O da pólvora
Apodrece penitente,
O da caneta
Enriquece impunimente,
A um, só resta virar crente
o outro, é candidato a presidente
Os miseráveis, Sérgio Vaz
Apodrece penitente,
O da caneta
Enriquece impunimente,
A um, só resta virar crente
o outro, é candidato a presidente
Os miseráveis, Sérgio Vaz
É o que eles querem, mais um pretinho na Febem.
Um homem na estrada, Racionais MCs
Um homem na estrada, Racionais MCs
O
ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) completa 23 anos este ano. A lei é
considerada um avanço constitucional, porque foi o primeiro instrumento criado na então
recente democracia para proteger crianças e adolescentes no Brasil, principalmente
aquelas em permanente condição de vulnerabilidade social agravada pela pobreza.
Muito elogiado na época de sua aprovação, o ECA serviu de modelo para que
outros países do mundo implementassem instrumentos semelhantes de proteção a
crianças e adolescentes. Entretanto, o ECA vem sofrendo um obscuro linchamento
público midiotizado e, como sempre, aproveitando-se da forte comoção social.
Como
quase tudo no Brasil, cria-se primeiro a lei e depois joga-se para a sociedade
disputar a sua implementação. É unanimidade para quem atua diretamente na
defesa da criança e adolescente que a rede de proteção para essa significativa
parcela da população brasileira ainda é muito deficiente. O diálogo
intersetorial que deveria envolver a educação, cultura, trabalho, saúde,
esporte, moradia e segurança ainda não resultaram em política públicas efetivas que
tenham impacto satisfatório no desenvolvimento social pleno de crianças e
adolescentes e que lhes dê a garantia de uma juventude e um futuro seguro. Porém, quando estes se envolvem em crimes, tornam-se facilmente
alvos da pretensão de condená-los duplamente. A primeira pela desproteção da sua
condição específica e segundo pelo peso desproporcional da lei que se aplica no
país.
Nesse
sentido, é desastrosa a ideia do governador de São Paulo Geraldo Alckmin de
querer propor mudanças na maioridade penal. Ele declarou que pretende enviar ao
Congresso Nacional um projeto para tornar mais rígido o ECA. A proposta do governador é que adolescentes que tenham cometido
crimes e tenham completado 18 anos não fiquem mais na Fundação Casa. O
governador também defendeu penas maiores para os crimes graves ou reincidentes.
Com
essa posição, o governador Geraldo Alckmin, mais uma vez, dá mal exemplo ao se aproveitar
da situação para apresentar sua débil ideia. O Brasil é o quarto país
com a maior população carcerária do mundo. O Estado de São Paulo tem hoje 198
mil presos. Todos em celas superlotadas, distribuídos em presídios, centros de
detenção provisória e delegacias em situação desumana e degradante. Em regime de privação de liberdade no país
são aproximadamente 17 mil adolescentes, destes 9.016 só em SP. A maioria internada por
tráfico de drogas e apenas 0,9% em ocorrências com vítima fatal.
Lamentavelmente, a cada ano os números não param de crescer.
Seria
melhor que antes de promoverem um linchamento de uma lei que ainda não foi
implementada na dimensão que ela exige, fossem linchados publicamente os
políticos e seus porta-vozes midiotizados que anseiam corromper o ECA e a sociedade não com o
objetivo de proteger crianças e adolescentes, mas sim para reforçar um Estado
Penal, afogando a democracia no lodo perverso da desigualdade.
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