Não adianta disfarçar o mau
cheiro com perfumes franceses de segunda porque o odor que exala da burguesia contamina
qualquer recinto. É de queimar as narinas. É forte demais e provoca delírios,
surtos e histeria coletiva. Deve ser por isso e algo mais que a burguesia tem ojeriza ao transporte
público. Prefere os meios mais segregados e não tá nem aí se a tarifa é cara ou
se é gratuita, se tem qualidade ou até mesmo se chega para a população que mora
em regiões à margem das suas disputadas baladas mal cheirosas. Para
ela tanto faz. A burguesia não faz uso de nenhum meio coletivo porque ela adora
exclusividade. Coletivo só o camarote e olhe lá. Onde já se viu um atrevimento
desses, todo mundo se esbarrando, todo mundo com todo mundo, se tocando,
apertado, frequentemente sorrindo da própria desgraça. A burguesia prefere outros
lugares, outras ilhas hedonistas. Aliás, a burguesia tem ojeriza a tudo o que é público!
Outra coisa, a burguesia
brasileira adora se comportar como estrangeira. Ela é crack nisso. Ela
não vive o Brasil, ela tá em permanentemente visita ao Brasil. Vem daí seu deleite por
uma bagunça de fachada. Por isso a burguesia se acha VIP, very important person, ela deixa sua insignificância de origem e compra sua importância de vitrine, pagando muito caro pelo seu espaço privado. Ela só aceita tá junto se
for na área VIP, desde que cada um no seu quadrado. Como todo gringo que vem ao Brasil
fazer aquilo que não faz em sua própria casa, a burguesia se derrete pelo exotismo,
come "cocrete", coxinha, arrota caipirinha e no final lava a boca com
Chandon. A burguesia mais do que ninguém sabe pôr cada qual no seu lugar, pode
ser na recepção, barrando intrusos, no palco pra branquinho aplaudir, embalando
os embalos, ou na cozinha bolando os bolinhos. Ai daquele que sair do seu lugar e resolver melar a festa dos exclusivos. Será linchado, como nos velhos tempos
de hoje em dia.
A burguesia não torce pelo Brasil,
ela finge mal e porcamente que gosta deste país. Ela não tem nenhum apego pelo
Brasil, na primeira oportunidade ela entrega até as calças porque não tem
vergonha de ficar nua... Para os gringos, claro. Embora seja previsível,
aguada, sem graça, a burguesia fica furiosa quando é tratada como uma qualquer.
Embrutece, mete o dedo no nariz alheio, vomita patentes, diplomas, medalhas, sobrenomes, meritocracias para que se saiba
com quem está falando, e claro, ostenta muito para mostrar quem é que manda na jogada.
A revolta da burguesia é pagar
caro pelo privilégio de fazer parte do clube dos endinheirados mas ter que
pegar fila pra comprar Chandon no bar e ter que esperar para usar o banheiro
das baladas “top”. Ela odeia pagar impostos, quando pode sacaneia, dá um
jeitinho, paga por fora, suborna, mas na primeira oportunidade regurgita o mantra “pago meus impostos em dia”. Reclama pelo retorno baixo para uma burguesia tão
baixa. Para a burguesia cidadania tem preço e direitos são meras conveniências de salão. Nascida e criada em berço de
ouro, pirracenta, desbocada e mimada, a burguesia não tem o menor apreço pelo o
que é público, levando em consideração somente seu mundo privado de privilégios
de sempre. Assim, seu drama pelo copo vazio ou o aperto para não se mijar perna
abaixo ou se borrar nas calças é, sim, pensa ela, um drama social...
high-society, mais precisamente, tão importante quanto saúde e educação... Privadas,
claro, como aquelas reivindicadas nos banheiros “top”.
Ninguém mais do que a burguesia é
tão cagona, covarde e cínica. A verdade é que a burguesia não tem convivência, ela se olha
constantemente no espelho mesmo quando não tá em casa. Por isso ela é tão
igual, pálida, açucarada, enjoativa. O isolamento social da burguesia a faz ter
medo do outro que ela não vê no próprio espelho. E ao outro, a burguesia
reserva a fúria dos pastores alemães, o gatilho fácil das policias e as
masmorras de moer gente anos a fio. A indiferença da burguesia é bárbara. Enquanto
o outro é estraçalhado pelos dentes caninos, rasgado pelas balas ou se degrada no fundo de uma cela, a burguesia faz festa... E não é pouca, não. Para a
burguesia nada é mais importante do que o patrimônio e um baço a salvos. Refém do próprio medo, a burguesia come o
próprio rabo... todo cagado!
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