 11 de junho
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