segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

Abrimos caminhos para uma São Paulo melhor


Abrimos caminhos para uma São Paulo melhor

Entre os anos de 2014 e 2015, participei do Grupo de Trabalho que elaborou o Plano Municipal do Livro, Leitura, Literatura e Bibliotecas de São Paulo. Formado por representantes da sociedade civil, especialistas, do Executivo e Legislativo municipais, o GT foi responsável por elaborar o primeiro Plano desta natureza na cidade de São Paulo. Depois de elaborado, o PMLLLB foi instituído pela Lei nº 16.333, na Câmara Municipal, pelo vereador Antonio Donato (PT), e sancionado pelo prefeito Fernando Haddad (PT) em dezembro de 2015. De responsabilidade executiva da Secretaria Municipal de Cultura e da Secretaria Municipal de Educação, o PMLLLB foi elaborado em um processo participativo, democrático e popular.

Dos princípios fundamentais do PMLLLB que definimos, destaco: “o reconhecimento à leitura como direito humano, a compreensão de sua natureza formativa e o incentivo à imaginação, à criação e à educação literária”; “o estímulo à bibliodiversidade, em todas as suas formas”; “a defesa e a promoção da diversidade cultural, de gênero, étnico-racial, política e de pensamento”; “o reconhecimento às tradições escritas e orais”; e finalmente, “a leitura e a escrita como meios fundamentais de produção, reflexão e difusão da cultura, da informação e do conhecimento”.

Princípios que orientam os objetivos do PMLLLB, dos quais destaco: “tornar São Paulo uma cidade leitora de expressiva produção literária, com políticas concretas e equipamentos condizentes e presentes em todas as regiões”; e “promover e fomentar a literatura não-hegemônica, a literatura marginal periférica e a literatura de mulheres, negros e LGBT”.

Para assegurar que os programas, projetos, aprimoramentos, ações, iniciativas e investimentos nas áreas específicas do PMLLLB se tornassem realidade, inserimos na Lei um conjunto de metas de curto, médio e longo prazo nos seguintes eixos que estruturam o Plano: “democratização do acesso”; “fomento à leitura e à formação de mediadores”; “valorização institucional da leitura e incremento de seu valor simbólico”; “desenvolvimento da economia do livro”; e por fim, “literatura”.

Pois bem, em 2016, fui convidado para coordenar a Divisão de Programação Cultural do Sistema Municipal de Bibliotecas (SMB) de São Paulo. Aceitei o convite porque, comprometido com os princípios, objetivos e metas do PMLLLB, eu poderia contribuir para que a programação cultural do SMB, o maior da América Latina com unidades e serviços presentes em todas as regiões da Cidade, pudesse expressar o que havíamos previsto no Plano, agora, não mais como ações isoladas, mas articuladas como política pública para potencializar ações nas áreas do livro, leitura, literatura e bibliotecas em São Paulo.

Para orientar meu trabalho, recebi da coordenação do SMB diretrizes que foram inspiradas pelo PMLLLB, das quais destaco:

“O eixo norteador das ações em 2016 será o da mediação de leituras. Pode ser leitura do mundo como dizia Paulo Freire ou de leitura literária como a promovida pela Coordenadoria do Sistema Municipal de Bibliotecas (CSMB) ao longo dos últimos anos. (...) Deve propiciar a construção e a reelaboração de significados, a reflexão e a inclusão, a formação de sujeitos críticos, a troca de experiências e o convívio social.”;

“É fundamental a aproximação da Biblioteca com seu território refletida na formação, no desenvolvimento do acervo, na democratização do acesso, na oferta de programação e no trabalho em rede com outros espaços de leitura e de manifestações culturais.”;

E por fim:

“As ações devem sempre considerar que a CSMB integra uma rede de instituições públicas culturais, educacionais, de direitos humanos, etc que podem e devem ser parceiras e empoderadoras de nossos objetivos.”

Tendo como base o PMLLLB e as diretrizes de trabalho do SMB para 2016, coordenei a Divisão de Programação Cultural amparado no tripé “Territorialização da programação cultural”; “Promoção da diversidade cultural” e “Formação cultural”.

Foi baseado neste tripé que a Divisão de Programação Cultural do SMB planejou e investiu os recursos reservados a programação cultural das bibliotecas públicas municipais. Vou apresentar alguns destaques da programação cultural promovida pela Divisão.

