terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Um desaparecido na boca do povo



O ajudante de pedreiro Amarildo de Souza, 43 anos, foi abordado por policiais militares numa noite de domingo, 14 de julho, na porta de um boteco, na favela da Rocinha, zona sul do Rio de Janeiro, e levado para a sede da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora), que fica na mesma favela. Nunca mais foi visto.
 
No dia anterior, a secretaria de segurança havia dado início a “Operação Paz Armada”, que levou 300 policiais a ocuparem militarmente a Rocinha. Como de costume, os policiais esculacharam a favela. 

O governador Sergio Cabral e o secretário de segurança José Beltrame vinham sendo cada vez mais pressionados pelas manifestações que tomaram as ruas do Rio, marcada pela violência característica das policias cariocas. A arrogância e a indiferença tradicional de ambos fizeram com que o desaparecimento do Amarildo fosse a gota d’água para derramar nas ruas do Rio, do Brasil e do mundo uma violência policial direcionada a pretos, pobres e moradores de favelas.  

Nas manifestações iniciadas em São Paulo, intensificadas nas capitais e que ganhou as ruas de praticamente todo o país, o rosto de um trabalhador preto, pobre e morador de uma das maiores favelas do Brasil, emergia em cartazes que exibiam a pergunta até hoje sem resposta: “Cadê o Amarildo?”.

O décimo segundo filho de uma empregada doméstica e um pescador, o ajudante de pedreiro, magro e de estatura mediana, que ganhou o apelido de boi por carregar sacos de cimento favela acima, era pai de seis filhos e morava  com a mulher num barraco de apenas um cômodo na Rocinha, favela onde nasceu e desapareceu. Sustentava a família com menos de um salário mínimo pelo trabalho e bicos que fazia. Quando Amarildo foi visto com vida pela última vez, sendo levado pelos policiais militares, ele estava sem camisa, vestia bermuda, calçava chinelos e portava documentos.

O nome e o rosto do Amarildo rapidamente viraram palavras de ordem viral nas ruas e nas redes virtuais. Ele teve sua história contada nos principais veículos de comunicação. Amarildo se tornou o desaparecido que virou celebridade pelo avesso, aquela que ninguém deseja, e dividiu o noticiário nacional com o Papa de passagem pelo país. “Cadê o Amarildo?”, foi a pergunta mais repetida do ano e obrigou o governo a apresentar uma meia verdade, já que o corpo continua desaparecido.

Amarildo era um cabra marcado para morrer na mão dos policiais militares. Segundo o depoimento dos próprios policiais, ele foi torturado até a morte ao lado da base da UPP. Vinte e cindo policiais foram denunciados, por ação e omissão, treze foram presos e outros doze ainda respondem em liberdade. Até o momento, ninguém revelou o destino do corpo que continua ocultado pelo manto da violência institucional, uma chaga que ainda marca o país.  

Amarildo é o desaparecido que caiu na boca do povo em 2013. Como toda família de alguém desaparecido, a de Amarildo aguarda o paradeiro do corpo. Se não for esquecido, Amarildo poderá evitar que outros desaparecimentos forçados aconteçam silenciosamente pelo Brasil afora. 

 Amarildo Presente na favela do Moinho (SP)

Encerro a transmissão de 2013 por aqui, renovado por um profundo desejo de paz e justiça pra todo mundo em 2014. O resto é consequência. 

Nos vemos por aí, nas ruas e nas rodas de poesia!

Missão cumprida: rumo a terceira edição do Festival do Filme Anarquista e Punk de SP



Sarau Sangue, Suor e Poesia Libertária na abertura do II Festival do Filme Anarquista e Punk de São Paulo, realizado nos dias 13, 14 e 15 de dezembro, no Centro Anarquista Ação Direta, no Brás, zona leste. Veja os registros de Elaine Campos e fique por dentro de tudo o que aconteceu nos três dias. Nos vemos em 2014, na terceira edição do Festival.
Leia a íntegra da nota da comissão organizadora do Festival aqui: anarcopunk.org/festival 

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Coletivo Malungo lança cd e documentário sobre ensino de história afro-brasileira e africana para escolas de SP


