quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

Ruas fez a coisa certa


Ruas fez a coisa certa
 
A prisão dos dois jovens de 21 e 26 anos que espancaram até a morte o ambulante Luiz Carlos Ruas, conhecido como Índio, de 54 anos, dentro da estação de metrô Pedro II, onde trabalhava há 20 anos, na região central de São Paulo, é a primeira parte do rito processual que enfrentarão daqui pra frente. Se condenados, poderão pegar até 20 anos de prisão, ambos darão adeus à juventude e carregarão para sempre a morte covarde que promoveram em pleno feriado de Natal. Não será pouco para ambos e suas famílias. Impagável para Ruas, sua família e amigos. Mortes banais e covardes como a de Ruas devem ser motivo de reflexão sobre o modelo de sociedade que temos e vivemos. Para não cairmos na mais grotesca indiferença em relação ao outro, devemos combater as barbáries cotidianas que marcam nossas cidades. Não permitir que mortes como a Ruas sejam naturalizadas é uma das formas de combater a barbárie.

Foi o que fez Ruas ao defender duas travestis em situação de rua que estavam sendo agredidas por dois jovens. Desesperadas, as duas travestis correram para dentro da estação de metrô. Ruas também tentou se proteger na mesma estação, mas não teve a mesma sorte. Foi perseguido e brutalmente espancado até a morte pelos dois jovens. Ruas foi morto com golpes desferidos seqüencialmente pelas mãos e pés, atingido principalmente na cabeça e rosto, mesmo depois de caído, desmaiado e sem nenhuma chance de defesa.

Certamente a brutalidade com que espancaram Ruas pesará contra os dois jovens no processo que sofrerão. Processos como este passam para a sociedade a sensação de justiça. Mas pouco contribui para que a sociedade reflita as violências cotidianas contra sua própria população, principalmente as mais vulneráveis, como as pessoas em situação de rua, ou aquelas que são alvos preferenciais de ataques de ódio, racismo, machismo e LGBTfobia. Também não contribui para a sociedade compreender e combater o que gera tamanha violência.

A justiça não deve ser limitada apenas as formalidades dos devidos processos judiciais. A justiça, ou seja, o direito de cada pessoa existir com plena dignidade, deve ser um valor compartilhado por toda a sociedade de modo que o ataque a dignidade alheia é um ataque a toda coletividade. Portanto, justiça e solidariedade são os maiores bens a serem preservados por qualquer sociedade que não queira sucumbir à barbárie.

Já dentro da estação de metrô, as câmeras de segurança registraram o espancamento de Ruas. No registro exibido posteriormente nas redes de televisão, enquanto Ruas era espancado até a morte, é possível ver várias pessoas transitando pelo local. Todas passam pelo espaço, até olham para a cena do espancamento, poucos param a distância, mas ninguém intervém. Tampouco havia seguranças de responsabilidade do metrô no local. O socorro chegou uma depois de o espancamento ter acontecido. Ainda assim, chama atenção que ninguém interveio para que os dois jovens parassem de espancar Ruas.

Com a repercussão dada pela televisão, certamente quem passou por ali no instante do espancamento tomou conhecimento do que de fato aconteceu e que aquele senhor caído no chão, desmaiado, sendo espancado, foi morto ali mesmo pelos dois jovens, até então desconhecidos. Como ficam suas consciências quando perguntado se acaso tivessem intervindo?

Ruas interveio. Não ficou indiferente diante do ataque sofrido pelas duas travestis na rua. Assim, não permitiu que fizessem com as outras pessoas aquilo que não queria para si nem ninguém. Pagou com a própria vida. Ruas não pode ser esquecido. Ele nos deixa o legado de que diante da injustiça, não se pode ter dúvidas, é melhor agir para impedir que ela continue acontecendo. Pessoas como Ruas fazem permanente a luta em defesa dos direitos humanos. Com simplicidade, Ruas fez a coisa certa!

quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

Fanzines nas zonas de Sampa

Se ligaí! | Neste sábado (10), às 14h, na Biblioteca Infantojuvenil Monteiro Lobato (Rua General Jardim, nº 485, Vila Buarque, região central de SP), acontece o encontro de finalização do circuito anual Fanzines nas Zonas de Sampa com a participação de Márcio Sno, quadrinista e fanzineiro há mais de 20 anos, editou diversos zines e fez ilustrações para bandas e publicações. Entre 2011 e 2013 lançou três capítulos da série de documentários "Fanzineiros do Século Passado". Participe!