Em ato do 13 de maio, Movimento Negro dá recado: a luta não acabou!
Manifestação
reuniu diversas entidades que denunciaram o racismo, pautaram a necessidade das
cotas raciais nas universidades e instituições públicas e a luta contra a
redução da maioridade penal
Por Simone
Freire, de São Paulo (SP)
Cartazes,
bandeiras, palavras de ordem e dezenas de pessoas levaram uma mensagem às ruas
nesta quarta-feira (13), no centro de São Paulo: a luta do negro no Brasil não
acabou após a Lei Áurea, que concedeu liberdade aos escravos em 1888.
O "13 de
Maio de Luta" reuniu entidades do movimento negro, como Uneafro e rede
Emancipa, movimentos como o Levante Popular da Juventude e integrantes da rede
de cursinhos populares, professores e estudantes.
A manifestação
saiu do Largo da Batata, na região oeste da capital, ocupou uma das faixas da
Avenida Rebouças, e se dirigiu para a Universidade de São Paulo (USP). O ato
seguiu pelo interior da universidade até à frente da Faculdade de Economia e
Administração (FEA), onde foi realizada uma assembleia.
Pós-abolição
As falas dos
participantes salientaram que, além do 13 de maio, o 14 de maio, primeiro dia
pós-abolição, foi o mais importante para a luta afrodescente, uma vez que
milhares de negros e negras se viram desamparados pelo Estado e pela sociedade,
precisando buscar formas de sobrevivência e de conquistar seus direitos.
É o que aponta o educador e integrante do Coletivo Literário Perifatividade, Ruivo Lopes.
Segundo ele, o dia 14 de maio já dura mais de cem anos, pois "junto com a
abolição da escravatura não veio a restituição das terras que foram roubadas,
não veio a restituição de todo o trabalho empreendido durante a escravidão no
país, que ajudou a construir toda a sua riqueza. Até hoje esta luta pela
reparação histórica é permanente".
Estatísticas e
episódios rotineiros de racismo comprovam que é negada à população negra as
mesmas condições de vida na sociedade. Para Wagner Tito, do coletivo de
Esquerda Força Ativa, o que o Brasil vive hoje é uma abolição inacabada.
"Ainda
vivemos no 14 de maio porque o Brasil tem uma dívida histórica com o nosso
povo. Não adianta achar que nós somos libertados, livres porque em uma
sociedade escravista, capitalista e machista, nós temos que lutar contra todas
as formas de opressão. E a luta contra o racismo se faz fundamental. Seja você
branco ou negro, independente de etnia, a luta contra o racismo é uma luta de
humanos contra esta doença que não precisa existir", apontou.
Genocídio
Cantando
"Acabou o amor, vai ter cotas na USP, sim senhor", o movimento negro
também levou para às ruas, nesta quarta-feira, a necessidade das cotas raciais
nas universidades e instituições públicas.
Foi este o
principal apontamento feito por Milton Barbosa, um dos fundadores do Movimento
Negro Unificado (MNU), que foi ovacionado pelos manifestantes. "A
universidade pública não pode ser só para brancos e ricos", disse.
A luta pela não
redução da maioridade penal e contra os projetos de ampliar as terceirizações
no país também foram lembradas na marcha, além da denúncia do genocídio da
juventude negra em favelas e periferias das cidades.
Cláudia Silva,
empregada doméstica; Amarildo, ajudante de pedreiro; Douglas (DG), dançarino, e
as centenas de vítimas assassinadas todos os anos pela Polícia Militar, foram
evocados durante todo o trajeto.
"Se bandido
bom é bandido morto, por que Alckmim, Maluf, família Saney, ainda concentram
riqueza e estão vivos?", ironizou uma das integrantes do Levante Popular
da Juventude ao microfone.
Fundado por funcionários, estudantes e professores em 13 de maio de 1987, o Núcleo de Consciência Negra da USP (NCN) também foi parabenizado. Maria José Menezes, coordenadora do NCN, fez questão de lembrar da importância de se resgatar e destruir os estereótipos atribuídos à cultura e tradição dos negros.
"Nós
civilizamos o mundo, somos os pensadores. Nós precisamos nos apoderar desse
conhecimento e mostrar para nossos jovens", disse.
Fotos: Simone Freire
Publicado originalmente em Brasil de Fato.
Fotos: Simone Freire
Publicado originalmente em Brasil de Fato.
Nenhum comentário:
Postar um comentário