Malungo: não deixe sua cor passar em branco

Taí o zine Malungo do projeto Não deixe sua cor passar em branco, que reuniu em 2013 poetas, repers e músicos comprometidos com o ensino de história da cultura afro-brasileira e africana. No projeto, faço uma participação nos versos e na rima do anarco-reper Avelino Regicida, na faixa Motim. Também fazem compõe o projeto Daniel Fagundes, Robsoul, Apologia Groove, Razallfaya e Semblantes. Em breve, o material será impresso com o nome de Cadernos Africanidades e será acompanhado de cd com músicas e documentário e distribuído em encontros educativos nas escolas públicas de São Paulo. Enquanto isso, curta a página no facebook do Coletivo Malungo e acompanhe as novidades!
Mais informações com Juliano, Kleber ou Lili: malungoprojeto@gmail.com

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

II Festival do Filme Anarquista e Punk de SP: cultura e arte política na contramão da produção do esquecimento!



A ideia continua sendo simples e direta: realizar um Festival dedicado a exibições de filmes, sobretudo documentários, recentes, criados principalmente por anarquistas e punks de várias partes do mundo. Como se isso não bastasse, inclui-se também na programação criações que abordam diversas temáticas sociais sob um olhar crítico e libertário. Círculos de conversa, oficinas, declamação de poemas e exposições artísticas completam a programação.

Herdeiro de uma cultura e arte política libertária comprometida com a classe trabalhadora e com qualquer outro grupo social historicamente marginalizado, excluído e injustiçado pela classe dominante e sua ideologia hegemônica, o Festival é apenas uma pequena amostra de como o audiovisual tem sido uma importante ferramenta de propaganda das idéias, agitações, estéticas e imaginações libertárias. No Brasil e no mundo, pequenas salas, muros, botecos, praças, campos de várzea, becos, vielas, lajes, sob um teto ou ao ar livre, cineclubes fazem exibições, realizam festivais e afirmam a presença anarquista também no contra-cinema comercial.

A maioria dos filmes e documentários que serão exibidos no Festival foi concebida de forma autônoma e independente. Munidos de tecnologia acessível e barata, muitos filmes são frutos do lema faça você também! e nem por isso perdem em qualidade estética. Não são filmes neutros nem filmes óbvios. Embora cada um deles apresente um compromisso com a história de anarquistas e lutadores/as movidos por um profundo desejo de justiça social em momentos e contextos diferentes. Aqui, não vale apenas ter “uma ideia na cabeça e uma câmera na mão”. É preciso ter a coragem de inserir na história e no imaginário social, narrativas, enredos, ações e personagens que a filmografia oficial faz questão de apagar. Neste sentido, o Festival coloca-se na contramão da produção do esquecimento na qual o cinema comercial está comprometido.

A repercussão do primeiro Festival realizado em 2012 foi tão positiva que muitas propostas surgiram antes mesmo de circular as inscrições para esta segunda edição. A quantidade de filmes aumentou depois que as inscrições foram abertas, novamente com produções feitas no Brasil, América Latina e outras partes do mundo. Da primeira para a segunda edição algo que nos chama a atenção é a quantidade de novos proponentes, que não inscreveram filmes no ano anterior e, sendo assim, são estreantes no Festival. Por um lado, o farto material reunido exigiu que a comissão estabelecesse critérios de exibição e organização da programação, e por outro, confirmou que o Festival veio mesmo para ficar!

Para esta segunda edição, o Festival preparou uma programação que vai ocupar três noites e dois dias. Na sexta tem a abertura com declamação de poemas, rap e apresentação das exposições e sábado e domingo tem exibições, círculos de conversas e oficinas, repetindo a edição anterior. Ao todo, serão exibidos 33 filmes, divididos em documentários, animações, vídeo-poesias e experimentais, longas, curtas. Além disso, quatro círculos de conversa, duas oficinas e quatro exposições permanentes. Títulos, sinopses, país de origem e ficha técnica estão disponíveis logo a seguir neste catálogo.

