Leiaí! | "Sagrado Sopro, do solo que eu renasço” (Elo
da Corrente Edições, 2014), primeiro livro autoral da poetisa Raquel Almeida.
Paulistana da zona oeste de São Paulo, Raquel é cofundadora do Coletivo
Literário Elo da Corrente, ambos atuantes no bairro Pirituba, realizando
saraus, mostras de artes, encontros literários e ações culturais no espaço que
abriga uma biblioteca comunitária e leva o mesmo nome do coletivo. Raquel
também é cofundadora do Coletivo Cultural Esperança Garcia que aborda a
presença da mulher negra e periférica nas artes em geral e na literatura em
particular. Conhecida dos saraus da periferia da cidade, Raquel reúne no livro
50 poemas corridos... Não, não, não, corridos, não, são como a calmaria só aparente
do mar, calmo, mas cheio de mistérios como aquele da brisa que lambe a maresia
e salga até o céu da boca. Para a finalização do livro, Raquel convidou Carolzinha
Teixeira, conhecida artista plástica, que assina a capa e ilustrações, a
fotógrafa e escritora Sonia Bischain é responsável pela diagramação, a arte
final, a revisão – junto com Taís Lopes - e o texto da primeira orelha do
livro. A propósito deste texto poético, Sonia descreve o livro assim
“Sagrado Sopro é brisa leve
que alimenta corpo e alma,
é calmaria, é recomeço”
O prefácio é da escritora Mirian
Alves que no seu texto não só localiza Raquel Almeida “na escrita e na luta
cotidiana de escritores [escritoras] negros [negras] e periféricos [periféricas] no
Brasil”, mas também expõe seu lugar afirmativo ao revelar que a poetisa “desenvolve
a militância com a palavra valendo-se do ato de escrever para estabelecer
pontes entre a fala do nosso lugar social e o lugar elitista canônico da
literatura brasileira que nos invisibiliza enquanto sujeitos criadores capazes
de letrear com arte os sentidos da vida”. Miriam Alves é uma escritora experiente
com incursões na poesia e dialoga com o leitor/a sem revelar os mistérios do
livro, escreve que “Sagrado Sopro” é “um rio que se abre”, onde “as palavra em
forma de poema abrem afluentes, primeiro como pequenos olhos d’água”, para em
seguida arrematar “Sou corpo nu inundado por sensações”.
Este “lugar social”,
descrito por Miriam Alves, está anunciado pela autora já na dedicatória do livro, uma femenagem as mulheres, particularmente as presentes na vida da
poetisa.
O elemento água está muito
presente também nos poemas e em toda a poética subjetiva do livro. Solo fértil,
a possibilidade de renascer, é bem vinda em solo encharcado pela água, como em
“Da terra que renasço
Solo que me fez
Me refaça!
Como a mãe preta que amacia
a argila
Remolde!
Revista meu coração com
paredes de aço
Pra que nenhum abraço me
cegue
Os retoques
Que sejam nas águas sagradas
Me banhe, me rega (...)”
O mar se destaca em
“Se um dia eu cantar pra o
mar
Se um dia eu cantar pra ti,
mar
Será de encontro ao fundo
Só pra sentir teu verdadeiro
sabor
Irei cantando
Sendo doce minha partida
Sendo salgada minhas
lágrimas
E não as tuas águas de morte
Aquelas
Que cantaram ao
entregarem-se a ti
Colheria flores,
Ofertaria sem esperá-las de
voltar à praia (...)”
Já “Mund’água”, não fosse o
ritmo do poema escrito, bem que os versos poderiam ritmar uma bela ciranda como
“uma dança escorrendo em rios...”
Raquel não é estreante na
literatura. Em 2008, ela publicou o livro “Duas gerações sobreviventes no gueto
– contos, poesias e crônicas” em co-autoria com Soninha Mazo (Elo da Corrente
Edições), além de ter participado de antologias de coletivos e
saraus da cena literária periférica de São Paulo e outras.
Em “Sagrado Sopro”, os poemas
de Raquel Almeida estão banhados da autora. Ao ler cada um deles, lemos também uma
poetisa que “não cessa e não cansa”. O livro parece anunciar o encontro
definitivo da autora com a poesia. Se tens sede, beba da água que aflora de
“Sagrado Sopro”!
Livro: “Sagrado Sopro", 64 páginas
Gênero: Poesia
Autora: Raquel Almeida
Editora: Elo da Corrente Edições, 2014
Contato: rakayakini@gmail.com
Facebook: Raquel Almeida
Sítio: www.elo-da-corrente.blogspot.com.br
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