quarta-feira, 16 de setembro de 2015
"Líquido estranho", um poema amargo
Líquido estranho
Nas ruas mais pobres da cidade
escorre um líquido estranho
na calçada, sarjeta e terra batida
Se no vento da noite, coagula... Se no calor do dia, resseca
O líquido que jorra de orifícios negros
deixa sua mancha vermelha por onde passa.
Cena débil nas ruas mais pobres da cidade
corpos caídos, olhos semi-abertos e bocas secas
O cheiro de pólvora perfuma o ar
e o odor de carne atingida a queima roupa
sufoca a garganta.
O líquido vermelho mata a sede dos carrascos
e banha em lágrimas o pranto dos aflitos.
Eis um líquido para que o vento coagule
Pra que os urubus observem, pra que a chuva apague
Pra que o sol resseque, pra que o chão suporte
Eis um estranho e amargo líquido.
Ruivo Lopes
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