Para ensinar pescadores a ler e escrever, o governo brasileiro decidiu adotar uma iniciativa de combate ao alfabetismo utilizada por Cuba. Criado no final da década de 1990, o programa cubano Sim, eu posso (ou Yo, sí puedo), promete alfabetizar uma pessoa com 65 aulas em vídeo que nas regiões brasileiras são adequadas ao tempo disponível dos alunos. As aulas acontecem no período de defeso, em que a pesca é proibida e que dura em média três meses. Depois, seguem com os Círculos de Cultura, com objetivo de consolidar o aprendizado. Para implantar o método, já utilizado pelo MST (Movimento dos Trabalhadores Sem Terra), técnicos cubanos foram enviados aos cinco Estados onde o projeto está sendo implementado - Santa Catarina, Bahia, Mato Grosso, Pará e Rio - com o nome de Pescando Letras, pelo Ministério da Pesca e Aquicultura. Em 2005, uma versão piloto do projeto foi realizada no Piauí pelo Ministério da Educação. A saída do aluno do estágio mais primário do analfabetismo é importante e pode levá-lo a leitura, escrita e interpretação de textos se continuado o processo de alfabetização.
Moacir Gadotti, professor da Faculdade de Educação da USP e diretor do Instituto Paulo Freire, defende que as políticas de combate ao analfabetismo devem ser articuladas no marco da aprendizagem ao longo de toda a vida. Sem políticas estruturantes de longo prazo, intersetoriais e integrais, não conseguiremos eliminar o analfabetismo. Além disso, destaca, o método cubano se utiliza de cartilhas e é marcadamente instrucionista.
O professor da FEUSP considera que como um instrumento inicial de promoção da alfabetização, ele pode ter efeitos positivos. Contudo, sem uma continuidade, esse método, a médio prazo, perde a eficácia inicial. As campanhas gerais tendem a desconsiderar os diferentes contextos regionais e a diversidade cultural dos aprendizes. A utilização de novas tecnologias não deve quebrar a relação pedagógica. E completa: nada substitui o alfabetizador!
Gadotti lembra ainda que a alfabetização é multifacetada. Existem várias alfabetizações: digital, cívica, ecológica, política... O combate ao analfabetismo não se reduz à política de escolha de um método. A educação de adultos, a começar pela alfabetização, é um direito que deve ser garantido a todos e com qualidade.
[Foto: Ruivo Lopes | Salvador (BA), janeiro de 2010]
