O ajudante de pedreiro Amarildo de Souza, 43 anos, foi
abordado por policiais militares numa noite de domingo, 14 de julho, na porta
de um boteco, na favela da Rocinha, zona sul do Rio de Janeiro, e levado para a
sede da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora), que fica na mesma favela. Nunca
mais foi visto.
No dia anterior, a secretaria de segurança havia dado
início a “Operação Paz Armada”, que levou 300 policiais a ocuparem militarmente
a Rocinha. Como de costume, os policiais esculacharam a favela.
O governador Sergio Cabral e o secretário de segurança
José Beltrame vinham sendo cada vez mais pressionados pelas manifestações que
tomaram as ruas do Rio, marcada pela violência característica das policias
cariocas. A arrogância e a indiferença tradicional de ambos fizeram com que o
desaparecimento do Amarildo fosse a gota d’água para derramar nas ruas do Rio,
do Brasil e do mundo uma violência policial direcionada a pretos, pobres e
moradores de favelas.
Nas manifestações iniciadas em São Paulo, intensificadas
nas capitais e que ganhou as ruas de praticamente todo o país, o rosto de um
trabalhador preto, pobre e morador de uma das maiores favelas do Brasil,
emergia em cartazes que exibiam a pergunta até hoje sem resposta: “Cadê o
Amarildo?”.
O décimo segundo filho de uma empregada doméstica e um
pescador, o ajudante de pedreiro, magro e de estatura mediana, que ganhou o
apelido de boi por carregar sacos de cimento favela acima, era pai de seis
filhos e morava com a mulher num barraco
de apenas um cômodo na Rocinha, favela onde nasceu e desapareceu. Sustentava a
família com menos de um salário mínimo pelo trabalho e bicos que fazia. Quando
Amarildo foi visto com vida pela última vez, sendo levado pelos policiais
militares, ele estava sem camisa, vestia bermuda, calçava chinelos e portava
documentos.
O nome e o rosto do Amarildo rapidamente viraram palavras
de ordem viral nas ruas e nas redes virtuais. Ele teve sua história contada nos
principais veículos de comunicação. Amarildo se tornou o desaparecido que virou
celebridade pelo avesso, aquela que ninguém deseja, e dividiu o noticiário nacional com o Papa de passagem pelo país. “Cadê o Amarildo?”, foi a pergunta mais repetida do
ano e obrigou o governo a apresentar uma meia verdade, já que o corpo continua
desaparecido.
Amarildo era um cabra marcado para morrer na mão dos
policiais militares. Segundo o depoimento dos próprios policiais, ele foi
torturado até a morte ao lado da base da UPP. Vinte e cindo policiais foram
denunciados, por ação e omissão, treze foram presos e outros doze ainda respondem
em liberdade. Até o momento, ninguém revelou o destino do corpo que continua
ocultado pelo manto da violência institucional, uma chaga que ainda marca o
país.
Amarildo é o desaparecido que caiu na boca do povo em
2013. Como toda família de alguém desaparecido, a de Amarildo aguarda o
paradeiro do corpo. Se não for esquecido, Amarildo poderá evitar que outros
desaparecimentos forçados aconteçam silenciosamente pelo Brasil afora.
Amarildo Presente na favela do Moinho (SP)
Encerro a transmissão de 2013 por aqui, renovado por um
profundo desejo de paz e justiça pra todo mundo em 2014. O resto é consequência.
Nos vemos por aí, nas ruas e nas rodas de poesia!
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