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Racionais MCs
A Câmara de Municipal de São
Paulo aprovou nesta terça-feira (3), por 37 votos a 15, o projeto do vereador
coronel Telhada (PSDB), para conceder uma Salva de Prata para a Rota (Rondas
Ostensivas Tobias de Aguiar), uma honraria do legislativo paulistano a tropa de
elite da Polícia Militar que ficou conhecida como a “polícia que mata”.
O projeto foi repudiado por organizações
e ativistas que defendem os Direitos Humanos desde que foi apresentado e
defendido pelos vereadores que compõe a bancada política e militar da bala como
Álvaro Camilo (PSD), ex-comandante-geral da PM, e Conte Lopes (PTB), capitão
aposentado que também atuou na Rota e foi deputado estadual, além do Telhada, ex-comandante
da Rota e autor do projeto.
O projeto tem como justificativa
os serviços prestados pela Rota durante a ditadura militar que resultou na prisão,
tortura e morte de oponentes ao regime até execuções sumárias denunciadas no
livro Rota 66 - A história da policia que mata, do jornalista Caco Barcelos.
Foi a quarta vez que o projeto
foi para votação no plenário em duas semanas. Manifestantes contrários a
homenagem passaram a comparecer as sessões com faixas e cartazes para
pressionar os vereadores a abandonar o projeto de caráter corporativista de
interesse apenas da bancada política e militar da bala e exigir que fosse colocado
na pauta assuntos que beneficiassem toda a população da cidade.
O vereador Floriano Pesaro, líder
do PSDB na Câmara, chegou a afirmar que nada mais seria votado enquanto o projeto do Telhada não fosse aprovado. Como se não houvesse para a população
mais pobre que vive na cidade urgências maiores do que prestar homenagem a
Rota.
Sonia Mele/CMSP
Toda vez que os vereadores da
bancada política e militar da bala defendiam o projeto, a Polícia Militar e as
ações da Rota, os manifestantes respondiam: “Da Rota eu abro mão, quero ver na
pauta mais saúde e educação!”, “Assassinos!” e “Justiça!”. Toda vez que um
vereador defendia ou votava favorável ao projeto, era fortemente vaiado.
RenattodSousa/CMSP
Placar da sessão: Favoráveis 37 x 15 Contrários a Salva de Prata a Rota (1 abstenção)
A confusão começou quando o
vereador José Américo (PT), presidente da Câmara, deu ordem para que os
policiais militares expulsassem da sessão os manifestantes que não se calaram quando
o coronel Telhada disse que eles promoviam uma perseguição “nazista”. O plenário
foi tomado pelo coro: “Polícia, racista, fascista não passarão!”. Os
manifestantes também denunciaram que a vereadora Juliana Cardoso (PT), enquanto
falava, foi chamada de “vagabunda” por um dos apoiadores da bancada política e
militar da bala, também presentes na sessão a convite do próprio Telhada, e que
nada havia sido feito para retirá-lo de lá.
Assista: PMs agridem manifestantes na Câmara de SP
Telhada ficou
conhecido durante e depois das eleições por ameaçar defensores dos Direitos Humanos e jornalistas, como informa a reportagem do jornal Brasil de Fato.
Coincidência ou não, há cerca de
um mês, 25 policiais militares da Rota foram condenados pela morte de 52 presos
no massacre do Carandiru. Os presos foram executados pelos PMs no terceiro
pavimento do pavilhão 9 do presídio no dia 2 de outubro de 1992. Eles receberam
uma pena de 624 anos de reclusão cada um, mas estão em liberdade.
O julgamento do caso, considerado
pelo Tribunal de Justiça de São Paulo como o maior já realizado pela Justiça do
Estado, representa uma segunda etapa: em abril, no primeiro júri do massacre,
23 PMs foram condenados a 156 anos pela morte de 13 presos que estavam no
segundo pavimento do presídio. Ao todo, o massacre registrou 111 mortos e 84
policiais denunciados. Mais dois julgamentos do caso ocorrerão, um previsto
ainda para este ano e o outro no início do ano que vem.
No final da sessão que manchou de
sangue da juventude negra, pobre e periférica na Câmara Municipal de SP, os
manifestantes lembraram aos vereadores que aprovaram a homenagem a Rota que “a
rua vai cobrar!”.
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