Começo pelo investimento na iniciativa Bibliotecas em Ação, programações definidas pelas próprias bibliotecas e articuladas com artistas locais, que em 2016 mais que triplicou.

Além das apresentações nas bibliotecas, os 22 saraus que participam do programa “Literatura Periférica: Veia e Ventania nas bibliotecas de São Paulo”, também se apresentaram todos os dias na 24ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo, em parceria com a Secretaria Municipal de Educação.

Com presença negra, indígena e de mulheres, foi realizada a 12ª edição do Festival “A arte de contar histórias”, 11ª edição do Fanzines nas Zonas de Sampa e mais uma edição do Agosto Caipira, dedicada a cultura popular paulista.

Foram realizadas também dezenas de cursos, oficinas e outras programações culturais de caráter formativo, como o curso de Contadores de Histórias, os encontros com autores em parceria com a editora Boitempo e os encontros promovidos pelo coletivo “Terça Afro” e o “Contextura Negra”, ambos dedicados a produção cultural africana, afro-brasileira e negra, também tiveram espaço na programação cultural das bibliotecas.

Fomos parceiros de importantes iniciativas dedicadas ao livro, leitura e literatura na Cidade e que realizamos nas bibliotecas, das quais destaco a 2ª FELIZS (Feira Literária da Zona Sul), organizada pelo Sarau do Binho; a 2ª FLICT (Festa Literária de Cidade Tiradentes), organizado pelo Centro de Formação Cultural de Cidade Tiradentes e em colaboração com a Biblioteca Comunitária Solano Trindade; o 7º Festival do Livro e Literatura de São Miguel Paulista, organizado pela Fundação Tide Setubal; da 11ª Balada Literária; 6ª Estéticas das Periferias, organizado pela Ação Educativa; edição “Livro” do Festival do Minuto, etc.

Dezenas de outras programações foram realizadas pelas próprias equipes do SMB, e outras tantas programações foram realizadas em incríveis parcerias com escritores/as que promoveram encontros literários nas bibliotecas públicas municipais.

Além disso, assinamos compromissos com os mais diversos coletivos culturais de São Paulo para, caso fossem aprovados em editais públicos de fomento, realizassem ações de natureza artística nas bibliotecas públicas municipais em 2017. Dentre elas, uma iniciativa incrível de contação de histórias que promove a diversidade LGBT. 

Em resumo, a Divisão de Programação Cultural do SMB promoveu a distribuição da programação cultural considerando os mais diversos territórios da Cidade onde há bibliotecas e serviços vinculados como Pontos de Leitura e Bosques de Leitura, promovendo a diversidade cultural e estimulando a formação cultural de público. Não tivemos tempo para fazer tudo o que queríamos, mas também não foi pouco o que fizemos!

Abrimos caminhos, criamos as condições necessárias para uma Cidade leitora. O mais importante é que São Paulo conta hoje com uma política pública consistente e exclusiva para o livro, leitura, literatura e bibliotecas. Na Divisão de Programação Cultural do SMB da Secretaria Municipal de Cultura da Prefeitura de São Paulo, experimentamos, ousamos e vencemos inúmeros desafios. Não tenho dúvida, sendo parte da gestão pública municipal, dedicado ao bem público como sendo bem comum, fizemos de São Paulo uma Cidade melhor!

Agradeço ao Waltemir Nalles, o Miro, então coordenador do SMB, pelo convite, confiança e apoio necessário para que o trabalho da Divisão de Programação Cultural fosse realizado como havíamos desejado. Agradecimento que estendo a equipe que compõe a Coordenadoria do Sistema Municipal de Bibliotecas. Agradeço especialmente a equipe que coordenei na Divisão, sem a qual eu não teria o que dizer nesta carta. Agradeço a Maria do Rosário, por ter permitido meu ingresso na Secretaria Municipal de Cultura. Agradecimento que estendo a sua equipe na SMC. Agradeço também ao Fernando Haddad por permitir minha segunda contribuição em sua inovadora gestão pública. Em 2013, iniciamos na Cidade o que viria a ser a política de participação social. Haddad abriu caminhos, derrotou a Cidade proibida e criou as condições necessárias para uma São Paulo melhor!

Deixo a coordenação da Divisão de Programação Cultural do SMB, com a certeza de que “sou mais bibliotecas públicas”!

São Paulo, 02 de janeiro de 2017.

Ruivo Lopes, educador e pedagogo.

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