domingo, 8 de janeiro de 2017

Ode ao massacre é parte do golpe

Jovens e negros são maioria da população carcerária brasileira

Em relação aos dados sobre cor/raça verificou-se que, em todo o período analisado (2005 a 2012), existiram mais negros presos no Brasil do que brancos.

Após o presidente Michel Temer ter chamado de "acidente" o massacre que já deixou mais de 90 pessoas presas mortas nos presídios do norte do país, foi a vez do secretario nacional de Juventude - a quem prefiro não mencionar o nome para que retorne as profundezas da insignificância e do anonimato - fazer elogios a matança e lamentar por não acontecer "uma chacina por semana". 

As declarações de representantes do governo não deixam dúvidas sobre a responsabilidade do Estado em mais este episódio lamentável de grave violação dos direitos humanos no Brasil. 

Ao referir-se ao massacre como "acidente", Temer assume, como em qualquer acidente, a possibilidade de evitá-lo por meio da prevenção. Uma vez ocorrido, cabe identificar os responsáveis pelas imprudências - no caso omissões - cometidas e responsabilizá-los, neste caso autoridades brasileiras, inclusive chefes de estado. 

Já sobre o agora ex-secretário de Juventude, que é filho de policial militar com carreira política no PMDB-MG, sua apologia ao massacre pode ser compreendida no âmbito de um governo que assumiu o poder por meio de golpe. 

Cabe destacar que a Secretaria Nacional de Juventude foi criada em 2005, pelo então presidente Lula, com objetivo de defender direitos da população jovem brasileira e criar políticas públicas que garantam seu desenvolvimento, inclusão e dignidade. 

Como se já não bastassem as declarações de Temer e seu ex-secretário nacional de Juventude, o ministro da casa civil, Eliseu Padilha, disse que o então secretário de Juventude "falou sobre um assunto que não era da área dele". 

O ministro está equivocado. Em 2015, a Secretaria Nacional de Juventude publicou um estudo inédito intitulado “Mapa do Encarceramento – Os jovens do Brasil”, uma publicação que faz parte do Plano Juventude Viva e traz um diagnóstico sobre o perfil da população carcerária no país. 

Realizado em parceria com a Secretaria-Geral da Presidência da República, da então Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR) e Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) no Brasil, o estudo analisou dados do Sistema Integrado de Informação Penitenciária (InfoPen), e constatou que os jovens representavam 54,8% da população carcerária brasileira. 

Em relação aos dados sobre cor/raça verificou-se que, em todo o período analisado (2005 a 2012), existiram mais negros presos no Brasil do que brancos. 

Em números absolutos: em 2005 havia 92.052 negros presos e 62.569 brancos, ou seja, considerando-se a parcela da população carcerária para a qual havia informação sobre cor disponível, 58,4% era negra.

Já em 2012 havia 292.242 negros presos e 175.536 brancos, ou seja, 60,8% da população prisional era negra. 

O estudo concluiu que quanto mais cresce a população prisional no país, mais cresce o número de negros encarcerados. 

O relatório, ainda disponível na página oficial da secretaria, pode ser acessado na integra aqui: https://goo.gl/O1ZuGl!

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