Em outubro do ano passado, a participação da seleção de escritores brasileiros na Feira Literária de Frankfurt foi marcada pelo debate sobre as profundas desigualdades existentes no Brasil. O debate não estava planejado, foi de surpresa. Escolhido para apresentar o discurso pela seleção brasileira, o escritor Luiz Ruffato não deixou barato. Cutucou feridas históricas que tão na gênese da desigualdade do país: o passado escravagista, a violência dos donos do poder, o patriarcado latifundiário, a população carcerária e a homofobia. Azedou. Tudo aquilo que nenhum país quer por na sua vitrine, principalmente em eventos internacionais da proporção da Feira de Frankfurt. Ruffato não é só mais um escritor brasileiro, já sabíamos. O ofício de escritor não o torna indiferente, cínico, nem o aliena da dura realidade que não bate na porta de quem tá no andar de cima. Seus livros, enredos e personagens indicam o olhar do escritor para os ignorados pelas narrativas de sempre.
Leia a íntegra do discurso de Luiz Ruffato aqui.
Nesta semana, vou participar com o Coletivo Perifatividade da 40ª Feira Internacional do Livro de Buenos Aires, na Argentina. Mais de uma dezena de saraus - mais de uma centena de pessoas! - da periferia de São Paulo, participam da programação. Mais do que merecido!
Confira a programação completa aqui.
Há mais de uma década os saraus vem reunindo dezenas de pessoas em diversos espaços comunitários e vem articulando uma cena cultural bem diversificada na periferia da cidade. Essa cena é formada por moradores da própria quebrada, gente interessada em ouvir, ler, falar e escrever poesia e literaturas. Gente que dá apoio à inúmeras iniciativas culturais, lançam e compram livros de escritores e escritoras vizinhos. Artistas que são, fazem ativismo pra fazer valer a sua arte.
Cidade homenageada na Feira, São Paulo não deixou de fora a cena de saraus da periferia. Assim, a cidade mais rica e desigual do país, sinaliza caminhos na contramão da hegemonia cultural que exclui, humilha e ofende. E pode fazer mais. A organização do bonde ficou por conta da Biblioteca Mario de Andrade, do Sistema Municipal de Bibliotecas/Programa Veia e Ventania, da Secretaria Municipal de Cultura e da Prefeitura de São Paulo.
Aqui vamos nóis, sacola pronta, livros na mão e um punhado de poemas afiados na ponta língua.
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