domingo, 23 de setembro de 2012

São Paulo: a cidade partida que só interessa à elite

O urbanista de SP é o capital
 
A região central de São Paulo não deve ser nem melhor nem pior do que qualquer outra região da cidade. A histórica concentração política e econômica na região fez com que o centro se afastasse cada vez mais das diferentes realidades da cidade. A história é uma velha conhecida e não é muito diferente de outros grandes centros urbanos do Brasil.
Durante anos, o centro foi se isolando da cidade. O acelerado processo de urbanização promovido pela elite branca paulistana privilegiou a região outrora habitada por famílias patrimoniais que detinham o poder político e econômico e os usavam para favorecer sua confortável permanência na região.
Os negros e os mais pobres que também moravam na região eram os que movimentavam o cotidiano e a econômica informal da época (vendedores ambulantes, engraxates, carregadores, empregadas domésticas, e toda sorte de serviços, etc.), foram sendo expulsos ao longo do processo de urbanização e sem alternativa foram habitar e ocupar outras regiões mais afastadas do centro onde não pagariam ou pagariam pouco para morar. Porém eles ficariam a margem da infra-estrutura de que já dispunha o centro e em alguns casos a margem até da própria cidade. Este processo de urbanização também é permeado pelo racismo, discriminação e preconceito das elites paulistanas em relação à população, denunciado em conhecidos sambas de negros perseguidos e presos pela repressão policial.
 
Gente diferenciada: vale + o interesse da elite ou a necessidade do povo?
 

A situação piorou quando a elite paulistana a partir de meados do século XX não contente com sua concentração política e econômica em São Paulo aventurou-se na concentração política e econômica da região sudeste do país e também assumir para si a arrogância de querer ser a "locomotiva" chefe do Brasil. São conhecidas até hoje sua disputa política e econômica na região com as elites de Minas Gerais e Rio de Janeiro e o preconceito da elite paulistana com o Nordeste brasileiro e seu povo, por exemplo.
A concentração de dinheiro na cidade de São Paulo não significou oportunidade para os mais pobres daqui e vindos de outras partes do país, responsáveis pelo trabalho que fez de São Paulo a cidade que ela é hoje.
Acontece que a elite paulistana sempre foi adepta de um egoísmo descartável e logo foi abandonando alguns bairros da região central e mudando-se para outros bairros onde moradia e infra-estrutura pudesse ser uma exclusividade sua, fazendo do espaço da cidade uma porção de mercadoria muito cara.  Exclusividade é marca característica da elite paulistana.
Com isso, os mais pobres voltaram a morar na porção abandonada pela elite numa condição de completo abandono e fazendo uso de uma infra-estrutura já defasada sem nenhuma adequação ou interesse por parte do poder público. São conhecidos os casarões que neste momento se tornaram abrigo para muitas famílias, também conhecidos como cortiços, muitos existentes até hoje.
 
O comodismo é um mal parasitário
 

A cartilha mudou, mas a história é a mesma. Hoje a região central é um espaço em disputa permanente onde os mais pobres estão novamente sendo expulsos pela elite paulistana detentora do poder político e econômico que domina a cidade. Essa elite tem novas caras, siglas e logomarcas, mas é a mesma. Ela foi forjada na ideia de que a cidade é partida de forma desigual e assim deve ser tratada. Ela promove uma orgia sem precedentes entre o interesse público e o privado. Embora na região central sempre houvesse desigualdades, pobreza e precariedades entre seus habitantes, foi a elite paulistana que criou a ideia de centro como espaço dotado de exclusividade, deixando a periferia a margem durante anos. Hoje, a elite paulistana quer também a periferia. Como não perdeu o vício, ela pretende descartá-la depois de usá-la. Se isso acontecer, ano que vem nem o centro estará na periferia, nem a periferia estará no centro. A cidade continuará partida e sofrendo graves conseqüências do aprofundamento das desigualdades. 
 
[Fotos: Ruivo Lopes]

Nenhum comentário: