domingo, 7 de junho de 2015

Movimento Negro dá recado: a luta não acabou!

Brasil de Fato, 14/05/2015

Em ato do 13 de maio, Movimento Negro dá recado: a luta não acabou!

Manifestação reuniu diversas entidades que denunciaram o racismo, pautaram a necessidade das cotas raciais nas universidades e instituições públicas e a luta contra a redução da maioridade penal

Por Simone Freire, de São Paulo (SP)

Cartazes, bandeiras, palavras de ordem e dezenas de pessoas levaram uma mensagem às ruas nesta quarta-feira (13), no centro de São Paulo: a luta do negro no Brasil não acabou após a Lei Áurea, que concedeu liberdade aos escravos em 1888.

O "13 de Maio de Luta" reuniu entidades do movimento negro, como Uneafro e rede Emancipa, movimentos como o Levante Popular da Juventude e integrantes da rede de cursinhos populares, professores e estudantes.

A manifestação saiu do Largo da Batata, na região oeste da capital, ocupou uma das faixas da Avenida Rebouças, e se dirigiu para a Universidade de São Paulo (USP). O ato seguiu pelo interior da universidade até à frente da Faculdade de Economia e Administração (FEA), onde foi realizada uma assembleia.

Pós-abolição

As falas dos participantes salientaram que, além do 13 de maio, o 14 de maio, primeiro dia pós-abolição, foi o mais importante para a luta afrodescente, uma vez que milhares de negros e negras se viram desamparados pelo Estado e pela sociedade, precisando buscar formas de sobrevivência e de conquistar seus direitos.

É o que aponta o educador e integrante do Coletivo Literário Perifatividade, Ruivo Lopes. Segundo ele, o dia 14 de maio já dura mais de cem anos, pois "junto com a abolição da escravatura não veio a restituição das terras que foram roubadas, não veio a restituição de todo o trabalho empreendido durante a escravidão no país, que ajudou a construir toda a sua riqueza. Até hoje esta luta pela reparação histórica é permanente".


Estatísticas e episódios rotineiros de racismo comprovam que é negada à população negra as mesmas condições de vida na sociedade. Para Wagner Tito, do coletivo de Esquerda Força Ativa, o que o Brasil vive hoje é uma abolição inacabada.

"Ainda vivemos no 14 de maio porque o Brasil tem uma dívida histórica com o nosso povo. Não adianta achar que nós somos libertados, livres porque em uma sociedade escravista, capitalista e machista, nós temos que lutar contra todas as formas de opressão. E a luta contra o racismo se faz fundamental. Seja você branco ou negro, independente de etnia, a luta contra o racismo é uma luta de humanos contra esta doença que não precisa existir", apontou.

Genocídio

Cantando "Acabou o amor, vai ter cotas na USP, sim senhor", o movimento negro também levou para às ruas, nesta quarta-feira, a necessidade das cotas raciais nas universidades e instituições públicas. 

Foi este o principal apontamento feito por Milton Barbosa, um dos fundadores do Movimento Negro Unificado (MNU), que foi ovacionado pelos manifestantes. "A universidade pública não pode ser só para brancos e ricos", disse.

A luta pela não redução da maioridade penal e contra os projetos de ampliar as terceirizações no país também foram lembradas na marcha, além da denúncia do genocídio da juventude negra em favelas e periferias das cidades.

Cláudia Silva, empregada doméstica; Amarildo, ajudante de pedreiro; Douglas (DG), dançarino, e as centenas de vítimas assassinadas todos os anos pela Polícia Militar, foram evocados durante todo o trajeto.
 

"Se bandido bom é bandido morto, por que Alckmim, Maluf, família Saney, ainda concentram riqueza e estão vivos?", ironizou uma das integrantes do Levante Popular da Juventude ao microfone.

Fundado por funcionários, estudantes e professores em 13 de maio de 1987, o Núcleo de Consciência Negra da USP (NCN) também foi parabenizado. Maria José Menezes, coordenadora do NCN, fez questão de lembrar da importância de se resgatar e destruir os estereótipos atribuídos à cultura e tradição dos negros.

"Nós civilizamos o mundo, somos os pensadores. Nós precisamos nos apoderar desse conhecimento e mostrar para nossos jovens", disse. 

Fotos: Simone Freire

Publicado originalmente em Brasil de Fato

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