segunda-feira, 1 de abril de 2013

Teatro em dois tempos: Siré Obá e Morro como um País


Cia Teatro Nata exige respeito
para as religiões de matriz africanas
 
Na última sexta-feira (29), em pleno feriado cristão (Sexta-Feira Santa), aproveitei a folga e fui assistir a peça Siré Obá - A Festa do Rei, apresentada pela Cia de Teatro Nata, de Alagoinhas (BA). A peça encerrou a mostra Nova Dramarturgia da Melanina Acentuada que teve toda a sua programação sediada no Teatro Arena. A abertura da peça começou com um cortejo que saiu de dentro do teatro para a rua e pegou todo mundo que estava assistindo pela primeira vez de surpresa. Do ponto em que eu estava, uma cena única acontecia. Enquanto o cortejo entoava seu canto em exaltação aos orixás, a poucos metros dali, uma procissão de fiéis podia também ser vista se dirigindo para a igreja da Consolação entoando ladainhas católicas. Poucos minutos depois, o cortejo levou todo mundo que aguardava do lado de fora do teatro para o interior do Arena. A procissão levou os fiéis para o interior da igreja. A apresentação do Siré Obá tranformou o Arena num terreiro onde os orixas eram apresentados e porque não, no rito do teatro, fizeram ali também a sua festa. Religiosidade e arte afro-brasileira em cena. A Cia Teatro Nata envolvida pelo clima de posicionamento que marca o Arena exigiu o merecido respeito para as religiões de matriz africana, dizendo também alto e bom som: Feliciano não nos representa!

Kiwi Cia. de Teatro encena e debate ditaduras
 
No domingo (31), quando cristãos do mundo todo comemoravam a Páscoa, fui novamente ao teatro, dessa vez assistir a peça Morro como um país, da Kiwi Cia de Teatro, ainda em cartaz no Teatro Grande Otelo (SP). Presentes ali, diferentes gerações de ativistas sociais interessados na ressurreição da memória coletiva de um país que teve seu mais longo 31 de março da história. Foram 21 anos de ditadura militar, iniciada em 1964. Fazem, portanto, 49 anos do golpe que interrompeu não só a vida de inúmeras pessoas, mas também a vida política do país tocada, apartir dalí, a botinada e pau de arara. Parece que foi ontem, como a narrativa e os vários recursos usados na apresentação da peça parecem apontar. Estava combinado que depois da apresentação da peça aconteceria um debate para o qual foram convidados estudantes que representaram a Comissão da Verdade da USP (Campus Butantã e Largo São Francisco), Amélia Teles (Comissão Estadual da Verdade) e Ivan Seixas (Presidente do Condepe-Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana), ambos perseguidos, presos e torturados pela ditadura militar brasileira (1964-1985). Aqui está um teatro que não apenas expõe o problema, mas convida a quem está diante dele a refletir e também se posicionar. O debate durou quase o mesmo tempo da apresentação da peça, índicio de interesse geral no que a arte ainda tem a nos dizer sobre a vida, a história e também o futuro.

Na ocasião, compartilhei com quem estava presente que o ranço autoritário da ditadura militar encontrou acento seguro na democracia. É possível observar isso, por exemplo, no tripé: Polícia Militar, Poder Judiciário e Meios de comunicação dominante.

Explico:

Adolescente perde a visão em
ação da Polícia Militar em Paraisópolis

Justiça Federal concede reintegração do Museu do Índio,
na ocasião ocupado pela Aldeia Maracanã (RJ)
 
 
Jornalista Luiz Carlos Azenha,
processado por criticar diretor da Globo
 
O jornalista Luiz Carlos Azenha, editor do Viomundo, blog onde você lê notícias que não são destaque na impresa dominante, foi  processado por Ali Kamel, direitor da Central Globo de Jornalismo. A Justiça carioca condenou Azenha a pagar 30 mil reais a Kamel. O crime do blogueiro foi ter criticado o todo poderoso Kamel pela postura adotada pela Globo na cobertura da campanha presidencial de 2006. A sentença abalou o blogueiro, mas ele tá vivo, como uma fenix!
 
É tempo de exorcizar de uma vez por todas a herança maldita deixada pela ditadura militar. A memória histórica de um país deve ser erguida em condição de verdade e nela se buscar a justiça, sem exceção. Taí, um bom começo!

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