Durante todo o Festival, vai funcionar uma feira de livros anarquistas, libertários e publicações independentes, DVDs, discos, camisetas, acessórios e lanches veganos.

Há mais de um século o anarquismo vem alimentando a possibilidade de um mundo mais justo e igualitário no qual não caiba nenhum tipo de opressão. E há pouco mais de um século acontecia também a primeira exibição pública de um filme. O mundo nunca mais foi o mesmo depois do anarquismo e dos filmes. Ainda não sabemos se é possível um cinema anarquista. Os filmes que serão exibidos neste Festival apontam alguns caminhos. E como a história ainda não chegou ao seu fim, seguimos rumo a estação liberdade!

Do Morro Produções, AnarcoFilmes & Imprensa Marginal
Apoio: Centro Anarquista Ação Direta 


PROGRAMAÇÃO RESUMIDA

SEXTA, 13 DE DEZEMBRO

A partir das 19hs | ABERTURA

* Exibição de curta-metragem panorama do Festival 
 
* Sarau “Sangue, Suor e Poesia Libertária”

 
* Apresentação de Juntas na Luta (rap feminista)


* Abertura das exposições de fotografia de Marina Knup, desenhos de Kika, Nanu Alves e quadros de Juliano Angelin

* * *

SÁBADO, 14 DE DEZEMBRO

A partir das 11:00 | Oficina de produção audiovisual, com Coletivo Rua de Fazer  Inscrições pelo email festival@anarcopunk.org

SALA 1
14:15 | Una parte de la historia del rock y las culturas subterraneas en Tucumán y Argentina
e curta: Harina Acrata

15:30 | Sessão temática: De TIPNIS ao Santuário dos Pajés
17:00 | Rede Extremo Sul + O Muro da Vergonha
18:00 | Com Vandalismo
e curtas (A)Partidários e Anarcovândalos em Townsville
seguido de debate com Ativismo ABC, Biblioteca Terra Livre e Rede Extremo Sul


SALA 2
14:00 | Bibliotecas em Espaços Autônomos: Biblioteca Terra Livre
14:20 | Sessão Guerra Civil Espanhola – seguido de debate com Biblioteca Terra Livre
16:30 | A Voz do Trabalhador Livre: As Judias Anarquistas
17:45 | Squat Pantano Revida – O Filme
20:00 | Exibição do vídeo produzido na oficina de audiovisual, por Coletivo Rua de Fazer

ESPAÇO DE CONVIVÊNCIA
21:00 | Apresentação teatral: Trupe da Lona Preta

* * *

DOMINGO, 15 DE DEZEMBRO

A partir das 11:00 | Oficina de Câmera Pinhole com Renato (Coletivo Cultive Resistência) Inscrições pelo email festival@anarcopunk.org
* é necessário levar filme fotográfico

SALA 1
14:00 | Dos Canibais
15:00 | I Ruas de Fazer – Jardim Bandeirantes, Começou a Luta
e curtas: CICAS e Janela

16:00 | ESTRÉIA | 4F – Nem Esquecimento, Nem Perdão
18:10 | Conspirando Gritos Libertários
e curtas: Carne Perro e Caracas en Moto

19:20 | Beyond The Screams
e curta: Educatio, Omnis


SALA 2
14:30 | Sessão Encontro Ciclovida
Seguido de conversa com Coletivo Sem Nome

16:30 | Caminhada Anarcológica JF e Aos Berros: Movimento Punk em Juíz de Fora
18:00 | Feminismo Negro Contado em Primeira Pessoa
e curta: Negra Lésbica
Seguido de debate com Do Morro Produções, realizadoras e participantes dos filmes

Confira a programação detalhada aqui: http://issuu.com/anarcopunkorg/docs/catalogo_baixa?e=0
Maiores informações: www.anarcopunk.org

Agendaí 
Festival do Filme Anarquista e Punk de São Paulo
Dias 13, 14 e 15 (sexta, sábado e domingo), no Centro Anarquista Ação Direta 
Rua Dr. Almeida Lima, nº 434, ao lado da estação Brás do trem, zona leste de SP 

Veja como é fácil chegar: 


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